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Lugar de paisagens incríveis com cavernas de mais de 100 metros de altura, sítios arqueológicos, pinturas rupestres e reduto de conservação de mais de 56 mil hectares de Cerrado, o Parque Nacional Cavernas do Peruaçu conta com o apoio do Instituto Ekos Brasil há 18 anos.
Em todos esses anos de dedicação vimos o quanto a biodiversidade do Peruaçu é ao mesmo tempo tão rica e tão ameaçada e o quanto o parque é importante para a comunidade local, sendo palco de histórias contadas de geração em geração.
Por isso, em nosso mais novo projeto, “Conectando histórias no Peruaçu”, com o apoio do matchfunding do BNDES, queremos levar oficinas de capacitação em recursos audiovisuais para a juventude das comunidades ao entorno do Peruaçu. Além da parte técnica, os e as jovens participarão de palestras com especialistas, guias e moradores locais sobre as pinturas rupestres, sobre as cavernas e suas formações geológicas e também sobre a importância da conservação da biodiversidade para o meio ambiente e para o contexto social da região.
Esses elementos, juntos, permitirão à juventude local que conte e divulgue as histórias do Peruaçu sobre sua riqueza natural e cultural para outros jovens estudantes e para as gerações futuras!
Os vídeos produzidos serão divulgados nas redes sociais e as oficinas poderão ser compartilhadas com outras escolas, favorecendo o desenvolvimento do mesmo projeto em outras regiões do país.
Com esse projeto vamos capacitar cerca de 30 jovens e um professor da região. Também esperamos atingir muitas outras pessoas com a divulgação dos vídeos e com a replicação dessa iniciativa em outras regiões.
Além disso, quando você contribui para a nossa campanha, além de incentivar a relação dos jovens com a cultura e natureza da região, você ajuda a preservar e divulgar as belezas do parque. E de quebra, ainda poderá conhecer o Peruaçu e suas histórias e ganhar uma recompensa que tem tudo a ver com o lugar.
Nossa campanha de financiamento coletivo funciona da seguinte forma: para cada real arrecadado, o BNDES colabora com mais o dobro do valor e você recebe uma recompensa como agradecimento. Assim, se você contribuir com R$ 10 , por exemplo, o BNDES contribuirá com mais R$ 20, somando R$ 30 reais de apoio ao nosso projeto.
É importante lembrar que a campanha é TUDO ou NADA e precisamos atingir a meta mínima de 75 mil reais. Caso a meta não seja atingida, o dinheiro é devolvido para o colaborador e o projeto não sai do papel.
Contamos com você!
Faça sua contribuição em: benfeitoria.com/conectandohistorias
O Ekos Brasil entrevistou o engenheiro florestal e coordenador geral da Associação Plantas do Nordeste, Frans Pareyn, sobre os desafios e os potenciais da Caatinga para o desenvolvimento sustentável do Brasil. Leia na íntegra.
Nossa Caatinga tem em torno de 84 milhões de hectares. Com a ajuda de uma ferramenta, observamos que em 1985, a Caatinga tinha 68% de cobertura original. Em 2018/19 esse número baixou para 59%.
Isso significa que a Caatinga perdeu cobertura? Sim, perdeu. Mas quando olhamos de perto, a maior perda aconteceu antes dos anos 2000. A partir de então, a perda foi pequena e praticamente ficou em um equilíbrio, na faixa dos 60%.
Isso dá uma certa tranquilidade. Significa que minimamente a Caatinga vem sendo mantida. Mas significa que não há desmatamento? Não. O desmatamento acontece sim. Mas nesse caso, o bioma é diferente dos outros.
A perda e a recuperação ficam espalhadas dentro do bioma. Temos um mosaico de áreas de perdas e ganhos. Mas a cobertura (paisagem) mais ou menos se mantém. Isso é bem diferente de Cerrado e Amazônia, onde há uma perda diferente da floresta.
Isso é um reflexo dos sistemas tradicionais de produção dentro bioma como a agricultura de pequena escala, a exploração da vegetação para abrir áreas agrícolas, usar num determinado período e depois deixar de novo para a recuperação florestal.
A vegetação da Caatinga, por exemplo, tem tido uma importância grande na pecuária extensiva, pois oferece forragem nativa para os animais domésticos. Então, nem em fazendas grandes o pessoal desmata tudo, porque a própria Caatinga tem esse suporte forrageiro, dá essa contribuição para essa atividade tradicional.
Isso é totalmente diferente do Cerrado e da Amazônia.
E isso também significa que não podemos tratar o Bioma Caatinga como os outros. As políticas públicas deveriam estar adequadas para esse sistema produtivo. Mas ao longo da história, vimos que ela é usada para áreas agropecuárias e madeira, dois motivos principais pra exploração sua exploração.

Paisagem da Caatinga na Paraíba/Wikipedia
Essa é a grande questão. Paralelamente aos cerca de 7,3 milhões de hectares de Caatinga protegidos em Unidades de Conservação, que representam apenas 8,08% da área original do bioma original, em diferentes graus de proteção, temos uma população relativamente grande no semiárido e que diariamente pressiona os recursos naturais existentes.
Uma das atividades principais para essa população é a extração de lenha/madeira. Porém, a vegetação não tem muita vocação para madeira, porque são árvores menores. Mas tem uma vocação para biomassa de energia, então serve muito bem para produção de energia.
Recentemente fizemos um estudo e vimos que, atualmente, o setor industrial e comercial da região do bioma demanda anualmente em torno de 7 milhões de toneladas de matéria seca, isso para atender a energia calorífica em processos industriais como cerâmicas, padarias, casas de gesso, etc. Praticamente todas as indústrias do Nordeste funcionam com biomassa (lenha).
E quem cozinha com lenha e carvão também precisa dessa mesma quantidade, cerca de 7 milhões de toneladas de matéria seca. Porém, no caso domiciliar acontece a catação de madeira morta na floresta, ao menos na zona rural. Enquanto o setor industrial desmata para atender fornos e caldeiras.
Por um lado, temos várias fontes de biomassa para energia, além da lenha: algaroba, poda de caju, poda de frutífera, bambu, eucalipto, etc, para atender essa demanda energética. Todos esses juntos, hoje representam 5,5 mi de toneladas.
Ou seja, ainda temos um déficit (em relação às 7 milhões de toneladas de demanda) que é abastecido por lenha da Caatinga
Isso não seria um problema se o déficit fosse abastecido pela madeira proveniente dos planos de manejo, mas todos os levantamentos que temos, inclusive de 2018, vimos que os planos de manejo representam apenas 300 mil hectares.
As áreas manejadas são uma fonte de renda, garantem conservação da biodiversidade e abastecem a demanda por energia, que precisa ser atendida e que a outra alternativa seria o uso de combustíveis fósseis.
Se quisermos nos adequar às preocupações atuais em termos ambientais, isso significa conservar a biodiversidade, conservar o ecossistema e evitar a emissão de Gases de Efeito Estufa. Por isso, a produção sustentável de energia renovável é a melhor opção.
E a Caatinga se adequa muito bem. Ela tem capacidade de produzir! Já conhecemos com bastante segurança o grau de produtividade que existe em suas diversas regiões e há um sistema de manejo que garante sua sustentabilidade a longo prazo.
