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O Parque Estadual do Rio Doce (PERD) convidou a equipe do Projeto Árvores do Rio Doce para participar do V Seminário de Pesquisa do PERD, realizado entre os dias 21 e 23 de outubro de 2025.
O evento foi um importante espaço de encontro entre pesquisadores, gestores e instituições parceiras, voltado à discussão dos estudos científicos que vêm sendo desenvolvidos na unidade de conservação.
O projeto Árvores do Rio Doce: estudos ecológicos para conhecer e conservar espécies ameaçadas de extinção na Bacia do Rio Doce estuda espécies florísticas ameaçadas da Bacia do Rio Doce, e tem como objetivo principal gerar informações científicas que subsidiem ações de conservação, manejo e restauração florestal na bacia, o que torna os resultados extremamente relevantes para a conservação da biodiversidade local e regional e para o PERD.
Durante o seminário, foram apresentados resultados relativos às respostas das espécies ameaçadas de extinção ao enriquecimento atmosférico de CO2, aumento de temperatura e restrição hídrica considerando cenários atuais e futuros de mudanças climáticas.
As projeções revelam um panorama preocupante: 19 das 26 espécies avaliadas devem perder mais de 75% de suas áreas atualmente adequadas até 2050, sob pelo menos um dos cenários de aquecimento avaliados. Algumas das espécies-alvo apresentaram risco de extinção local, com áreas projetadas próximas a zero até meados do século. Por outro lado, algumas espécies mostraram maior resiliência, indicando manutenção ou expansão de suas áreas adequadas, possivelmente em função de maior plasticidade ecológica ou caráter pioneiro.

Além da modelagem espacial, o projeto também apresentou resultados experimentais sobre o crescimento e a fisiologia de plantas de sete espécies arbóreas nativas ameaçadas, sob condições simuladas de elevação da concentração atmosférica de CO₂, aumento de temperatura e restrição hídrica. Esses experimentos permitem compreender como tais espécies respondem a mudanças ambientais em termos de crescimento, metabolismo, anatomia e funcionamento fisiológico, demonstrando que as mudanças climáticas não afetam significativamente a germinação das sementes, mas provocam impactos expressivos nas fases juvenis, quando alterações na temperatura e na disponibilidade de água podem comprometer o desenvolvimento e a sobrevivência das plantas.
O Projeto Árvores do Rio Doce – Estudos Ecológicos para Conhecer e Conservar Espécies Ameaçadas de Extinção na Bacia do Rio Doce é gerido pelo Fundo Brasileiro para a Biodiversidade – FUNBIO, com financiamento advindo do Projeto Biodiversidade do Rio Doce, e parceria com os pesquisadores da Universidade Federal de Viçosa, Instituto Inhotim e Universidade de Salamanca (Espanha).

A participação no seminário representou uma oportunidade valiosa para compartilhar avanços científicos, fortalecer parcerias institucionais e discutir estratégias para a conservação da flora da região, reafirmando o papel essencial da pesquisa como base para a gestão e o planejamento ambiental.
O Instituto Ekos Brasil participou da mesa “Monitoramento de parcerias: estratégias e desafios no olhar dos parceiros”, durante o IV Seminário Parcerias em Áreas Protegidas, promovido pelo Observatório de Parcerias em Áreas Protegidas (OPAP)
Representados pela Jéssica Fernandes, coordenadora do Programa Peruaçu, apresentamos a experiência de atuação na APA e no Parque Nacional Cavernas do Peruaçu, destacando como a parceria com o Instituto Chico Mendes de Conservacao da Biodiversidade (ICMBio) contribui para o fortalecimento do uso público, a conservação e o desenvolvimento territorial.
Levar o Peruaçu e o Cerrado ao centro das discussões sobre sobre áreas protegidas reforça nosso compromisso com a conservação da biodiversidade e a valorização dos territórios.

