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A mais recente edição do Relatório Anual do Fogo (RAF) aponta que 45% do Cerrado foi queimado pelo menos uma vez em 40 anos, sendo 43% da área queimada nacional. O bioma ainda tem a maior média nacional de área queimada – 9,6 Mha queimados todos os anos, com extensas áreas atingidas inclusive dentro de Unidades de Conservação.
De acordo com Vera Arruda, coordenadora técnica do MapBiomas Fogo em entrevista ao site do próprio MapBiomas, o que os pesquisadores têm observado é que a incidência de incêndios têm sido maior no período da seca, em razão, principalmente, de atividades humanas e agravada pelas mudanças climáticas.
“Um dado especialmente preocupante é o avanço do fogo sobre as formações florestais no Cerrado, que em 2024 atingiram a maior extensão queimada dos últimos sete anos — uma mudança na dinâmica do fogo que ameaça de forma crescente a biodiversidade e a resiliência desse bioma” , comentou Arruda.
É dentro deste contexto preocupante que o Instituto Ekos Brasil inicia um projeto com diversas ações de prevenção ao fogo na região do Mosaico Sertão Veredas – Peruaçu, no Cerrado mineiro.
Intitulado Conhecer e Prevenir: estruturação para um Manejo Integrado do fogo mais efetivo, a iniciativa terá atuação em duas novas Unidades de Conservação: O Parque Estadual Veredas do Peruaçu de Proteção Integral e a Reserva Estadual de Desenvolvimento Sustentável Veredas do Acari, além da atuação no Parque Nacional Cavernas do Peruaçu e a Área de Proteção Ambiental Cavernas do Peruaçu.
Durante 18 meses, o Ekos Brasil irá implementar ações de prevenção ao fogo nas comunidades pertencentes aos territórios, em conjunto com as equipes gestoras das UCs seguindo as diretrizes da Política Nacional de Manejo Integrado do Fogo (LEI Nº 14.944, DE 31 DE JULHO DE 2024).
“Olhando para estes dados e compreendendo o impacto do fogo em áreas de vegetação nativa iniciamos este projeto ainda mais comprometidos em seguir fortalecendo o território, a biodiversidade e a comunidade. Um novo desafio frente à uma antiga ameaça.”
ressaltou Francieli Kaiser, coordenadora de projetos de conservação da biodiversidade do Instituto Ekos Brasil.
A iniciativa acontece em parceria com o Programa Copaíbas do Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio).
Fonte: Projeto MapBiomas – Mapeamento das áreas queimadas no Brasil entre 1985 – 2024 – Coleção 4, acessado em 1º de julho de 2025 através do link: https://brasil.mapbiomas.org/wp-content/uploads/sites/4/2025/06/RAF2024_24.06.2025_v2.pdf
Recentemente, a ONG SOS Mata Atlântica divulgou seus dados anuais sobre o desmatamento do bioma. Chamou a atenção uma redução de 27% no desmatamento em comparação com os dados do ano anterior. Uma ótima notícia para quem procura conservar o bioma mais desmatado do país, do qual restam apenas 24% da cobertura original.
É estimado que existam mais de 1.300 fragmentos de Mata Atlântica com mais de 1.000 hectares e que a maioria dos remanescentes tenha menos de 50 hectares. Essa enorme fragmentação é um problema para a manutenção saudável da floresta. Sem conectividade adequada entre os fragmentos, muitos processos ecológicos são perdidos e a manutenção de espécies é significativamente prejudicada.
Como imaginar uma onça-pintada por exemplo vivendo em uma região com pequenos fragmentos de floresta cercado de pastos, ou canaviais ou casas de veraneio?
Da parte da iniciativa pública, a criação das várias Unidades de Conservação (UCs) para proteção de extensões maiores de vegetação nativa é muito importante. No caso da Mata Atlântica, alguns proprietários conservam a vegetação em suas propriedades e vários vêm constituindo Reservas Particulares do Patrimônio Natural ou outros tipos de Reservas que não fazem parte do Sistema Nacional de Unidades de Conservação.
Dos 24% remanescentes do bioma Mata Atlântica, estima-se que 80% estejam em propriedades privadas. Vemos aí a importância de iniciativas de conservação por entes privados para a conservação desse patrimônio nacional.