Por exemplo, imagine que eu, Frans, tenho uma cerâmica que precisa de lenha todo mês para produzir telha e tijolo. Tenho várias alternativas para energia. Se for fogo a lenha, posso usar lenha nativa ou biomassa. Só que boa parte da lenha que compro vem de fonte não identificada, ilegal. O que posso fazer?
Conheço uma fazenda localizada na Caatinga, mas que faz plano de manejo, ou seja, contratou um engenheiro florestal que estimou qual a produção possível de madeira de acordo com um ciclo de corte, submeteu o plano ao órgão ambiental que anualmente vai emitir uma autorização para exploração da área de caatinga. E aí essa lenha é vendida legalmente para qualquer demanda. E eu posso comprar. Então, a minha cerâmica não emite Gases de Efeito Estufa porque comprei madeira de manejo sustentável. No nosso entender o balanço é neutro. Vou emitir, mas esse carbono é paulatinamente reincorporado na floresta que está crescendo. Isso é uma opção fantástica para contribuir no balanço das emissões.
Usar a energia renovável da Caatinga é uma fonte de renda local. É um sistema barato e faz bem pra economia local. Tem um apelo social e econômico para geração de renda e emprego. Especialmente em uma região que carece de oportunidades produtivas. Por isso, defendemos muito o manejo florestal da Caatinga. O manejo pode ser integrado com a pecuária, desde que se respeite as quantidades de carga, com a apicultura, etc. Não tem muito conflito de interesse.
No entanto, de 2015 a 2018 (último dado disponível) tivemos uma queda absoluta: tivemos menos área manejada em 2018 do que em 2015, ou seja, menos oferta de lenha manejada, enquanto a demanda aumentou. Isso é catastrófico, temos mais lenha ilegal, sem controle, sem garantia de evitar emissões GEE.
De acordo com nossas estimativas, precisaríamos ter 1,5 milhões de hectares manejados, aí sim teríamos uma situação ambientalmente correta.

Algaroba na Caatinga | Foto: Glauco Umbelino/Wikipedia
Em termos de legislação, para que não houvesse nenhum aproveitamento ilícito da Caatinga, os órgãos ambientais se tornaram muito exigentes, o que é bom, mas pouco eficiente. Se há intenção em fazer um plano de manejo, a pessoa desiste no meio do caminho. Não existe uma política de incentivo ao plano de manejo. E na maioria dos casos se diz apenas o que não pode. Não é desenhado para ser algo atrativo.
Não reclamo dos órgãos ambientais. Mas o fazendeiro, por exemplo, pensa 3 vezes antes de entrar com uma solicitação para plano de manejo.
Se eu fosse um órgão ambiental, receberia e já iria perguntar o que ele precisa. É muito melhor do que qualquer desmatamento descontrolado.
E o principal motivo de isso não avançar é a mentalidade, a opinião generalizada que se implementou que o uso de floresta é algo ruim porque temos uma pressão de desmatamento. Também sou contra o desmatamento, mas do uso sustentável da floresta não posso ser. É possível um uso adequado, racional, evitando perda de cobertura, de serviço ecossistêmico, mas possibilitando proveito econômico.
E não vejo isso acontecer sem políticas públicas.
Infelizmente quem faz certo e quem faz errado é tratado igual pela lei. E se eu faço certo, custa mais caro.
Diante das várias crises que vivemos no momento – crise climática, de perda da biodiversidade e de poluição dos mares, por exemplo, – é cada vez mais comum ouvirmos a palavra bioeconomia como algo que pode nos tirar deste quadro preocupante. Esta palavra vem associada à ideia de algo novo, de uma economia nova, que seja capaz de desenvolver e introduzir nos processos produtivos uma nova lógica que associa o uso dos recursos naturais e o conhecimento. Essa nova economia também busca se aproximar das demandas de consumo de uma sociedade cada vez mais exigente em relação aos cuidados com o meio ambiente.
A definição de bioeconomia possui certa flexibilidade porque seu desenvolvimento depende dos recursos naturais disponíveis em cada região ou país. De acordo o Global Bioeconomy Summit 2018, bioeconomia é “a produção, utilização e conservação de recursos biológicos, incluindo conhecimentos, ciência, tecnologia e inovação relacionados, para fornecer informações, produtos, processos e serviços em todos os setores econômicos, visando a uma economia sustentável”. A principal lógica da bioeconomia é encontrar novos usos para produtos de origem biológica. Porém, ainda que este conceito possa agregar especificidades relativas ao local e recursos naturais associados à bioeconomia, falta uma abordagem explicita sobre o papel da conservação das florestas tropicais neste contexto.
Mesmo que este conceito pareça novo para alguns, ele foi cunhado nos anos 70 pelo economista e matemático romeno Nicholas Georgescu-Roegen. Naquela oportunidade, Georgescu-Roeggen, vislumbrava ser possível o desenvolvimento de uma economia dentro dos parâmetros da natureza. Para ele, as pessoas não precisariam depender exclusivamente dos combustíveis fosseis uma vez que plantas e microrganismos poderiam produzir quaisquer materiais.
Hoje, vários países do mundo têm incorporado a bioeconomia em suas estratégias de desenvolvimento dado seu potencial econômico aliado à sustentabilidade, e às demandas dos consumidores. Trabalho publicado pela OCDE indica que até 2030, a contribuição global da biotecnologia alcançará mais de US$ 1 trilhão distribuídos entre os setores de saúde, produção primária e industrial.
Na União Europeia, inciativas inovadoras relacionadas à bioeconomia ganharam espaço já nos anos 2000. Na oportunidade, o bloco europeu já apostava na exploração dos recursos biológicos antevendo a solução de problemas ambientais, o que culminou com o lançamento, em 2012, de sua Estratégia Regional de Bioeconomia, atualizada em 2018. Países como a Alemanha, França, Reino Unido, Itália, Finlândia, Suécia e outros, possuem Planos Nacionais de Bioeconomia. Os Estados Unidos são outro expoente desta tendência.
Dados da Comissão Europeia apontam que setores ligados à Bioeconomia nesta região movimentam 2,3 trilhões de euros/ano e geram 18 milhões de empregos (ou 8,3% do mercado), enquanto a contribuição para o PIB europeu é de 620 bilhões de euros (4% do PIB regional).
Um reforço importante para o avanço da bioeconomia vem da iniciativa “European Green Deal” que reposiciona a relação do bloco com outros países com os quais têm relações comerciais. Esta iniciativa prevê medidas para proteção de florestas tropicais, incentivando a aquisição e consumo de commodities provenientes de cadeias de abastecimento livres de desmatamento.
Este movimento já traz reflexos para o Brasil. Está em discussão no Parlamento Europeu projeto de lei para responsabilizar civil e penalmente empresas importadoras de commodities de áreas desmatadas. A demonstração prática recente desta iniciativa se deu em junho de 2020, quando 29 instituições financeiras, entre fundos de pensão e bancos que juntos somam quase US$ 3,75 trilhões sob sua gestão, enviaram carta ao governo brasileiro, demonstrando preocupação com o desmonte das políticas ambientais e o avanço significativo do desmatamento.