O maior congresso do mundo sobre conservação da natureza começa esta semana, em Abu Dhabi. Realizado pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês), o evento acontece de 9 a 16 de outubro e reunirá tomadores de decisão dos setores público e privado, organizações da sociedade civil, povos indígenas e representantes do meio acadêmico, com o objetivo de avançar em agendas importantes para o desenvolvimento sustentável nos próximos anos.
O Instituto Ekos Brasil, organização membro da IUCN, também estará presente, representado por sua Diretora de Relações Institucionais, Maria Cecília Wey de Brito (Ciça Wey). Ciça, que atualmente preside o Comitê Brasileiro de Membros, está cotada para compor o Conselho Mundial da IUCN, representando a América do Sul. A eleição ocorrerá durante o Congresso, e os membros eleitos exercerão mandatos de quatro anos.
Ciça participará de oito painéis, sendo quatro deles realizados no Pavilhão Brasil. No primeiro, a experiência do Instituto Ekos Brasil será apresentada como uma das contribuições das organizações não governamentais brasileiras para o enfrentamento dos eventos climáticos extremos e da crise da biodiversidade.
“Outra presença marcante do Ekos acontecerá no painel sobre parcerias público-privadas, no qual apresentaremos os cases do Parna Peruaçu e do Parque Estadual do Rio Doce como bons exemplos de gestão de áreas naturais”
destacou Ciça.
Os demais painéis com participação do Ekos abordarão temas como a biodiversidade na América Latina, remoção de carbono e economia da floresta, além de um painel específico sobre a COP 30, entre outros.
Todos os detalhes e a programação completa do evento podem ser conferidos em: https://iucncongress2025.org/
No dia 27 de setembro, celebramos o Dia Mundial do Turismo, e neste ano, temos motivos especiais para festejar: além dos 26 anos do Parque, o Cânion do Peruaçu, localizado no interior do PARNA Cavernas do Peruaçu, foi oficialmente reconhecido como Patrimônio Mundial Natural pela UNESCO em 13 de julho de 2025!



Este reconhecimento de prestígio vai muito além de reconhecer a beleza cênica, a geologia e a importância cultural do nosso cânion. Ele é também um motor de turismo sustentável, mostrando que biodiversidade e áreas verdes geram renda quando valorizadas e visitadas de forma ordenada.

Com o reconhecimento da UNESCO, o PARNA Cavernas do Peruaçu ganha visibilidade global e poderá atrair visitantes do mundo todo, fortalecendo o turismo local e criando oportunidades para as comunidades locais e reginais.
A exemplo disso, em 2024, 3 dos 10 parques nacionais mais visitados do Brasil já possuíam este selo, prova do seu poder de atração:
• 2º Parque Nacional do Iguaçu
• 5º Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha
• 6º Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses
O turismo em áreas protegidas é conservação que gera desenvolvimento!

Criado em 1999, o PARNA Cavernas do Peruaçu abriu suas portas para visitação oficialmente em 2017, mas desde 2014 já recebia pesquisadores nacionais e internacionais e estudantes das escolas locais. De acordo com gráfico abaixo, é possível observar que o número de visitantes vem aumentando ano a ano (com exceção de 2020 com a pandemia) o que demonstra o potencial turístico da unidade de conservação. Além disso, o aumento de visitantes tem fomentado a economia local, seja na geração de renda dos condutores, comércios locais e serviços hoteleiros. Até o mês de agosto deste ano, o Parque já recebeu mais visitantes que do ano de 2024.

Você sabia que o PNCP não cobra taxa de entrada? As visitações são guiadas por condutores locais credenciados pelo ICMBio. Essa iniciativa não só garante a segurança e a conservação do ambiente, mas também fortalece e fomenta a geração de renda para a comunidade local, promovendo um turismo sustentável e inclusivo.
O parque conta com diversos atrativos turísticos e trilhas com diferentes graus de dificuldade. Além das trilhas você ainda encontra a Exposição Permanente que conta a história do parque e a trilha infantil para os pequeninos. Em breve teremos novos atrativos de aventura!