Um exemplo a ser comemorado é o da Reserva Pinho Bravo, uma área linda e de grande extensão na Serra da Mantiqueira, situada entre os municípios de Campos do Jordão e São Bento do Sapucaí, em São Paulo. No interior dessa reserva particular existem vários tipos de paisagens — como florestas, campos de altitude, matas de araucárias, entre outros. A Reserva ajuda a conservar a vegetação nativa e a manter a conexão entre áreas protegidas próximas, como o Monumento Estadual da Pedra do Baú e o Parque Estadual Campos do Jordão. Na Reserva Pinho Bravo também estão sendo realizadas diversas pesquisas científicas e atividades de turismo sustentável, que ajudam a movimentar a economia local de forma responsável.
Um estudo ainda em andamento pelo Instituto Ekos Brasil em parceria com a Geonoma Consultoria Ambiental observou que quase dois terços da Reserva são cobertos por matas nativas em diferentes estágios de regeneração e que 80% da área é ocupada por formações nativas, ou seja, florestas (70%) e campos (10%). Muitas das espécies de plantas identificadas podem existir apenas nessa Reserva, pois ainda não foram registradas nas Unidades de Conservação ao redor. Isso indica que a flora dessas áreas ainda não foi completamente estudada — ou que a Reserva Pinho Bravo realmente protege espécies que desapareceram dessas áreas. Inclusive, há potencial para encontrar espécies raras, exclusivas da região, ou até mesmo novas para a ciência, principalmente nos chamados Campos de Altitude, que ficam em altitudes elevadas e têm vegetação bem característica, com alto grau de exclusividade e que estão protegidas na Reserva.
Por estar localizada em uma área muito específica da Mata Atlântica, em uma das partes mais altas da região, pode-se dizer que a Reserva Pinho Bravo tem um papel muito importante dentro da rede de áreas protegidas da Serra da Mantiqueira, contribuindo para manter a variedade de ecossistemas e aumentando a capacidade da natureza de se adaptar a mudanças, inclusive mudanças climáticas.
Enquanto celebramos a iniciativa da criação da Reserva Pinho Bravo que se mostra aderente à realidade e olha responsavelmente para as crises climáticas e de perda da biodiversidade, fazendo parte da solução dos dois maiores desafios de nossos tempos, o Senado aprovou o PL 364/2019 que flexibiliza a legislação ambiental. O PL enfraquece especialmente a conservação dos ambientes não florestados, como os Campos de Altitude que fazem parte da Mata Atlântica, patrimônio nacional. Esses campos são ecossistemas raros, muito especializados e sensíveis, então precisam de proteção urgente.
O Instituto Ekos almeja que, no futuro, possamos falar de mais exemplos como o da Reserva Pinho Bravo, que merecerão um lugar muito mais valorizado em nossa história.
Neste 22 de maio, Dia Internacional da Biodiversidade, o Instituto Ekos Brasil marca a consolidação de uma importante iniciativa no Parque Estadual do Rio Doce (PERD): a implantação do Protocolo de Monitoramento da Biodiversidade com base no modelo do Programa Monitora do ICMBio. O PERD torna-se, assim, a primeira unidade de conservação estadual de Minas Gerais a adotar oficialmente o protocolo básico do componente florestal do programa.
O Programa Monitora é a estratégia institucional do ICMBio para o monitoramento da biodiversidade em unidades de conservação federais. Estruturado a partir de protocolos padronizados e com base em séries temporais, o programa busca subsidiar a gestão com dados consistentes sobre o estado e a dinâmica da biodiversidade. O Protocolo Básico do Componente Florestal, utilizado no PERD, define metodologias específicas para o levantamento de diferentes grupos biológicos, em específico mamíferos e aves, plantas e borboletas frugívoras.
A implantação do protocolo no PERD é um dos produtos previstos no Termo de Parceria nº 51/2021, celebrado entre o Instituto Ekos Brasil e o Instituto Estadual de Florestas (IEF). A inclusão da atividade decorreu da identificação conjunta das instituições parceiras sobre a necessidade de estabelecer um programa de monitoramento da biodiversidade com base técnica, operado com recursos e equipe locais e que será realizado sistematicamente, de forma a que os dados coletados possam dar a dimensão da eficácia das ações de gestão da unidade.