Possuidor de um território com mais de 8,5 milhões de km2, onde se inserem sete biomas (incluindo o mar) que abrigam 20% do número total de espécies existentes (116 mil espécies de animais e 55 mil espécies de plantas) e onde está a maior floresta tropical do planeta, o Brasil desponta como um país de enorme potencial para o desenvolvimento da bioeconomia. Por estas características também se vislumbram novos ganhos para a economia, para o desenvolvimento científico, a conservação da biodiversidade e valorização dos conhecimentos tradicionais. O pesquisador José Vitor Bomtempo Martins, Coordenador do Grupo de estudos em Bioeconomia da UFRJ estimou que a bioeconomia representava U$ 286 bilhões no Brasil em 2016, ou perto de 14% do PIB.
Além dos recursos naturais favoráveis ao desenvolvimento da bioeconomia, o Brasil também possui outros atributos importantes como a presença de uma agricultura desenvolvida, um grande potencial para gerar energia eólica e solar e experiências bem sucedida em biocombustíveis. Estes setores já mostram resultados interessantes e alguns exemplos correntes como os abaixo listados:
Mas, é necessário que o país invista em outros setores para o pleno desenvolvimento da bioeconomia, que possam incluir outros atributos da nossa biodiversidade. A floresta em pé́, por exemplo, tem um valor que ainda desconhecemos por completo. Além dos serviços ecossistêmicos prestados ao planeta, como captação de CO2, manutenção do regime de chuvas, conservação da biodiversidade, entre tantos outros benefícios, há incontáveis potencialidades que podem se transformam em riquezas, sem agressão à natureza.
Atualmente, em alguns círculos de discussões (técnico-político-filosófico e de desenvolvimento sustentável), o bioma amazônico, onde habitam 25 milhões de pessoas, parece o lócus privilegiado para o desenvolvimento da bioeconomia. Manter este bioma conservado é, portanto, manter uma vantagem comparativa única para o Brasil. Mas, a forma de transformar esta vantagem em ativos econômicos ainda demandará tempo.
Entende-se que o desenvolvimento econômico, que tem na inovação em bioeconomia sua lógica, terá que transformar as formas correntes de cadeias de valor e mercados de produtos. É preciso ter como pano de fundo a conservação da biodiversidade, evitando sua simplificação ao mesmo tempo que se deve promover a expansão dos territórios conservados. Em igual medida, é imprescindível focar na melhoria do bem-estar das populações que vivem na floresta e dela retiram sua sobrevivência material, cultural e espiritual. A bioeconomia precisa ser ambientalmente comprometida, equitativa e socialmente inclusiva.
Para que este foco da Bioeconomia seja alcançado, é importante distingui-lo do viés conceitual utilizado nas economias industrializadas, baseado principalmente na substituição de materiais e combustíveis fósseis, promoção do setor agrícola, e de energias alternativas, que focam na redução de emissões de gases de efeito estufa. Isto se mostra particularmente relevante para que as políticas públicas por vir, evitem fortalecer atividades que levem ao desmatamento e concentração de riqueza e renda.
Para que o potencial da Bioeconomia se materialize, alguns gargalos devem ser enfrentados, tanto aqueles de caráter geral, quanto os específicos para a região amazônica e outros biomas.
De forma geral, os problemas apontados são: falta de mão de obra qualificada; coordenação política; inexistência de um Plano Nacional de Bioeconomia – existindo apenas ações voltadas a setores específicos com visão incompleta e fragmentada; excesso de burocracia que estende sobremaneira o tempo para a realização de pesquisas, e falta de sinergia entre iniciativa privada, governo e academia.
Já no tocante à região amazônica, somados aos gargalos gerais há limitações aos produtos florestais extrativos, decorrentes das suas próprias características assim como da própria região: alta perecibilidade dos produtos, dificuldades logísticas, instabilidades na produção (volume, qualidade, etc.), mercado pouco organizado e baixa tecnologia. Estas características reforçam a presença de atravessadores, dificultando o estabelecimento de canais diretos com os produtores, o que por vezes afasta potenciais compradores e desincentiva a melhoria da própria cadeia produtiva.
Portanto, para que nosso potencial natural possa aumentar os ganhos com a bioeconomia, há que se olhar com cuidado para o potencial e capacidade de cada setor, de forma que sejam respeitados e incentivados o cuidado com nossos biomas e sua biodiversidade e que sejam respeitados os direitos e conhecimentos das populações tradicionais.
Por Maria Cecilia Wey de Brito, Instituto Ekos Brasil.
Fontes
Especial Guia Exame de Sustentabilidade – a Economia do Futuro (13/11/2019)
Instituto Escolhas e IRICE (Instituto de Relações Internacionais & Comércio Exterior). Agenda para o destravamento da Bioeconomia. 2019
Instituto Escolhas – Revista – Interesse Nacional – ano 13 Edição especial 01 – Bioeconomia – Ago 2020
Revista Página 22 News – Amazônia Legal em Dados | Bioeconomia | ESG e exploração | Mulheres e Clima (fevereiro de 2021)

Em conversa informal com os colaboradores do Instituto Ekos Brasil, o indigenista Sydney Possuelo, fala sobre as perspectivas e os desafios atuais – alguns não tão atuais assim – dos povos indígenas.
“Muitas vezes nós, estando abrigados nas nossas cidades e construções, neste nicho que criamos, esquecemos que os indígenas também são nossos irmãos, que precisamos também assistir a eles”. Essas palavras de alerta são de Sydney Possuelo, brasileiro indigenista, sertanista, ex-presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai) e considerado a maior autoridade com relação aos povos indígenas isolados do país.
Sua história com a causa começa cedo. Desde pequeno se apaixonou pela aventura, pela natureza. A pesca, caça, a história do Brasil e propriamente a questão indígena, especialmente voltada aos povos isolados, guerreiros e valentes, sempre lhe chamaram muito atenção. “Acredito que há certas características que nos ajudam a seguir no nosso destino”, declara.
Foi ainda muito jovem que procurou os irmãos Villas-Bôas, os sertanistas mais famosos do país. “Eu percebi que era isso que eu buscava. Então, segui este destino que eu havia escolhido”.
Naquela época, não havia escritórios da FUNAI. Como seu zelo maior sempre foi sob a luta dos Direitos Humanos, Possuelo trabalhou muito perto de comunidades indígenas isoladas, para defendê-las e apoiá-las.
De acordo com ele, as histórias vividas na mata são infinitas. E são fortes e sofridas, da maneira como realmente é a vida dos indígenas, que necessitam lutar por suas vidas, por seus direitos básicos e por suas terras cotidianamente. “Eu, sozinho, junto dos Caiapós principalmente, enfrentei problemas de saúde, epidemias, situações que foram muito, muito difíceis”, relembra.
Descreve que uma vez estava no posto e foi chamado com pressa por dois jovens que carregavam uma mulher em uma rede. “Quando eu abri a rede, ela estava dando à luz e tinha apenas uma mãozinha saindo da mulher. Fomos então para o ambulatório e tentamos pensar em como faríamos para tirar a criança dali. Pensamos em empurrar o braço para dentro e tentamos encaixar a cabeça da criança no local exato de parir. Eu estava ali de calção e o suor caía em cima da barriga da mãe. Já tinha colocado soro e penicilina para ela, que já estava muito fraca. Já era tarde demais para o bebê. Descobrimos horas depois que ele já estava morto há dois dias”, narra o indigenista.