Além das trilhas você ainda encontra a Exposição Permanente que conta a história do parque e a trilha infantil para os pequeninos. Em breve teremos novos atrativos de aventura!
O Parque pode ser visitado de terça a domingo, das 8h às 18h, com entrada nos atrativos permitida até as 14h (exceto no Arco do André, até as 12h).
Para agendamentos e mais informações, você pode entrar em contato pelo e-mail cavernas.peruacu@icmbio.gov.br ou acessar as informações de visitação e dos condutores credenciados no site do ICMBio.
E você, já visitou o Peruaçu? Conte-nos sua experiência e o que mais te encantou!
De 17 a 19 de setembro, o Instituto Ekos Brasil marcou presença no evento internacional I Jornadas Internacionales de Biodiversidad y Servicios Ecosistémicos (1ª Conferência Internacional sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos, em tradução livre), realizado na Universidade de Salamanca, na Espanha. A participação aconteceu em conjunto com uma equipe de sete pesquisadores e pesquisadoras da Universidade Federal de Viçosa (UFV), parceira do Instituto em projetos estratégicos na Bacia do Rio Doce.
Estiveram presentes a Ma. Fabiana Bonani, Coordenadora de Projetos de Conservação da Biodiversidade do Instituto Ekos Brasil, e a equipe de pesquisa composta por Profa. Dra. Andreza Viana Neri, Dr. Carlos Mário Galván-Cisneros, Prof. Dr. João Augusto Alves Meira Neto, Prof. Dr. Juraci Alves Oliveira, Dra. Lhoraynne Pereira Gomes e Dr. Rodrigo Gomes Gorsani.



O grupo esteve presente nas pautas que tratam da importância da ecologia das espécies para a conservação da biodiversidade e restauração dos ecossistemas, especialmente para a Bacia do Rio Doce. Nesta oportunidade Fabiana destacou o protagonismo do Instituto em iniciativas na Bacia, que unem ciência, saúde humana e ambiental, conservação, políticas públicas e parcerias público-privadas.
Durante o evento, foram apresentados resultados dos projetos “Árvores do Rio Doce” e “Campestres do Rio Doce”, que investigam espécies arbóreas e campestres raras, endêmicas e ameaçadas de extinção na Bacia. Os projetos estão sendo desenvolvidos pelo Instituto Ekos Brasil em parceria com a Universidade Federal de Viçosa, o Instituto Inhotim de Minas Gerais e a Universidade de Salamanca da Espanha, sendo gerido pelo Funbio como parte do Projeto Biodiversidade Rio Doce. Como produtos destes estudos serão feitas propostas de conservação destas espécies, guias de restauração e a publicação de diversos artigos científicos.
A participação do Instituto Ekos Brasil no encontro internacional reforça o compromisso da organização com a produção e disseminação de conhecimento científico, articulando esforços locais e globais para garantir a regeneração de ecossistemas ameaçados.

Neste mês de setembro, a equipe do Instituto Ekos Brasil esteve presente em dois encontros de grande relevância em Brasília: o Encontro dos Projetos Apoiados pelo CEPF (Fundo de Parceria para Ecossistemas Críticos) e o XI Encontro e Feira dos Povos do Cerrado.
Representaram o Instituto a Jéssica Fernandes (Coordenadora de Projetos de Impacto e Gestão Climática), Camila Dinat (Gerente Técnica e Novos Negócios) e Murilo Mendes (Agente Ambiental e Administrativo no Parque Nacional Cavernas do Peruaçu).



Nos dias 8 e 9, a equipe participou do encontro do CEPF, ao lado de outras 35 organizações que atuam no bioma, com iniciativas que colaborem com o trabalho de conservação promovido por mulheres. O Instituto apresentou o projeto Florescer no Cerrado, que acontece na Área de Proteção Ambiental Cavernas do Peruaçu e promove a capacitação de negócios sustentáveis liderados por mulheres.
“Foi um encontro muito produtivo, onde pudemos refletir com outras organizações sobre os desafios, soluções e conquistas dos projetos desenvolvidos no bioma, além de destacar que sem mulher não tem cerrado em pé”, compartilha Murilo Mendes.


Já de 10 a 14 de setembro, foi a vez do Encontro dos Povos do Cerrado, espaço de integração de comunidades, organizações, culturas e povos que habitam o bioma. “São esses povos que fazem a conservação do bioma, que garantem o Cerrado de pé”, destacou Camila Dinat.
Ali foram discutidas formas de desenvolvimento dos setores, como manter as populações em seus territórios, as ameaças que sofrem e também as ferramentas que têm para se manterem íntegras e donas de seu território. O evento contou com feiras de produtos locais, atividades culturais e debates sobre o papel das comunidades na conservação do bioma.



“Outro ponto importante foi que todo o evento foi alimentado com produtos da agricultura familiar livre de agrotóxicos, fornecidos pela organização Cerrado de Pé, que viabilizou a compra e preparo dos alimentos”, reforça Dinat.