Desde então, foram conduzidas ações de planejamento técnico, elaboração de plano de trabalho e pré-projeto experimental, definição de áreas prioritárias, instalação de estações amostrais e implementação das atividades de campo conforme os critérios estabelecidos pelo Programa Monitora. Um destaque do processo foi a capacitação da equipe da UC em curso ministrado por instrutores do ICMBio no PERD em março deste ano.
A curadoria e validação dos dados estão sendo realizadas com apoio técnico do ICMBio. Com o monitoramento anual, o Parque poderá conduzir suas ações de manejo com dados técnicos qualificados.
A implantação do Protocolo de Monitoramento da Biodiversidade no PERD representa um marco institucional fruto da parceria entre o Instituto Ekos e IEF. Essa experiência servirá de exemplo ao Governo de Minas Gerais para alinhar o monitoramento da biodiversidade de suas UCs às melhores práticas estabelecidas nacionalmente.
Para saber mais sobre o Programa Monitora do ICMBio, acesse:
Em janeiro de 2025, o Instituto Ekos Brasil deu início ao projeto Floresta Viva: uma iniciativa voltada à restauração ecológica de biomas brasileiros, que contemplou 12 instituições brasileiras no âmbito do Edital Corredores de Biodiversidade, sob gestão do FUNBIO (Fundo Brasileiro para a Biodiversidade) e com recursos do Fundo Socioambiental do BNDES e da Petrobras.
Para o Ekos, o projeto tem como objetivo restaurar 200 hectares do bioma Cerrado no Vale do Peruaçu, localizado no norte de Minas Gerais, além de fortalecer a cadeia produtiva da restauração no território, em um processo participativo, que envolve capacitações e apoio às pequenas propriedades locais na implementação de Sistemas Agroflorestais (SAFs).
A região do Vale Peruaçu abriga um dos mais importantes remanescentes de Cerrado da Bacia do Rio São Francisco, onde estão localizadas as três Unidades de Conservação foco deste projeto: o Parque Estadual Veredas do Peruaçu, o Parque Nacional Cavernas do Peruaçu e a Área de Proteção Ambiental (APA) Federal Cavernas do Peruaçu, situadas nos municípios de Januária, Itacarambi, São João das Missões, Bonito de Minas e Cônego Marinho.
As ações de capacitação e a educação ambiental fortalecem a cadeia produtiva local da restauração e ampliam o repertório técnico das populações, valorizando saberes tradicionais e promovendo o desenvolvimento econômico sustentável.
Além disso, a implantação de 20 hectares de SAFs e a participação ativa das comunidades em todas as etapas, fomenta a geração de emprego e renda, contribuindo significativamente para a segurança alimentar, criando um ciclo virtuoso em que o bem-estar socioeconômico está diretamente ligado à conservação da natureza.
Esse modelo fortalece a resiliência climática, assegura serviços ecossistêmicos como a melhoria da disponibilidade hídrica e a redução de dióxido de carbono, ao mesmo tempo em que contribui para a valorização cultural e para a melhoria da qualidade de vida nas comunidades envolvidas.
O projeto conta com uma rede de parceiros fundamentais nessa jornada de 4 anos: Atlas Florestal, a frente da restauração dos 200 hectares; Núcleo do Pequi, agregando conhecimento e vivências sobre a cadeia produtiva; Instituto Sertão Veredas, atuando na comunicação social do projeto e na mobilização dos atores locais; Instituto Federal de Januária, colaborando com seus conhecimentos técnico-científicos relacionados à restauração; e Rede de Sementes do Cerrado, apoiando a capacitação do público-alvo; além das Prefeituras locais, do Instituto Estadual de Florestas (IEF), do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).
O Instituto Ekos Brasil reafirma o compromisso com a conservação ambiental e a regeneração do ecossistema global. A restauração do Cerrado no Vale do Peruaçu é um passo fundamental para garantir a proteção desse bioma tão essencial para o equilíbrio ecológico e para as comunidades locais.
Acompanhe os desdobramentos desse trabalho em nosso site e mídias sociais.
A Bacia do Rio Doce vem atravessando um longo processo de reparação e mitigação dos impactos sobre sua fauna aquática desde o rompimento da Barragem de rejeitos de Fundão, em Mariana, Minas Gerais. Com uma rica diversidade, a Bacia tem 98% de sua área inserida no bioma da Mata Atlântica, um dos mais importantes e ameaçados do mundo, e os 2% restantes no Cerrado.