“Depois foi a segunda parte”, recupera da memória. Pegaram um pequeno avião para levar a mãe ao hospital em Goiânia, mas nenhum aceitava tratá-la. Por fim, entrou no hospital, repousou a mulher em uma maca e disse que não sairia dali até que ela fosse atendida.
“Não é uma história bonita, mas que reflete a vida, as angústias, tristezas, dores, ferimentos dos indígenas. Suas histórias com os brancos não são belas. Até hoje essas relações são muito difíceis”, evidencia.
Apesar de governantes brasileiros já terem assinado diferentes tratados internacionais visando a conservação do meio ambiente e da cultura dos povos indígenas, são poucos os que de fato são colocados em prática. Isso porque a prioridade do Estado é aplicar o regimento interno, que muitas das vezes vai contra os princípios sustentáveis.
O sertanista é decisivo ao dizer que o Estado brasileiro nunca protegeu os povos indígenas e nunca teve uma ação de defendê-los. Segundo ele, houve governos que cuidaram menos ou mais dessas ações, entretanto, “o eterno conflito dos que disputavam a terra ainda existe”.
“Devemos entregar os direitos que são deles. Nós devemos olhar com o coração, pois o governo não tem nenhuma decência com os povos e penso que, trazendo tudo isso para os dias atuais, vemos que o tempo não é favorável aos indígenas. Vemos que há um sentimento nacional embutido de que índio é atraso, é sujo, contra o desenvolvimento, contra o progresso”, discorre Possuelo.
E completa: “Eu diria que nunca na história do Brasil nós vivemos um momento tão perigoso para os povos indígenas”.
A guerra contra as comunidades indígenas não é formal ou declarada. Aprende-se na escola sobre a chegada dos europeus às Américas e sobre a perversidade das ações dirigidas aos que habitavam esta terra. “Sempre houve uma luta por direitos e por terras dos dois lados. A luta dos brancos foi mais no início, inventando normas, carimbos. Chegamos aqui e dissemos ‘olha, você que está aqui há mil anos, não é mais dono desta terra’, porque o índio não tinha as coisas que nós inventamos. Não tinha carimbo, não tinha papel. Não precisa ser jurista para saber que isso está errado”, conta.
Se o arcabouço social e jurídico não favorece sua cultura, as comunidades precisam lutar por seus direitos. Graças a chegada da internet nas aldeias, principalmente os jovens têm tomado o seu devido espaço nas redes sociais, como influenciadores digitais que divulgam informações sobre sua cultura e seu cotidiano; além de ocupar espaços nas universidades, nos congressos e, principalmente, na raiz do problema: na política.
Mas Possuelo acredita que além de pressionarmos ou cobrarmos pelos povos indígenas, a grande mudança tem que partir da população branca. Ele defende que os índios isolados têm o direito de permanecerem afastados da civilização – se assim o quiserem – para “não viverem as nossas angústias”.
“No final de todas as contas, o que estamos fazendo das nossas vidas? Estamos buscando ser felizes. Neste sentido, eles são muito melhores do que nós. Não existe essa vaidade absurda. Há pessoas que acham que isso é atraso, mas não existem sociedades ultrapassadas. Existem sociedades que seguem caminhos diferentes de nós, eles vivem no conforto, não acumulam nada, porque acreditam que a natureza que foi generosa para seus avós e bisavós vai continuar a ser generosa com eles”, diz.
Sem dúvidas, Sydney Possuelo é um exemplo de persistência, luta, empatia, humildade e consciência. “Os índios não desapareceram, seja há 30 ou 300 mil anos. E não vão desaparecer. Serão cada vez mais incorporados. Se os isolados precisam de proteção, os que estão em contato conosco precisam de nós, de saúde, de educação. O futuro precisa de nós, pois isso tudo é reflexo das nossas ações. Os índios não irão desaparecer, serão minoria, mas estarão presentes e obtendo dessa nação seus direitos. Saúde e longa vida aos povos indígenas”, conclui.
O Instituto Ekos entrevista a doutora e pesquisadora científica do Museu Biológico do Instituto Butantan, Erika Hingst-Zaher, que apresenta sua visão sobre a importância do centro de pesquisa para além das vacinas e incentiva o merecido espaço das mulheres na ciência.
Quem não conhecia, certamente ouviu falar sobre o Instituto Butantan recentemente. Esse centro de pesquisa biológica, que ganhou o nome por estar localizado no bairro do Butantã, zona oeste da cidade de São Paulo, tem recebido grandes destaques na mídia nacional pelo desenvolvimento da vacina contra a Covid-19. Mas, você conhece as atividades do centro de pesquisa para além da vacina?
O Instituto Butantã e o Ekos Brasil são parceiros de longa data. Para nos contar um pouco sobre o histórico dessa parceria e, principalmente, para nos atualizar sobre a relevância desse importante polo de ciência, vamos entrevistar a pesquisadora científica Erika Hingst-Zaher, do Museu Biológico do Instituto Butantan. Para ela, “a ciência pode mudar o mundo”.
Erika Hingst-Zaher – O Instituto Butantan é uma das mais antigas e reconhecidas instituições de pesquisa do Brasil, criada em 1900 para combater a peste bubônica que então chegava ao país. Além da produção bem-sucedida do soro antipestoso, o primeiro diretor do Instituto, o médico Vital Brazil, teve papel de destaque no debate internacional sobre o tratamento de acidentes ofídicos.
Na época, defendia-se que apenas um soro seria suficiente para tratar todos os tipos de picadas de cobra, entretanto Brazil, que conduzia as pesquisas sobre a produção do soro e campanhas junto ao público, para evitar os acidentes, propunha uma ideia diferente: para diferentes grupos de serpentes e tipos de veneno seriam necessários tipos diferentes de soros, o que hoje sabemos que é fundamental.
Hoje, com 120 anos de existência, o Butantan é organizado em três grandes áreas: pesquisa, produção e área cultural. A pesquisa feita aqui é muito diversa, indo desde a biologia animal, venenos, epidemiologia, imunologia, identificação de genes e proteínas e muitas outras áreas. Na produção de vacinas e imunobiológicos, somos responsáveis por metade da produção nacional de vacinas e praticamente todos os soros distribuídos pelo SUS.
O Instituto atua também no ensino, através de sua pós-graduação e formação de alunos de diversas áreas, e mantém uma forte comunicação com o público, através de seu papel que vai além da pesquisa: a educação e a divulgação científica. Um grande número de escolas e visitantes espontâneos visitam os museus e frequentam o parque que abriga uma floresta urbana com rica fauna e vegetação, na zona oeste de São Paulo.
Como você avalia a importância do Instituto Butantan no desenvolvimento da ciência no Brasil?Erika Hingst-Zaher – A criação dos institutos de pesquisa foi uma tendência mundial no final do século XIX, quando os governos e parcelas mais esclarecidas da sociedade se deram conta de que o conhecimento e o controle de doenças eram fundamentais. O tipo de pesquisa realizada nas instituições como o Pasteur, em Paris, e o Instituto Ingês de medicina Preventiva, em Londres, divergia das universidades que já existiam na época por seus resultados mais rápidos e aplicados. Nessa época, no Brasil, especialmente em São Paulo, foram organizados institutos públicos de pesquisa nas áreas de saúde, agricultura e meio ambiente, como os Institutos Butantan, Pasteur, Biológico, Botânica, Florestal e Geológico.