Para o trio, a participação nos dois encontros reforçou o compromisso do Instituto Ekos Brasil de atuar de forma integrada com as comunidades, valorizando a liderança feminina e a diversidade de saberes como caminhos fundamentais para a regeneração e proteção do Cerrado.
Desde 2017, o Instituto Ekos Brasil atua, em cooperação com o ICMBio, para transformar a APA e o Parque Nacional Cavernas do Peruaçu, com grande porção do seu território no bioma Cerrado, em um caso de sucesso de conservação da biodiversidade em colaboração com as comunidades locais e tradicionais.
Por isso, nesse Dia do Cerrado, percorremos uma breve linha do tempo para relembrar alguns destaques da nossa história de parceria com o Vale do Peruaçu.
A partir do Acordo de Cooperação e da criação do Programa Peruaçu, em 2017, o Instituto passou a captar e converter recursos, sem repasse financeiro direto entre as organizações, para apoio a gestão do parque e da apa, investimentos em infraestrutura de visitação, recuperação de nascentes, apoio a pesquisa e desenvolvimento de projetos socioambientais.

Um dos marcos desse primeiro período, ainda em 2017, foi a implementação da Trilha do Arco do André, um percurso de oito quilômetros que permite aos visitantes explorar um cenário de muita beleza, contato com o Rio Peruaçu, com o carste e matas primárias com baixa intervenção humana. Em 2018, avançamos algumas etapas para a sustentabilidade financeira dos nossos projetos no Peruaçu, com a inclusão do parque na Incubadora para a Conservação da Natureza, da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) e com o lançamento do edital Pequenos Projetos, que apoiou duas iniciativas locais. Com o intuito de dar mais visibilidade ao Parque e às ações de conservação, neste ano também organizamos uma press trip com jornalistas brasileiros e estrangeiros que rendeu reportagens importantes na mídia.

Nossa parceria seguiu em 2019 com a consolidação da estratégia de captação. Neste ano, destacamos a aprovação no programa Clear into the Future, da Dupont, onde houve a criação da Casa de Vegetação, um viveiro de espécies nativas que alimenta ações de restauração em nascentes e áreas degradadas. O objetivo é simples e ambicioso: contribuir para manter água correndo e floresta em pé, pilares da resiliência do Cerrado.
Contratamos também um estudo para analisar e propor novos modelos de negócios e de parcerias público-privadas para aproveitar as potencialidades econômicas da Unidade de Conservação. Hoje, o Peruaçu é um case de sucesso neste tipo de modelo de parceria.
Certamente, o marco do ano de 2020 foi a consolidação da nossa parceria pelo ecoturismo. O projeto “Acelerando o Turismo Sustentável no Vale do Peruaçu” ajudou a desenvolver, fortalecer e acelerar o turismo sustentável na região. Mais de 60 pessoas e 48 iniciativas locais receberam capacitação e orientações para gerar mais renda e assim impulsionar a cultura e a conservação da biodiversidade.
Com a chegada da Pandemia, as ações do Ekos Brasil foram canalizadas para a ajuda humanitária. Por meio de parcerias com o Instituto Rosa e Sertão foi possível comprar insumos nas cooperativas de produtores locais e distribuir 233 cestas básicas. Foram beneficiadas 932 pessoas das comunidades de Quilombo Cabanos, Aparecidinha, Candeal, Água Doce e São Domingos. Este também foi um ano em que apoiamos a compra de equipamentos de comunicação e segurança.
Em 2021, um dos marcos foi o projeto “Conectando Histórias no Peruaçu” que usou crowdfunding com match do BNDES para formar jovens em audiovisual e ciências da natureza, multiplicando vozes locais na promoção do parque e fortalecendo o sentimento de pertencimento, peça-chave para conservar. No ano seguinte, tivemos a finalização do 1º acordo de cooperação, que abriu as portas para um novo acordo firmado em 2023, desta vez, abrangendo o território do Parque e da APA Cavernas do Peruaçu. Ainda neste ano, lançamos o projeto “Uma trilha para a sustentabilidade”, com a finalidade de fortalecer e resgatar o conhecimento tradicional indígena Xakriabá sobre plantas medicinais e a importância de viver pela conservação das florestas.

Em 2024, celebramos a inauguração da parte de penumbra da trilha da Gruta do Janelão e a realização do III Seminário Científico do Vale do Peruaçu, organizado pelo ICMBio e Instituto Ekos Brasil, e palco de pesquisas científicas realizadas no território, que destacam os impactos das mudanças climáticas no carste do Vale do Peruaçu, mostram o papel deste território para o conhecimento da história humana e que põem em relevo toda riqueza biodiversa existente no Peruaçu.