Para endereçar o desafio de recompor a Bacia, a Fundação Renova (em liquidação), junto ao Grupo de Apoio Técnico (formado por órgãos públicos federais e estaduais, universidades), elaborou em 2021 um Plano de Ação para Recuperação e Conservação da Fauna Aquática da Bacia Hidrográfica do rio Doce (PABA), com o intuito de buscar soluções para conservar e/ou recuperar ambientes aquáticos, com o foco nas espécies de peixes e da macrofauna invertebrada ameaçadas de extinção.
Foi neste contexto que o Instituto Ekos Brasil colaborou em um projeto com a Fundação Renova (em liquidação) para fazer uma análise do conhecimento até então existente sobre as espécies ameaçadas de extinção da Bacia.
Valéria Saracura, Relação Institucional e Articulação da equipe de especialistas formada para o projeto explica que, a partir das metas do PABA, o trabalho do Ekos Brasil consistiu em três objetivos específicos.
Esses objetivos compreendiam conhecer o estado da arte dos programas de monitoramento de peixes e de macroinvertebrados aquáticos na Bacia do Rio Doce, conhecer as percepções das partes interessadas como universidades, gestores públicos, ONGs, empreendedores, etc, e propiciar discussões participativas junto à essas partes para integrar conhecimento e tais percepções.
“O resultado foi um produto no qual o Ekos Brasil apresentou recomendações e soluções para implementação de um sistema integrado de banco de dados para que o conhecimento levantado durante o estudo esteja disponível e que as pessoas possam utilizar com o fim de sugerir ou desenvolver ações de recuperação e/ou manutenção da bacia”
comentou Saracura.
Para cumprir o primeiro objetivo de levantar todo o conhecimento disponível sobre programas de monitoramento da fauna de peixes e de macroinvertebrados aquáticos na Bacia, a equipe enfrentou muitos desafios, pois não havia precedentes de um trabalho assim. “Construímos metodologias e procedimentos para atingir objetivo por objetivo. Foi preciso buscar bancos de dados em plataformas. E percebemos que há uma complexa governança dessas informações, já que são tipos de monitoramentos diferentes. Mas, ao final, conseguimos atingir nossas metas”, relembra.
O projeto, então, seguiu para a segunda etapa que envolvia a participação das partes interessadas na recuperação e conservação da fauna aquática da Bacia. Por meio de um questionário enviado por email para mais de 170 contatos e publicado em redes sociais, a equipe do projeto alcançou 60 respostas válidas, identificando quatro tipos de agentes interessados: gestores públicos, empreendedores (empresas), consultores e universidades.
“Chegou a hora, então, de integrar conhecimento e percepções propiciando discussões participativas, de acordo com nosso terceiro objetivo. E mais uma vez, obtivemos sucesso. Realizamos dois seminários mistos (virtual e presencial), um em Lagoa Santa, em Minas Gerais, com 40 representantes de pelo menos 15 instituições e outro em Vitória, no Espírito Santo, com 29 representantes de 10 instituições”
completou Saracura.
Com os três objetivos atingidos, o Ekos Brasil pôde elaborar uma série de recomendações para vencer os desafios técnicos, político-institucionais e normativo-regulatórios de integração das informações disponíveis para oferecer aos gestores públicos estas valiosas informações de modo a subsidiá-los na tomada de decisão para a reparação e a conservação da fauna aquática do Rio Doce.
Apenas para citar alguns exemplos, dentre as recomendações apresentadas estão a proposta de realizar ações de advocacy para sensibilizar a importância de pautar temas afetos a integração de banco de dados da biota aquática do rio Doce; a necessidade de pautar e aprovar, no âmbito de organismos legisladores e/ou normatizadores, normas que definam as responsabilidades dos órgãos licenciadores quanto ao manejo dos dados produzidos; e a sugestão de padronização de dados e formatos específicos a serem alimentados em bases específicas para que sejam passíveis de integração, por exemplo adotando o formato Darwin Core.
“Certamente este foi um projeto único e muito inovador por não ter precedentes. A situação é muito desafiadora pois o conhecimento sobre a fauna de peixe e macrofauna invertebrada aquática é bem pouco e quase não há informações sobre as espécies ameaçadas. Fomos amadurecendo ao longo do projeto, uma vez que para cada objetivo desenvolvemos e customizamos procedimentos específicos para otimizar os resultados. E assim, entregamos produtos que podem servir de exemplo para outras bacias”,
completou Saracura.