Desde então, os governantes paulistas com visão mais ampla, bem como a FAPESP, investiram na consolidação deste sistema público de Ciência, Tecnologia e Inovação que é único no Brasil. O Instituto Butantan, vinculado à secretaria do estado de Saúde, é parte desta estrutura que faz com que São Paulo seja o estado que mais produz ciência no Brasil, e os pesquisadores que trabalham aqui e nos outros institutos são parte de uma carreira especial, a de pesquisador científico.
Erika Hingst-Zaher – Eu sou um dos quatro pesquisadores do Museu Biológico, o museu mais antigo do Butantan e único a apresentar cobras vivas. Os pesquisadores, alunos e funcionários do museu combinam dois tipos de atividade: a pesquisa com animais e a divulgação científica. Os outros pesquisadores estudam principalmente serpentes, através de trabalhos de campo e dos animais mantidos em cativeiro.
Minha formação como bióloga, desde a graduação até o meu doutorado, se deu especialmente nas áreas de zoologia e ecologia de vertebrados, e ainda na conservação do meio ambiente, o que me permitiu uma diversificação de projetos que atende a mais de uma área de pesquisa no Instituto Butantan. Os dois principais no momento são com evolução e diversificação de veneno nas serpentes, e de vigilância epidemiológica para patógenos como o coronavírus e o vírus da influenza em aves e morcegos.
No primeiro, financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e pela National Science Foundation (NSF), trabalho junto com outros pesquisadores do instituto e também de universidades norte-americanas estudando as serpentes e suas glândulas, e a composição do veneno, e ainda na parte de comunicação para o público dos resultados que obtemos. Poucas pessoas já pararam para pensar que o veneno das serpentes tem o propósito para estes animais de capturar sua presa (e não de picar pessoas), ele surgiu e se diversificou para isso. E ainda menos pessoas sabem que o veneno é um coquetel de proteínas que varia muito, mesmo dentro da mesma espécie de serpentes e até em uma mesma cobra ao longo de sua vida.
No segundo, chamado de Projeto Rede de Vigilância de Vírus (PREVIR), juntamente com pesquisadores da USP e de outras universidades e institutos de pesquisa do Brasil inteiro, formamos uma rede que monitora constantemente a presença de vírus em aves e morcegos, que podem vir a causar problemas de saúde ou econômicos. Esse projeto financiado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) começou no final de 2020 e, através dos observatórios e de pontos de coleta em locais estratégicos do país, como a Amazônia e a Floresta Atlântica, procura detectar os problemas antes que eles surjam, para que possamos estar prontos e produzir vacinas antes que novos vírus atinjam populações humanas.
O problema com os vírus e com outros patógenos que podem ser prejudiciais para nós, por incrível que pareça, está ligado à conservação do meio ambiente. O desmatamento e a perda de hábitats levam ao desaparecimento de algumas espécies e ao rearranjo na estrutura das comunidades de animais silvestres que, juntamente com outros fatores, como o contato com animais domésticos ou o consumo de caça, possibilitam que as epidemias surjam entre nós.
Essa abordagem que junta a saúde humana e a conservação dos ecossistemas é relativamente recente, embora seja intuitiva – afinal, como cuidar da saúde humana sem olhar para a saúde do planeta, para a água que bebemos, o ar que respiramos, a origem dos nossos alimentos e a forma como produzimos e a nossa relação com a natureza?. A Organização Mundial de Saúde (OMS) chama essa abordagem de “One Health”, ou saúde única.
Além destas e de outras linhas de pesquisa que combinam a saúde humana e a saúde e conservação do meio ambiente, juntamente com meus alunos e colegas pesquisadores, também produzo material de divulgação científica, exposições e atividades para o público do Butantan.
Ainda durante meu pós-doutorado no Museu de Zoologia da USP, me preocupava com as questões relacionadas ao meio ambiente e o que os cientistas, assim como eu, sabiam que poderia acontecer com a biodiversidade. Só que este é um problema de comunicação: muitas vezes, os cientistas deixam de comunicar para o público descobertas importantes que podem fazer a diferença para nosso bem-estar e para a sobrevivência do planeta.
Tendo isso em mente, fiz uma especialização em comunicação científica na Escola de Comunicações e Artes (ECA-USP), o que me deu uma base para atuar no Museu Biológico na parte de divulgação da ciência. Essa parte do meu trabalho, na qual desenvolvo materiais e atividades para o público na área de biodiversidade, é extremamente gratificante, e envolve não apenas exposições e filmes, mas também atividades como caminhadas para a observação da fauna e da flora na floresta do Instituto.
Erika Hingst-Zaher – Trabalho em colaboração com o Instituto Ekos desde 2005 elaborando planos de manejo de áreas protegidas, como parques estaduais e estações ecológicas, e propondo a criação de novas áreas destinadas à conservação. Foram sempre trabalhos extremamente enriquecedores, com o convívio com pesquisadores de outras áreas e com a equipe do Ekos.
De todos estes trabalhos, aquele do qual mais me orgulho, e que me traz imensa felicidade foi a proposta para a WWF de criação de uma grande área protegida na restinga de Bertioga, atualmente o Parque Estadual da Restinga de Bertioga. Esta área é extremamente importante e única em sua biodiversidade, já que é uma faixa litorânea de vegetação com origem e formação diferente do restante da Floresta Atlântica e sofria grande pressão para desenvolvimento de empreendimentos imobiliários e turismo.
Com isso protegemos diversas espécies ameaçadas e um patrimônio único.
Quais são os desafios que você, como pesquisadora científica, enfrenta hoje no Brasil?Erika Hingst-Zaher – Sem dúvida o maior desafio é o sucateamento da ciência e a falta de apoio dos governantes às pesquisas de longa duração e à manutenção da estrutura, universidades e institutos onde a pesquisa é feita no Brasil. A carreira de pesquisadora científica não tem mais o prestígio e o apoio que tinha no passado. Vejo meus colegas se aposentando, enquanto não se abrem novas vagas para substituí-los ou para continuarem suas linhas de pesquisa.
O mesmo se passa com os institutos de pesquisa, que até então foram um dos grandes diferenciais para a produção científica no estado. As incertezas sobre financiamento e bolsas para alunos de pós-graduação desenvolverem seus projetos afasta muitos jovens promissores da possibilidade de seguir uma carreira acadêmica na ciência.
Mas não quero falar apenas das coisas negativas. Assisti no decorrer do último ano um interesse renovado da sociedade, em geral nos cientistas e na ciência que é feita no Brasil, e espero que isso faça com que os governos, em vários níveis, voltem seus olhos também à importância de avançarmos com a ciência pura e aplicada e para sua importância à soberania nacional, a exemplo do que se faz em países desenvolvidos.