E neste ano de 2025, vivemos a emoção de apoiar a campanha do Peruaçu como Patrimônio Mundial Natural pela Unesco e celebrar o recebimento desse título tão esperado. O ano continua, mas até o momento já inauguramos outros 3 importantes projetos: Projeto Florescer no Cerrado, que oferece formação empreendedora para mulheres do Peruaçu; o Floresta Viva Peruaçu, uma iniciativa voltada à restauração ecológica de biomas brasileiros, que tem como objetivo restaurar 200 hectares do bioma Cerrado no Vale do Peruaçu; e o Conhecer e Prevenir, com objetivo de estruturação e implementar ações para um manejo integrado do fogo mais efetivo.
A história do Peruaçu continua e temos o privilégio de fazer parte de cada novo passo desta região biodiversa e fundamental para o equilíbrio natural do nosso país. Mas, sozinhos não fazemos nada: a participação dos parceiros e da comunidade é essencial para o trabalho da nossa equipe. Seguimos juntos e juntas pela preservação e conservação do Cerrado. Viva o Cerrado e viva o Peruaçu!
COP 30 – A Amazônia é o maior bioma tropical do mundo. E, neste ano, é natural mencionar o quão simbólico será ter uma COP realizada no coração da Amazônia.
Não obstante todos os desafios com as questões logísticas, será uma oportunidade única de proporcionar à diplomacia climática um contato próximo com as pessoas e comunidades que vivem na floresta. Como bem disse o presidente da COP 30, André Aranha Correa do Lago, em uma de suas cartas:
“Lideranças vivas do cuidado, da resiliência e da regeneração”.
Dentro do ecossistema do mercado de carbono, há uma expectativa para que a COP seja um espaço propício de amadurecimento do debate sobre a integridade dos créditos de carbono. Se no início, algumas décadas atrás, a conversa frequentemente se limitava a métricas estritamente técnicas e cadastrais: a “tonelada de CO₂” como unidade quase absoluta, o CNPJ do detentor do crédito, checagens documentais básicas, etc, podemos dizer que nos últimos anos isso mudou. A pressão da sociedade, da imprensa e de dentro do próprio mercado, passou a exigir cada vez mais que cada crédito represente um impacto real, adicional, verificável e duradouro, em um ciclo de geração de riqueza que respeita as pessoas e a natureza.
Essa evolução se consolidou com a chegada de referências como os Core Carbon Principles do ICVCM, que estabelece dez princípios para identificar créditos de alta integridade, e com o VCMI, que oferece reivindicações para que as empresas participem do mercado voluntário com confiança. Padrões e metodologias reconhecidos foram pressionados a passar por revisões, especialmente em projetos florestais e esse movimento gerou atualizações e ampliou a consciência de compradores e desenvolvedores sobre a centralidade dos cobenefícios socioambientais.