As recomendações já foram apresentadas à Fundação Renova (em liquidação) e às partes interessadas consultadas durante o projeto.
Para o Dia Mundial da Água, trazemos uma entrevista com o professor Ricardo Hirata, professor titular da Universidade de São Paulo (USP) e coordenador do Projeto SACRE | Soluções integradas de água para cidades resilientes. O professor explica os desafios da gestão de águas subterrâneas no Brasil e o problema crônico com poços irregulares. E ainda comenta o recente artigo científico sobre a superexploração das águas subterrâneas e o comprometimento da vazão dos rios que ganhou a mídia com um título duvidoso.
Confira a entrevista.
As águas subterrâneas ainda são uma grande desconhecida da sociedade, mesmo daqueles que têm a responsabilidade pela gestão dos recursos hídricos. É um problema mundial a tal ponto que a Unesco declarou, em 2022, o ano da água subterrânea com o mote: “tornar visível o invisível”.
Esse desconhecimento não somente traz problemas, como o da superexplotação – quando se extrai mais do que a capacidade de recarga, mas também acoberta as oportunidades que estas águas subterrâneas podem oferecer para a sociedade, para a economia e para o ambiente, sobretudo em um mundo sofrendo por problemas causados pela falta de água de qualidade e de baixo custo.
Um dos principais serviços ecológicos que os aquíferos nos oferecem é a manutenção da água em rios e em áreas úmidas, como pântanos e mangues. Dados da própria Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) mostra que 90% dos rios brasileiros têm relação hidráulica e dependência dos aquíferos.
Dessa forma, o gerenciamento dos recursos hídricos tem que considerar os aquíferos como parte (efetiva) do ciclo hidrológico, e não há como ter um uso responsável e sustentável das águas sem considerar os aquíferos, onde encontram-se 97% da água doce e líquida do planeta.
A potencialidade de problemas causado pela extração de poços é um alerta para que os gestores ambientais e de recursos hídricos olhem essas regiões com atenção e peçam estudos de detalhe, comprovando ou não o impacto.
No Brasil, acredita-se que 80% dos poços tubulares (os chamados artesianos ou aqueles perfurados com uma sonda) são irregulares ou desconhecidos.
Nosso país é o 8º maior usuário de água subterrânea e o seu uso se faz por autorização dada pelo Estado, através de mecanismos de outorga.
Embora a irregularidade dos poços esteja diminuindo, sobretudo em estados como São Paulo, Minas Gerais, Pernambuco e Ceará, a irregularidade é regra e isso dificulta uma gestão adequada. Afinal, como é possível gerenciar um recurso quando a maior parte dos seus usuários é irregular ou clandestina?
Acho que, como a maioria dos pesquisadores, eu tomei conhecimento desse artigo por meio da mídia, que deu um grande destaque à pesquisa. O que mais chamou a atenção foi o título da reportagem, que afirmava que mais de 50% dos rios estavam secando. Assim, o título ganhou o mundo, mais que o artigo em si.
O trabalho de Gescilam e colaboradores têm muitos méritos. Um deles é usar um conceito e um método simples e ser baseado em dados existentes. É um trabalho de reconhecimento regional e mostra que há potencialidade de impacto da explotação de aquíferos em rios. No entanto, o estudo precisa ser aprofundado e os resultados confirmados com estudos locais.
Uma análise cuidadosa do artigo original, mostra, contudo, que a pesquisa: i) não teve uma abrangência tão ampla, mas sim nas áreas onde há poços com dados suficientes, e ii) que há risco potencial e não necessariamente uma afirmação de que os rios estão efetivamente secando, como induz o título das matérias jornalísticas, mas não o artigo.
O fato de os níveis de poços serem mais baixos que o rio, não necessariamente representa o seu secamento.
Mostra que há potencial de fluxo do rio para o aquífero, mas outros fatores têm que entrar em jogo, inclusive:
· Quanto de água se está retirando do aquífero (em relação a vazão do rio), através do bombeamento;
· Isolamento entre o rio-aquífero (condutância);
· Períodos de maior e menor extrações em relação às vazões sazonais do rio etc.