Erika Hingst-Zaher – Neste mês de março, quando pensamos mais nas meninas e nas mulheres, queria deixar minha mensagem especialmente para elas que, frequentemente quando estão crescendo, acreditam menos em si mesmas. Isso porque quando chegamos na pós-graduação ou no exercício da profissão na área acadêmica, vemos menos mulheres presentes em bancas e congressos, ficamos menos à vontade para fazer perguntas após palestras e apresentações, recebemos menos convites para reuniões científicas e bancas de pós-graduação e concursos, e levamos a responsabilidade maior na dupla jornada com os cuidados da casa, dos filhos e da família.
Queria dizer para todas que a ciência é sim uma atividade para as mulheres e que temos a capacidade de seguir carreira em STEM (termo em inglês para Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática). Além disso, enquanto cientistas, frequentemente orientamos alunos de forma melhor, com mais suporte emocional, além de profissional.
Tenho a sorte de ao longo da minha formação ter tido colegas mulheres na ciência sensacionais, que me mostraram que podemos fazer muito além e melhor. No Instituto Butantan, as mulheres têm uma posição de destaque na coordenação e na condução de pesquisa de ponta. Tenho também a sorte de ter a inspiração de zoólogas brasileiras ou radicadas no Brasil, como Emilie Snethlage e Bertha Lutz, que foram expoentes em suas áreas e lutaram pelo direito das mulheres em várias frentes, abrindo caminho para quem veio depois.
Minha mensagem é para as meninas e mulheres que gostariam de fazer pesquisa, para que não desistam se seus sonhos, de sua vontade. Apesar de todos os desafios, muitos dos quais mencionei aqui, a ciência pode nos estimular e nos mover para diante. A ciência pode mudar o mundo.

O Brasil depositou na Organização das Nações Unidas (ONU) a carta de ratificação do Protocolo de Nagoia, que regulamenta o acesso e a repartição de benefícios, monetários e não monetários, dos recursos genéticos da biodiversidade. De acordo com nota conjunta dos ministérios das Relações Exteriores e do Meio Ambiente, o documento assinado pelo presidente Jair Bolsonaro foi entregue ontem (4) à ONU.

O protocolo é um acordo multilateral acessório à Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB), elaborada durante a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Eco-92), realizada no Rio de Janeiro em 1992. Ele foi concluído durante a 10ª Conferência das Partes da Convenção (COP-10), em 2010, em Nagoia, no Japão, e assinado pelo Brasil no ano seguinte,em Nova York.
O documento tem por objetivo viabilizar a repartição justa e equitativa dos benefícios derivados da utilização dos recursos genéticos da biodiversidade, como plantas, animais e micro-organismos, e dos conhecimentos tradicionais a eles associados. O tratado abrange pontos como pagamento de royalties, estabelecimento de joint ventures (associação de empresas), financiamentos de pesquisa, compartilhamento de resultados e transferência de tecnologias e capacitação.
Como é um tratado internacional, a entrada em vigor no Brasil dependia de aprovação do Congresso Nacional. Em agosto do ano passado, o documento foi então aprovado pela Câmara e pelo Senado e promulgado em decreto legislativo. “A entrega da carta de ratificação encerra um processo de debates que se estendia há anos no âmbito do governo federal e do Poder Legislativo. O engajamento do governo e o compromisso estabelecido entre representações do agronegócio e da área ambiental propiciaram a conclusão do processo de ratificação”, diz nota conjunta.
De acordo com o governo, o Brasil poderá participar das deliberações futuras no âmbito do protocolo, que ocorrerão já a partir da próxima Conferência das Partes da CDB, “na qualidade de país que dispõe de legislação avançada sobre biodiversidade e repartição de benefícios e que conta com um setor agropecuário moderno, com inestimáveis recursos genéticos derivados de seu patrimônio ambiental”.
Para os ministérios, a adesão do país ao Protocolo de Nagoia contribuirá para trazer segurança jurídica aos usuários e fornecedores de material genético e poderá desempenhar papel importante no processo de valorização dos ativos ambientais brasileiros, sobretudo no âmbito do pagamento por serviços ambientais e no desenvolvimento da bioeconomia.
“O Brasil reafirma seu compromisso com o desenvolvimento sustentável e seu engajamento com o sistema multilateral, ao mesmo tempo em que persegue sua autonomia tecnológica e econômica e o fortalecimento da soberania sobre os recursos naturais em seu território”, finaliza a nota.
Edição: Graça Adjuto
Fonte: Agência Brasil

Instituto Ekos Brasill lança o projeto BioDiversos com uma série de depoimentos de profissionais renomados de diversas áreas de atuação sobre suas percepções e experiências com a biodiversidade. Um convite para celebrarmos o equilíbrio entre a existência humana e a natureza. Os vídeos são lançados periodicamente e ficam disponíveis nessa página e em nossas redes sociais.
A biodiversidade é um dos sustentáculos da vida em nosso planeta. É uma dádiva que resultou de bilhões de anos de desenvolvimento e, por isso, única e tão importante.
Mas a verdade é que poucos entendem a profundidade do que esse termo tão difundido representa.
A Biodiversidade contempla a heterogeneidade de todas as formas de vida existentes, – no mar, na terra, nos rios, no ar, em todos os ambientes -, incluindo a do homem. E é essa riqueza de combinações (genética, de espécies e ecossistemas), além das suas inter-relações, que fornece preciosos recursos e serviços necessários à manutenção da vida como a conhecemos, da nossa vida!
Gratuitamente, é a biodiversidade que modera e mantém as condições climáticas e da temperatura; a regulação e a purificação de gases atmosféricos; a manutenção e fornecimento de água para o consumo; o fornecimento de alimentos, fibras e combustíveis; a polinização de plantas, incluindo muitas espécies de interesse econômico; o controle natural de pestes e doenças, isso só para citar poucos exemplos.
“Mas, apesar de sua enorme importância, o empobrecimento da biodiversidade tem sido constante e intenso. É imperativo que chamemos a atenção das pessoas sobre essa tendência de forma explícita. Por isso, trouxemos neste projeto abordagens que aproximam a biodiversidade ao cotidiano das pessoas”, explicou Ciça Wey de Brito, coordenadora de relações institucionais do Instituto Ekos Brasil.
Desde o dia 22 de maio, Dia Internacional da Biodiversidade, o Ekos Brasil começou a disponibilizar uma série de depoimentos de profissionais de diferentes áreas de atuação e do conhecimento como arquitetura, medicina, culinária, tecnologia, comunicação, etc. para que as experiências, visões e usos que fazem da biodiversidade sejam compartilhados com todos.
Abaixo, você confere os depoimentos que já estão disponíveis.
Nosso primeiro convidado é o renomado arquiteto e designer Carlos Motta!
Ele compartilha conosco como desenvolve criações únicas e especiais com respeito e sensibilidade em relação à natureza.
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No segundo depoimento da série BioDiversos, o renomado cozinheiro Alex Atala nos conta sobre o seu compromisso com biodiversidade e apreciação do seu valor. Fala do Instituto ATA e do valor da proteção dos rios, mares e florestas e dos homens e mulheres que neles habitam e deles tiram seu sustento. Atala nos convida a compreender o ciclo interdependente e bonito que existe entre o saber, o comer, o cozinhar, o produzir e a natureza.
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Em seu terceiro vídeo, o projeto BioDiversos trata de biodiversidade e saúde e a bióloga e pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz, Marcia Chame, foi a convidada da vez. Especialista no estudo de doenças silvestres, Chame explica a raiz de suas pesquisas e a comprovação científica da importância da biodiversidade para a saúde humana, inclusive na prevenção de epidemias. Assista, entenda e compartilhe.
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No quarto episódio da série Biodiversos, Nurit Bensusan nos conta como busca popularizar a ciência e a biodiversidade em si com livros e jogos especialmente dedicados às crianças. “As crianças têm grande empatia com a conservação da natureza e podem ser as pessoas do futuro para fazer o mundo diferente”.
Dê o play e confira essa e outras reflexões sobre biodiversidade com Nurit Bensusan!
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Neste episódio da série BioDiversos, o professor Alexander Turra, oceanógrafo da Universidade de São Paulo e coordenador da Cátedra Unesco Sustentabilidade do Oceano comenta os desafios da conservação da vida marinha, tão importante e tão ameaçada pelas agressões da humanidade.
Assista e compartilhe!
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O projeto BioDiversos chega ao sétimo episódio entrevistando Daniel Lombardi, tradicional arqueteiro brasileiro comprometido com a conservação da Mata Atlântica e também de uma das mais emblemáticas espécies de madeira atualmente ameaçada de extinção, o Pau-Brasil.
Assista e compartilhe!
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No oitavo episódio, chegou a vez de Felipe Jannuzzi, pesquisador de plantas brasileiras, produtor de bebidas destiladas e criador do Mapa da Cachaça e da Etthylica compartilhar seu depoimento com a extração de aromas e sabores da nossa flora para produzir bebidas destiladas diferenciadas.
Assista e compartilhe!
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Porque ela está em risco. E todas os bons exemplos e atuações pela sua conservação devem ser comemorados! Afinal, os dados não são animadores.
O relatório da Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES) – Global Assessment on Biodiversity and Ecosystem Services, de 2019, informa que aproximadamente 75% da superfície da Terra está significativamente alterada, que 66% da área dos oceanos estão experimentando impactos cumulativos crescentes e que 85% das áreas úmidas já foram perdidas.
Mas veja só. A versão deste relatório para as Américas mostra que o valor das contribuições terrestres da natureza é de pelo menos US$ 24,3 trilhões por ano!
Também o último Relatório Global de Riscos publicado no 15o Fórum Econômico Mundial, que ocorre anualmente em Davos, na Suíça, colocou questões ambientais como a perda da biodiversidade e outras ameaças à vida no planeta à frente dos riscos apresentados por tensões geopolíticas e ataques cibernéticos, como fazia antes.
Pela primeira vez este Relatório constatou que os cinco principais riscos de longo prazo para a economia mundial são ambientais. Pela ordem o Relatório aponta os principais riscos como sendo:
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O Instituto Ekos Brasil tem como uma de suas áreas de atuação a conservação do meio ambiente. Temos um conjunto de iniciativas que conectam investimentos privados a projetos que promovem o desenvolvimento sustentável e a mitigação das mudanças climáticas. Também atuamos na gestão e manutenção do Parque Nacional Cavernas do Peruaçu, em conjunto com o ICMBio, um importante reduto de natureza em nosso país.
Depois de sua edição histórica em 2020, na qual pela primeira vez os riscos ambientais estiveram no topo das ameaças para a próxima década, ocupando as 5 primeiras posições do ranking de riscos por impacto, chegou a vez de conferir novamente as reflexões, tendências e conclusões do Global Risks Report 2021 (Relatório de Riscos Globais 2021). O documento elaborado anualmente serve como base para as discussões do Fórum Econômico Mundial, que este ano acontece em formato virtual, nos dias 25 e 29 de janeiro, reunindo 1.200 líderes de 60 países.
No ano em que o Fórum se desenrola durante uma pandemia global e tem a confiança como tema principal – “Crucial Year to Rebuild Trust (O ano crucial para reconstruir a confiança, em tradução livre) – mais uma vez o Relatório de Riscos Globais aponta a interdependência entre os impactos sociais, econômicos e ambientais, mantendo os riscos deste último no topo da lista e incluindo, obviamente, as doenças infecciosas
Para Sônia Favaretto, especialista em Sustentabilidade e integrante do Conselho Técnico do Instituto Ekos Brasil, o fato de os riscos ambientais continuarem figurando como os principais riscos para a próxima década demonstra que a agenda ganhou evidência e que empresas, lideranças e investidores ao redor do mundo serão cobrados, cada vez mais, por suas práticas ESGs.
Cobrança que já começou. Em sua também tradicional carta endereçada aos CEOs de todo o mundo, Larry Fink, CEO e chairman da Black Rock, maior gestora de investimentos do mundo, pressionou as lideranças por uma transição para um modelo de negócios compatível com uma economia neutra em carbono. “À medida que a transição se acelera, empresas com estratégias de longo prazo bem articuladas e um plano claro para abordar a transição para a neutralidade em carbono irão se destacar perante seus stakeholders – perante clientes, autoridades governamentais, colaboradores e acionistas – por inspirar a confiança de que elas conseguem navegar através desta transformação global”, escreveu.
A lista
Entrevistas realizadas com 650 pessoas de várias comunidades do Fórum dão origem a duas listas em evidência no relatório: uma com os principais riscos por probabilidade e outra com os principais riscos por impacto. Todos eles são divididos em cinco categorias e cores (Econômico, Ambiental, Geopolítico, Social e Tecnológico).
No ano passado, na lista por probabilidade, os cinco primeiros riscos do ranking eram ambientais. Este ano, como sinalizamos, o relatório incluiu as doenças infecciosas.
Portanto, os cinco primeiros riscos por probabilidade são: 1. Eventos climáticos extremos; 2. Falha em agir sobre as mudanças climáticas; 3. Desastres ambientais causados pelo homem; 4. Doenças Infecciosas; 5. Perda da Biodiversidade. E entre os riscos por impacto, temos: 1. Doenças Infecciosas; 2. Falha em agir sobre as mudanças climáticas; 3. Armas de destruição em massa; 4. Perda de biodiversidade; 5. Desastres naturais.
Dos 30 riscos identificados, cinco são relacionados ao meio ambiente, sendo os riscos de curto prazo, com probabilidade de acontecer nos próximos dois anos: Eventos Climáticos Extremos e Desastres ambientais causados pelo homem. E de longo prazo, com probabilidade de acontecer entre cinco e dez anos: Perda da Biodiversidade, Crise dos Recursos Naturais e Falha em agir sobre as mudanças climáticas. Este último, inclusive, foi considerado o risco de maior preocupação global, seguido por Perda da Biodiversidade (5ª posição), Eventos Climáticos Extremos (8ª posição) e Desastres ambientais causados pelo homem (9ª posição).
“Para mim, é a comprovação de que essa agenda (a de sustentabilidade) cada vez mais deixa de ser paralela, deixa de ser acessória. As pessoas, os profissionais, os executivos, as lideranças e os governos começam a entender que, de fato, a gente precisa olhar para o negócio não só mais do ponto de vista financeiro, mas um financeiro novo, que considere questões sociais e ambientais. E ter os riscos ambientais como os principais para a próxima década só comprova esse movimento”, comentou Favaretto.
A especialista ainda recomenda que as empresas brasileiras façam bom uso do relatório como ferramenta de trabalho para orientar planejamentos estratégicos, antecipar a materialização desses riscos e atuar como protagonistas de transformação dessa realidade. “Todo risco traz uma oportunidade”, conclui.
A partir de janeiro o Instituto Ekos Brasil irá integrar o Conselho Consultivo do Sistema de Informação e Gestão de Áreas Protegidas e de Interesse Ambiental do Estado de São Paulo (SIGAP), por meio da Coordenadora de Relações Institucionais do Instituto, Ciça Wey de Brito. Sua primeira participação será durante a 6ª reunião extraordinária do colegiado, na qual serão tratados, principalmente, as minutas referentes ao Projeto de Concessão dos Parques Estaduais da Cantareira e do Alberto Löfgren, assim como a referente ao Relatório 2020.
O Conselho é composto por nove membros, sendo três representantes do Governo Estadual, três da academia e três da sociedade civil, todos designados por atos específicos do Governador, a partir da indicação do Secretário de Infraestrutura e Meio Ambiente. Desde 24 de junho de 2014, seus trabalhos são divididos em quatro grupos de atuação. São eles: Pesquisa, monitoramento e bases de dados; Planos de Manejo; Sustentabilidade financeira de Unidades de Conservação; e Formação para Gestão de Áreas Protegidas.
O Sistema visa assegurar um meio ambiente ecologicamente equilibrado a partir do planejamento, da integração e da publicidade das ações do Poder Público. Além disso, age, complementarmente, como instrumento de informação e gestão das áreas protegidas paulistas, com destaque para as unidades de conservação (UC). Para isso, utiliza todas as informações disponíveis no Estado, incluindo aquelas produzidas pelo Instituto Virtual de Biodiversidade, também conhecido como “Programa Biota‐Fapesp”.
Além das UC’s e suas respectivas zonas de amortecimento e corredores ecológicos, também atua nas Áreas de Preservação Permanente (APPs), e de Reserva Legal RL; Reservas da Biosfera; Áreas Úmidas; Áreas Naturais Tombadas; Áreas do Patrimônio Mundial Natural; Áreas de Cavidades Naturais Subterrâneas; Estradas‐Parque; Áreas sob Atenção Especiais do Estado em Estudo para a Expansão da Conservação da Biodiversidade (ASPE); Paisagem Cultural; Eco‐Museu; e Monumento Geológico.
Por Ciça Wey de Brito
Nosso país está mais uma vez indo na contramão do que pregam a ciência, os fatos e sua própria história recente ao não aderir ao “High Ambition Coalition (HAC) for Nature and People” (Coalizão de Alta Ambição para a Natureza e as Pessoas). Em Paris, no último dia 11, 30 chefes de Estado, empresários e representantes de ONGs participaram das discussões para a formalização da HAC. Entre eles estavam o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, o presidente do Banco Mundial, David Malpass, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, a chanceler alemã Angela Merkel e o chefe de governo britânico, Boris Johnson.
Antes de demonstrar este desinteresse pela conservação e uso sustentável da diversidade biológica do planeta, o Brasil, já em outubro de 2020, havia se negado a assinar um compromisso voluntário para reverter a perda da biodiversidade por ocasião do Encontro das Nações Unidas pela Biodiversidade (United Nations Summit on Biodiversity, em inglês) quando líderes de 76 países, além das nações da União Europeia, assinaram um documento se comprometendo a reverter a perda de biodiversidade no mundo até 2030.
O Brasil, país que sediou a Eco-92, de onde saíram as Convenções de Diversidade Biológica (CDB), de Mudanças Climáticas e outros documentos importantes, que é um dos países megadiversos do planeta e que foi o país que mais contribuiu no âmbito da CDB com a meta de expansão de áreas protegidas no período entre – 2002 e 2010, se furtou a participar desta iniciativa global, que tem o objetivo de proteger a biodiversidade do planeta. A iniciativa liderada pela Costa Rica, Reino Unido e França tem o objetivo de deter o avanço da extinção de espécies e da degradação de ecossistemas e não exige qualquer contribuição financeira dos países que dela participam.
Os países que fazem parte da Coalizão de Alta Ambição para a Natureza e as Pessoas se comprometem a proteger, até 2030, pelo menos 30% das áreas terrestres e dos oceanos do planeta. Mas, nosso país, ao invés de assumir uma posição de liderança nas discussões e ações em prol da conservação e uso sustentável da biodiversidade, posição que possuía até 2018, não quis entrar na Coalizão. Nossa representação oficial se absteve participar do grupo de 51 países (até o momento), que reforçaram suas preocupações com proteção de 30% do planeta, que na visão deles pode melhorar a qualidade de vida dos cidadãos, e criar milhões de empregos verdes e azuis de qualidade, ao mesmo tempo que cumprem a agenda de 2030.
O Brasil (ainda) tem muito a mostrar sobre o tema, resultado de trabalho de décadas de nossas agências públicas ambientais e de relações exteriores, da sociedade civil organizada e academia. Temos o maior programa de proteção de florestas tropicais do mundo, o ARPA (Áreas Protegidas da Amazônia), que apoia 117 UCs na Amazônia (tanto as de proteção integral como as de uso sustentável) desde 2002. Temos um robusto sistema de Unidades de Conservação com 2.446 unidades federais, estaduais ou municipais, que somam 250 milhões de hectares de áreas protegidas e que cobrem uma área equivalente a 18,15% do nosso território e 26,38% das nossas águas jurisdicionais.
Já fizemos muito, mas ainda falta muito a fazer. Por exemplo, todos os biomas brasileiros já perderam boa ou a maior parte de suas florestas: Pampa 54,2%; Mata Atlântica 93%; Cerrado 47,7%; Pantanal 15,4%; Caatinga 46,6% e a Amazônia legal 28%. O total das perdas das florestas desses biomas superam a mais de 500 milhões de hectares, sendo que só a área degradada no Brasil representa mais de 140 milhões de hectares. Devemos, por exemplo, melhorar a representatividade dos biomas brasileiros no Sistema de UC, e melhorar a efetividade de gestão das mesmas e valorizar de fato os serviços ambientais.
Poderíamos continuar a inspirar outros países a manter a diversidade de vida do planeta, temos experiência, conhecimento técnico e científico e história para tal. Sem a conservação das outras espécies, ecossistemas e os serviços ambientais, nós, seres humanos, pereceremos sem ganharmos nada a não ser a falsa ilusão de que com a destruição de nossas florestas, poluição de nossos rios e do ar que respiramos possamos nos considerar civilizados.
Enquanto as nações participantes da Coalizão se preparam para discutir alternativas, apoio e financiamento ao longo dos próximos anos, buscando a gestão sustentável, definindo novas metas para a proteção da biodiversidade, e a efetividade de gestão das unidades de conservação, o Brasil “atual” continuará a brigar com seus moinhos de vento, e a perder oportunidades na área onde mais possui vantagens comparativas – sua biodiversidade.
Maria Cecilia Wey de Brito
Mestre em Ciências Ambientais
Engenheira Agrônoma
Relações Institucionais Instituto Ekos Brasil
Janeiro de 2021