Ou seja, o recado é: um crédito de carbono significa muito mais do que uma tonelada de CO₂. Ele deve ser um propulsor de regeneração, conservação, de desenvolvimento local, com transparência para todas as partes e governança séria.
Mas, voltando nosso olhar para a Amazônia, compreendemos que esse aprendizado ganha ainda mais importância. Quando projetos florestais nascem com as comunidades e não são apenas sobre as comunidades, são capazes de entregar benefícios que extrapolam a mitigação das mudanças climáticas. Podemos dizer, com base na experiência, que esses projetos auxiliam na regeneração dos ecossistemas ao promover a conservação da biodiversidade, a segurança territorial, possibilidade de renda digna, manutenção de saberes e modos de vida.
A ciência tem comprovado (e já falamos sobre isso aqui) que territórios indígenas e tradicionais, tendem a manter taxas menores de desmatamento e funcionam como barreiras vivas contra a perda florestal.
Por isso é simbólico receber a COP 30 na Amazônia. A conferência nos oferece a oportunidade de aprofundar o olhar para um tipo de integridade em nosso mercado que inclui as pessoas: ouvir e trabalhar junto com as comunidades do entorno, respeitar o protagonismo dos povos indígenas, valorizar a economia da floresta e, sobretudo, garantir que o financiamento climático chegue a quem protege a floresta todos os dias.
Desde 2017, o Instituto Ekos Brasil faz a gestão do Programa Compromisso com o Clima. O programa foi concebido para ser uma ponte segura entre quem compra e quem propõe projetos de créditos de carbono no mercado voluntário e já nasceu priorizando a integridade: avaliações técnicas, jurídicas, socioambientais, considerando, inclusive, aderência a normas e contextos locais. Essa é a integridade que praticamos: a que mede carbono, mas também mede confiança; a que entrega números, mas também entrega regeneração.
Desde 1995, a COP reúne 197 países e a União Europeia, ou seja, 198 partes, com o objetivo de negociar compromissos conjuntos (e em consenso) para mitigar os efeitos das mudanças climáticas.
E negociar é uma palavra importante. Ainda que a COP seja mais popularmente conhecida como um “evento” que acontece a cada ano em um local diferente, em sua essência, uma Conferência das Partes das Nações Unidas é um ambiente de negociação entre as signatárias. Essas negociações são acompanhadas de perto por observadores como agências da ONU, organizações não governamentais, representantes do setor privado, ambientalistas, cientistas e povos tradicionais.
No entanto, cabe ressaltar que, embora a agenda de negociações de uma COP seja sempre global, afinal, a Mudança do Clima é um desafio de todo o planeta, é na esfera local que grande parte das soluções se concretiza. Um dado importante publicado pelo ICLEI – Governos Locais pela Sustentabilidade, mostra que 70% das emissões globais de gases de efeito estufa se concentra nas cidades e é nesses centros urbanos que precisam nascer as soluções mais eficazes. No entanto, apenas 27% dos planos climáticos nacionais (as chamadas NDCs — Contribuições Nacionalmente Determinadas) trazem forte conteúdo urbano.
A lacuna entre as metas globais e a ação local foi tema central do evento paralelo “COP30 Urbana e Além: ação multinível e urbanização sustentável para cumprir o Acordo de Paris”, realizado durante as negociações climáticas de Bonn (SB62) em junho deste ano.
Este evento, que é parte do percurso das negociações até a COP30, destacou a importância da articulação entre governos locais e nacionais na implementação de políticas climáticas eficazes. Antonio da Costa e Silva, Assessor Internacional Chefe do Ministério das Cidades, esteve presente e afirmou que a NDC atualizada do Brasil já reflete uma abordagem mais multinível, com a escuta de vozes dos 5.570 municípios e 27 estados.

Outros países também avançam nessa direção. No Panamá, o “Compromisso com a Natureza” articula ações climáticas de forma simples e holística, incluindo contribuições de cada comunidade e município. Ruanda promove consultas nacionais, com apoio do ICLEI, para alinhar sua resposta climática ao planejamento de desenvolvimento.
No Brasil, também temos alguns exemplos de cidades que demonstram ser possível liderar ações climáticas locais de maneira estratégica e estruturada, apesar de apenas 13 capitais e o Distrito Federal possuírem Planos de Ação Climática.
Recife, por exemplo, elabora desde 2015 inventários de emissões de GEE que servem como base para estratégias de mitigação da Mudança Climática. Esse histórico fez com que a capital lançasse, ainda em 2020, o Plano Local de Ação Climática. Curitiba tem mais de 1000 Unidades de Conservação Municipais e historicamente integra soluções sustentáveis de mobilidade urbana. Já Campo Grande já foi reconhecida seis vezes como Tree City of the World pela FAO e pela Arbor Day Foundation e, de acordo com o IBGE (2022) é a cidade mais arborizada do Brasil. A capital mato-grossense é um dos destaques entre as cidades que participam do Plano Nacional de Arborização Urbana.
São Paulo, Campinas, Contagem, dentre outras, investem em Soluções Baseadas na Natureza como jardins de chuva e corredores ecológicos.
Como vimos, o enfrentamento à Mudança do Clima depende, sim, de grandes acordos internacionais, mas é no território que esses compromissos ganham forma e impacto. Quando governos locais, nacionais, setor privado e sociedade civil trabalham juntos, os resultados são mais ambiciosos, mais realistas e mais propensos a gerar transformações efetivas.
E a COP 30, que acontecerá em Belém em 2025, será mais uma oportunidade de reconhecer e ampliar o protagonismo das ações locais na construção de um futuro climático mais justo e sustentável.
Ecossistemas costeiros são gigantes do sequestro de carbono, armazenando até dez vezes mais carbono por unidade de área do que florestas terrestres.
Segundo o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBIO), o Brasil é responsável pela proteção de 7,4% da área de manguezais do mundo, com um total de 1,4 milhão de hectares de manguezais ao longo da faixa costeira, dos quais cerca de 90% são protegidos por 120 unidades de conservação.
Diante desse cenário, não à toa nosso país apresenta um potencial estratégico para os chamados projetos de carbono azul, ou Blue Carbon, que envolvem a conservação e restauração de ecossistemas costeiros como manguezais, pradarias marinhas e marismas salinas com foco na mitigação das mudanças climáticas.
Além de capturar carbono, esses projetos promovem a proteção da biodiversidade, fortalecem a resiliência costeira contra erosão e eventos climáticos extremos e geram impactos sociais positivos, como oportunidades de trabalho e renda para comunidades tradicionais e costeiras.
Nos últimos anos, o mercado voluntário de créditos de carbono azul tem ganhado fôlego no Brasil. Agora, com o Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões (SBCE) em fase de implementação, crescem iniciativas potenciais para atrair investimentos nacionais e internacionais.