Assim, o fato de poços terem níveis menores que um rio nas redondezas (no artigo os autores usaram 1 km de distância) não se traduz em problema ao rio ou ao aquífero. Aliás, usar parte da água que flui em um rio para abastecer um poço em sua margem é uma técnica que se chama riverbank filtration e é muito usada desde o final do século XIX na Alemanha e Inglaterra, e ajuda a aumentar a vazão dessas obras.
Outro viés do trabalho é que ele é apoiado onde há poços reportados no cadastro do Serviço Geológico do Brasil e esses geralmente se encontram onde há maior necessidade de água, ou seja, onde há explotação e consequentemente onde há interferências hidráulicas e rebaixamentos. O estudo considerou dados de 146 mil captações, dos quais os autores selecionaram 17,9 mil poços.
Um estudo que o nosso grupo do CEPAS|USP fez para o Instituto Trata Brasil em 2019 estimou a existência de 2,5 milhões de poços tubulares. Hoje, acreditamos que já estamos em 3 milhões de obras. Assim, o banco de dados – que ademais são incompletos, cobre apenas 5% do total de poços. Extrapolar isso para todo o país ou para todos os rios é um erro induzido pelo título.
Caso tivéssemos os dados de todos os poços poderíamos observar resultados melhores, uma assertividade maior e quem sabe os resultados poderiam mostrar uma situação diferente da observada. Não saberia nesse momento dizer se pior ou melhor.
Mas o alerta é válido pois a metodologia é sólida e os resultados consistentes, desenvolvido por uma equipe muito boa.
Fato é que a relação rio-aquífero ainda é tema pouco estudado no mundo, e particularmente pelo país. A boa gestão dos recursos hídricos passa por esse entendimento. Dada a complexidade dos estudos hidrogeológicos, as áreas onde há mais perigo de ocorrência de problema, ou seja, onde há maior densidade de extração, deveríamos estudar com detalhes para comprovar os reais impactos e depois, resolvê-los.
Para saber mais sobre o projeto SACRE | Soluções integradas de água para cidades resilientes, acesse:
Composição da água subterrânea pode afetar os resultados da remediação voltada à adsorção de PFAS
A criação do mercado regulado de carbono no Brasil se mostra essencial para que o país consiga atingir suas metas de redução de emissões de gases de efeito estufa estabelecidas na Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC, em inglês).
No entanto, a sua implementação não significa uma disrupção apenas para o setor público. Ao incentivar a descarbonização e precificar as emissões, o mercado regulado também promete estremecer o setor empresarial, reservando bônus para aqueles negócios comprometidos com a redução das emissões e penalizando quem não o fizer.
Para atender a lei interna e ao mercado externo, as empresas serão pressionadas a mudar estratégias de gestão climática e ESG.
Afinal, quem vai querer ficar de fora de um mercado que pode gerar movimentar até US$ 100 bilhões até 2030?
Neste artigo mostramos que o processo de implementação do mercado regulado pode levar em média 5 anos.
Por onde começar para integrar a descarbonização à sua estratégia ESG?
O primeiro passo é quantificar as emissões reguladas. Para isso, as empresas devem elaborar um inventário de emissões, considerando o Escopo 1 (emissões diretas de processos produtivos e consumo de combustíveis fósseis, como, por exemplo, exemplo: caldeiras, fornos, frotas próprias); e o Escopo 2 (emissões indiretas pelo consumo de energia elétrica). Ter um inventário robusto permitirá compreender as emissões da empresa e antecipar os impactos financeiros da regulação.
Com base no diagnóstico, a empresa deve estruturar planos de descarbonização, priorizando ações dentro dos escopos regulados, tais como:
– Eficiência energética: atualizar processos industriais e adotar tecnologias mais eficientes.
– Substituição de combustíveis: reduzir o uso de combustíveis fósseis em processos produtivos.
– Otimização de processos: melhorar fluxos operacionais para reduzir consumo de energia e insumos.
– Redução de desperdícios: adotar medidas para minimizar perdas no uso de matérias-primas e insumos energéticos.
A conformidade com o SBCE exigirá que empresas monitorem o limite de emissões estabelecido e tomem decisões estratégicas como reduzir emissões para minimizar a necessidade de compra de permissões no mercado regulado e, caso necessário, negociar permissões dentro do sistema para evitar penalizações. Além de acompanhar a regulamentação sobre a possível integração entre o mercado regulado e o mercado voluntário de carbono.
A regulamentação trará novas obrigações para as empresas, tornando essencial a integração do tema na governança corporativa. Vale ficar atento para criar métricas e indicadores internos para acompanhar a performance de emissões, além de incluir metas de carbono na estratégia da empresa. Outra boa prática é capacitar equipes para adaptação às regras do mercado regulado.
Embora o mercado voluntário de carbono não substitua a necessidade de redução dentro do SBCE, ele pode ser útil como uma estratégia de transição. Empresas podem utilizar o mercado voluntário para compensar emissões residuais enquanto implementam mudanças estruturais e aprimorar sua experiência em negociação de créditos antes da entrada definitiva no mercado regulado. A experiência com o mercado voluntário também pode servir para obter uma prévia da precificação do carbono, analisando como a compra e venda de créditos impactam financeiramente a organização.
A regulamentação do mercado de carbono no Brasil mudará a forma como as empresas gerenciam suas emissões. Estruturar um plano de descarbonização estratégica será essencial para evitar custos elevados e se manter competitiva.
Conte com o Instituto Ekos Brasil para apoiar sua estratégia de sustentabilidade corporativa. Somos especialistas em alinhar iniciativas sociais, ambientais e de governança a partir de uma metodologia inovadora.
A exuberância da natureza do Parque Estadual da Serra do Brigadeiro, na Serra da Mantiqueira, em Minas Gerais (foto), demonstra bem a importância do projeto Campestres do Rio Doce: estudos ecológicos para conhecer e conservar espécies ameaçadas da Bacia do Rio Doce, desenvolvido pelo Instituto Ekos Brasil, em parceria com a Universidade Federal de Viçosa (UFV) e o Instituto Inhotim de Minas Gerais.
O foco da iniciativa está na conservação da diversidade botânica local, no fomento a pesquisas e na implementação de ações voltadas para o conhecimento de espécies campestres raras, endêmicas e ameaçadas de extinção na Bacia em questão.
Os estudos envolvem a compilação de dados de espécies vegetais existentes, bem como a coleta em campo de novos dados, com o objetivo de gerar conhecimento sobre a atual distribuição dessas espécies e, em cenários de mudanças climáticas futuras, suas características evolutivas e funcionais, a capacidade de se dispersarem e recolonizarem áreas degradadas, bem como a capacidade de germinação e crescimento das espécies-alvos em diferentes cenários.
Os conhecimentos gerados por esses estudos servirão de base para definir estratégias de conservação da biodiversidade adotadas por diversos setores da sociedade, incluindo instituições governamentais e não governamentais. Tais estudos podem embasar a criação de políticas públicas e leis que fortaleçam a conservação das espécies raras e ameaçadas de extinção da Bacia, bem como a criação de Unidades de Conservação adequadas para proteger essas espécies.
O projeto tem duração de 2 anos e recebe recursos advindos do Projeto Biodiversidade Rio Doce, que tem por principal objetivo incrementar o conhecimento das espécies-alvo da bacia do rio Doce, por meio de pesquisas científicas que subsidiarão as ações de recuperação e conservação previstas nos Planos de Ação para a Conservação da Biodiversidade Terrestre e Aquática na bacia do rio Doce.
Em breve, vocês poderão acompanhar mais sobre o projeto por aqui!
Parque Nacional Cavernas do Peruaçu pode ser declarado Patrimônio Mundial Natural pela UNESCO.
Em 27 e 28 de janeiro, o Instituto Ekos Brasil esteve em Trinidad e Tobago, na University of West Indies (UWI) – St. Augustine, para participar de um workshop organizado pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) sobre o tema “Análise e mitigação da poluição do solo em plantações de cacau na América Latina e no Caribe”. Ana Cristina Moeri, nossa diretora-presidente, Luciana Ferreira, secretária executiva da rede NICOLE Latin America, e Sasha Hart, presidente do setor acadêmico da rede NICOLE e consultor do projeto, representaram a nossa organização.
“O evento envolveu um grande número de especialistas de diversas nacionalidades comprometidos com boas práticas para a mitigação da poluição do solo. E o Ekos Brasil, em parceria com a rede NICOLE Latin America e a rede NICOLE, na Europa, levou sua contribuição de alto nível para duas regiões produtoras de cacau: Trinidad e Tobago e o sul da Bahia”
destacou Luciana.