Apesar do grande potencial, a implementação de projetos Blue Carbon no Brasil enfrenta desafios significativos.
O Atlas dos Manguezais do Brasil destaca, por exemplo, que 25% do ecossistema de manguezais já pode ter se perdido devido, principalmente, ao cultivo de camarões em cativeiro para fins comerciais (carcinicultura), além de outras práticas que utilizam essas áreas para atividades inadequadas.
Ao contrário das florestas amazônicas, a pressão de desmatamento em manguezais pode ser menor ou menos documentada, dificultando a comprovação da adicionalidade, requisito essencial para projetos de carbono que buscam gerar créditos..
O mercado brasileiro também carece de regulamentações claras, metodologias padronizadas e incentivos econômicos que impulsionem projetos Blue Carbon. Há também os desafios técnicos e científicos de monitoramento dos projetos para comprovação da integridade e o foco histórico em projetos florestais. Outro ponto crítico é o engajamento das comunidades locais, fundamental para o sucesso dos projetos, mas que exige tempo e articulação social.
Mais um entrave está nas metodologias complexas para medir e certificar o carbono armazenado em manguezais e outros ecossistemas costeiros. A falta de padrões rigorosos e confiáveis para avaliação e verificação dos créditos é um problema global, que também afeta o Brasil, gerando ceticismo e dificultando o acesso a financiamentos e investidores.
Mesmo assim, o Brasil está em uma posição privilegiada para liderar a agenda global de blue carbon, dada a extensão e relevância de nossos ecossistemas costeiros. Com avanços regulatórios recentes e crescente interesse do mercado voluntário de carbono, há oportunidades reais para superar os desafios e consolidar projetos que integrem conservação ambiental, desenvolvimento econômico e justiça social.
Um estudo da ONG Guardiões do Mar, intitulado “Oceano sem Mistérios: carbono azul dos manguezais” estima o potencial financeiro de R$ 49 bilhões em crédito de carbono com projetos Blue Carbon.
Em uma tentativa de reforçar a importância desses ecossistemas, o Governo Federal, por meio do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, instituiu em 2024 o Programa Nacional de Conservação e Uso Sustentável dos Manguezais do Brasil (ProManguezal), que define diretrizes e ações para conservar, recuperar e promover o uso sustentável desses ecossistemas costeiros, reconhecendo sua importância para captura de carbono e para as comunidades tradicionais que deles dependem.
O ProManguezal é um passo importante para superar barreiras, mas ainda é necessário avançar em sua implementação integrada para que os projetos de carbono azul possam se desenvolver efetivamente no país.
Nota adicional
A Verra, uma das principais certificadoras de créditos de carbono, mantém um portfólio de metodologias que incluem abordagens para ecossistemas costeiros e manguezais que são a base do carbono azul. A organização também tem incentivado o uso de metodologias digitalizadas para facilitar a geração e verificação de créditos de carbono, o que inclui projetos relacionados ao carbono azul.
Referências:
https://www.gov.br/icmbio/pt-br/centrais-de-conteudo/atlas-dos-manguezais-do-brasil-pdf
https://obsinterclima.eco.br/wp-content/uploads/2024/04/Caderno-09-2024.pdf