No primeiro dia, Brasil, Colômbia, Equador, Venezuela, Jamaica e Trinidad e Tobago se revezaram em apresentações de projetos que englobam medidas de redução de riscos para a produção segura de cacau, considerando especialmente o potencial de contaminação do solo por metais pesados nestas áreas. Sasha Hart apresentou os resultados preliminares do projeto do Ekos Brasil para a FAO, incluindo os resultados já obtidos nas amostragens para Trinidad e Tobago, bem como os próximos passos e recomendações. Já Ana Moeri mostrou as impressões iniciais, informações obtidas e os próximos passos e recomendações para o projeto no sul da Bahia.
No segundo dia, o diálogo foi dedicado às estratégias para remediação da poluição do solo, com o protagonismo de Lucia Buve (NICOLE; NICOLE Foundation), Sasha Hart (Instituto Ekos Brasil; NICOLE Latin America) e Ruth Pereira (Universidade do Porto), esta última com apresentação virtual.
Por fim, de forma complementar a este evento, no dia 29 de janeiro também ocorreu uma ação do “Soil Doctors Programme”, um programa da FAO voltado a capacitar produtores (fazendeiros) quanto à gestão sustentável do solo. Essa ação, em particular, foi direcionada especialmente aos produtores de Trinidad, incluindo produtores de cacau, além de outros cultivos. Neste terceiro dia, participou da equipe Ekos apenas Sasha Hart, apoiando a ação.
Confira as fotos!
Parque Nacional Cavernas do Peruaçu pode ser declarado Patrimônio Mundial Natural pela UNESCO
À medida que o Mercado Regulado de Carbono avança no Brasil, as empresas sentirão, cada vez mais, a necessidade de integrar estratégias climáticas aos seus negócios. O primeiro passo para isso é compreender a fundo como o nosso país está se estruturando para a criação deste mecanismo financeiro de combate às mudanças climáticas.
Em 11 de dezembro de 2024, o governo sancionou a Lei 15.042, instituindo o Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SBCE). Com isso, foram lançadas as bases necessárias para a criação do mercado regulado e para um posicionamento mais enérgico no cenário global em relação ao comprometimento do Brasil com a crise climática. Este avanço sinaliza um estímulo maior à participação do setor privado na agenda de descarbonização, sendo um dos compromissos assumidos pelo Brasil em sua Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC, na sigla em inglês).
Com maior segurança jurídica e a institucionalização de um mecanismo que propicia retornos financeiros para pessoas e empresas que realizam ações de descarbonização, o Mercado Regulado traz boas perspectivas. O Brasil possui um enorme potencial em termos de matriz energética limpa, regeneração florestal, manejo sustentável, agricultura regenerativa, entre outros.
De acordo com o site do Ministério da Fazenda, com a regulação, as reduções de emissões tornam-se ativos financeiros negociáveis, o que, por sua vez, atrai investimentos internacionais, impulsiona estratégias de conservação ambiental e fomenta formas alternativas de geração de renda.
A implementação do SBCE será gradual, para evitar impactos bruscos na economia e conceder tempo necessário para a adaptação das empresas. As fases previstas são:
Essas fases devem durar cerca de cinco anos.
Atualmente, o Brasil conta apenas com o mercado voluntário de carbono, onde a adesão a um mecanismo de compensação é opcional. No mercado regulado, por outro lado, o país passa a contar com regulação e fiscalização das emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) pelas empresas, aplicando penalidades a quem descumprir a lei.
Em linhas gerais, o Mercado Regulado de Carbono no Brasil seguirá a lógica do cap and trade, já adotada em diversos países. Isso significa que o governo estabelecerá metas de emissão de GEE para os setores contemplados na lei.
Nesse contexto, entra o comércio: empresas que ficarem abaixo do limite poderão vender as chamadas Cotas Brasileiras de Emissão (CBEs) para empresas que não atingirem suas metas, criando um incentivo financeiro e competitivo para que o setor privado adote práticas mais limpas e eficientes. As empresas que não atingirem as suas metas também poderão adquirir os Certificados de Redução ou Remoção Verificada de Emissões (CRVEs).
Desde 2017, o Programa Compromisso com o Clima, do Instituto Ekos Brasil, apoia empresas em suas estratégias de baixo carbono.
Com informações do Ministério da Fazenda.
Interessou? Entre em contato e traga sua empresa para o: