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Por Camila Dinat
Se você tem mais de trinta anos provavelmente se lembra de um episódio alarmante que assolou a humanidade no final dos anos 80 e 90, o buraco na Camada de Ozônio.
Este capítulo da nossa história merece ser rememorado, pois os fatos que se sucederam podem nos inspirar e trazer muitos ensinamentos para a atualidade!
Neste artigo, vamos tentar relembrar como atitudes individuais de cada cidadão, em consonância com uma série de políticas apropriadas, serviu para revertermos um grave problema ambiental.
Para isso, vamos começar do começo.
A camada de ozônio é uma parte essencial da atmosfera terrestre, localizada entre 20 e 30 quilômetros de altitude e com cerca de 10 km de espessura. Essa camada desempenha um papel crucial na proteção da vida na Terra, bloqueando a maior parte da radiação ultravioleta (UV) emitida pelo Sol possibilitando, assim, o desenvolvimento da vida na Terra da maneira como conhecemos.
Para gelar uma cerveja, ou refrescar o ambiente, os aparelhos de ar-condicionado, freezers e geladeiras têm um processo de refrigeração por gases que, simplificando, funcionam assim: quando um fluido se expande para um gás, ele absorve calor e baixa a temperatura do ambiente ao redor. Esse gás é comprimido novamente usando o motor elétrico para que ele retorne ao estado líquido, depois gás outra vez, e esse é o ciclo.
Durante muito tempo ninguém foi capaz de achar um gás que tivesse essa propriedade de refrigerante e que ao mesmo tempo fosse seguro. No início do século XIX esses refrigeradores eram considerados perigosos, com vários casos de contaminação e acidentes provocados pelo uso desses aparelhos.
Até que com o avanço da industrialização na década de 30 os clorofluorcarbonos (CFCs) ficaram conhecidos por sua versatilidade e propriedades únicas, como serem não inflamáveis, não tóxicos e estáveis sob condições normais de temperatura e pressão, e começaram a ser amplamente utilizados na indústria.
No entanto, vazamentos e descartes inadequados desses aparelhos refrigeradores, bem como o simples uso dos aerossóis quando estes eram pulverizados (como sprays de cabelo, desodorantes e produtos de limpeza) promoveram a liberação de concentrações crescentes de CFCs na atmosfera.
Parcela dessa concentração de CFC alcançava a estratosfera, onde eram decompostos pela radiação ultravioleta (UV). Essa decomposição liberava os átomos de cloro, que por sua vez, reagiam com as moléculas de ozônio (O3). Este processo era altamente destrutivo para a camada de ozônio. Uma única molécula de CFC pode destruir muitas moléculas de ozônio antes de serem removidas da atmosfera.
Aqui cabe um parêntese muito importante: o papel da ciência na descoberta e solução do problema.
A descoberta do buraco na camada de ozônio foi um marco na ciência e ocorreu de forma gradual, com contribuições significativas de diferentes pesquisadores ao longo do tempo.
Nos primeiros estudos, em 1930, o cientista britânico Sydney Chapman propôs a teoria de que o ozônio na estratosfera desempenha um papel importante na absorção da radiação ultravioleta (UV) do Sol. Ele também foi o primeiro a prever que a liberação de substâncias químicas, como clorofluorocarbonos (CFCs), poderia levar à destruição da camada de ozônio.
Posteriormente, nas décadas de 1950 e 1960, cientistas começaram a realizar medições da concentração de ozônio na estratosfera usando balões-sonda e satélites. Essas medições confirmaram a existência da camada de ozônio e sua variação sazonal.
Em 1985, cientistas do British Antarctic Survey, liderados por Joe Farman, Brian Gardiner e Jonathan Shanklin, fizeram uma descoberta surpreendente. Eles notaram uma diminuição dramática nos níveis de ozônio sobre a Antártica durante a primavera austral (setembro a novembro). Essa diminuição era muito maior do que as variações sazonais normais, indicando a presença de um “buraco” na camada de ozônio.
A descoberta do buraco na camada de ozônio sobre a Antártica atraiu a atenção da comunidade científica global. Pesquisadores em todo o mundo realizaram estudos adicionais para entender as causas e os mecanismos por trás desse fenômeno. Rapidamente ficou claro que os clorofluorocarbonos (CFCs) e outras substâncias químicas liberadas pelo homem estavam contribuindo para a destruição da camada de ozônio.
Podemos apontar que os raios UV-B adicionais que alcançavam a superfície terrestre causaram: i) aumento de casos de câncer de pele em todo o mundo, devido à exposição prolongada à radiação UV-B; ii) aumento nas cataratas e outros problemas oculares devido à exposição excessiva à radiação UV-B; iii) prejuízos à vida marinha, como fitoplâncton e larvas de peixes, que foram os primeiros a serem afetados negativamente, impactando toda a cadeia alimentar marinha; iv) Impacto nas plantas, devido à radiação UV-B excessiva, causando danos a agricultura e os ecossistemas terrestres.
O tema saiu do meio acadêmico e começou a ganhar eco na sociedade. Não à toa o caso ganhou comoção mundial. As pessoas começaram a pensar no impacto disso em suas vidas. O buraco na camada de ozônio atraiu considerável atenção da mídia, então relatórios e documentários explicando os impactos do buraco na camada de ozônio e suas causas foram transmitidos na televisão e publicados em jornais, ampliando o alcance da informação. Isso resultou em campanhas públicas, petições e ações de sensibilização para pressionar os governos e a indústria a tomar medidas mais enérgicas.
As pessoas se sensibilizaram para a interligação de todos os aspectos da natureza e a importância de proteger o planeta.
O caso do buraco na camada de ozônio chama muita atenção. A conscientização global sobre os perigos do buraco na camada de ozônio levou à adoção de medidas significativas e urgentes para combatê-lo.
Uma das ações mais notáveis foi o Protocolo de Montreal, que consistiu em um tratado internacional assinado em 1987 que proibia a produção e o uso de CFCs e outras substâncias destruidoras da camada de ozônio. Este acordo foi ratificado por quase todos os países do mundo. Este tratado é amplamente considerado um dos acordos ambientais mais bem-sucedidos da história.
A indústria foi obrigada a se posicionar e a se adequar, e desenvolveu alternativas seguras aos CFCs, como os hidroclorofluorocarbonos (HCFCs) e os hidrofluorocarbonos (HFCs), que são menos prejudiciais à camada de ozônio.
A ameaça do buraco na camada de ozônio também foi incorporada à educação ambiental em escolas e universidades, aumentando a conscientização das gerações mais jovens sobre os desafios ambientais globais.
Redes globais de monitoramento foram estabelecidas para acompanhar a recuperação da camada de ozônio, estas permanecem até hoje.
Graças a esses esforços, houve evidências de recuperação da camada de ozônio sobre a Antártica e em outras regiões do mundo.
O buraco na camada de ozônio foi uma grande ameaça, e com este episódio pudemos aprendemos a perceber como o modo de vida humano sustentado na lógica industrial, de consumo e acumulação, pode impactar significativamente o planeta Terra. Outra importante lição é como a ação global rápida e eficaz, demonstrou que podemos enfrentar desafios ambientais quando a comunidade internacional trabalha em conjunto.
Não dá para lembrar dessa história e não fazer o paralelo com nosso desafio mais atual: a mudança climática.
O que falta para que os tomadores de decisões, na política e na economia ouçam a ciência? Como devemos agir para pressionar mudanças de comportamento na sociedade? O que é necessário para que os acordos internacionais ambientais da atualidade tenham maior eficácia? Podemos considerar que a população em geral está consciente dos riscos e dos efeitos da mudança do clima?
São muitas questões.
Será que vamos conseguir salvar o planeta de nós mesmos mais uma vez?
Um “corredor verde” na cidade, um “rooftop” que vira jardim, o terreno baldio que vira horta, a encosta de um viaduto que se transforma em uma mini floresta vertical. Soluções simples e até visualmente bonitas, mas quase sempre incompreendidas e por isso pouco valorizadas pelos cidadãos comuns.
Re-naturalizar as cidades é, na verdade, uma das soluções baseadas na natureza que têm o intuito, por exemplo, de reduzir o fluxo de água das tempestades que pressionam os sistemas de drenagem em grandes cidades. O mesmo serviço que presta uma floresta na regulação do nosso sistema hídrico natural.
O exemplo é para deixar um pouco mais claro o que significa um dos “termos do momento” no universo da sustentabilidade: Nature-Based Solutions (NbS), ou Soluções Baseadas na Natureza (SbN), uma das metas estabelecidas pelo Marco Global da Biodiversidade.
Tecnicamente, é um termo amplo que contempla outras abordagens e estudos já estabelecidos como adaptação baseada em ecossistema (EbA, sigla em inglês) e mitigação (EbM, sigla em inglês), redução de riscos de desastres ecológicos (eco-DRR, sigla em inglês), Infraestrutura Verde (GI sigla em inglês) e Soluções Climáticas Naturais (NCS, sigla em inglês).
Em palavras mais simples, as SbN se inspiram em sistemas e serviços desenvolvidos pela própria natureza com o intuito de resolver ou amenizar alguns dos grandes desafios globais como as mudanças climáticas, a degradação dos ecossistemas, a perda de espécies silvestres e o crescimento cada vez mais preocupante de cidades pouco planejadas, insustentáveis e insalubres.
Acima demos um exemplo de como nossas cidades podem se beneficiar dessas soluções. Mas existem muitos outros que impactam positivamente, de uma maneira geral, a sociedade, a natureza e a economia.
São exemplos de Soluções Baseadas na Natureza a agricultura social (práticas de agricultura desenvolvidas nos centros urbanos e periferias como hortas comunitárias que promovem saúde, inclusão social e aproveitamento “verde” de espaços urbanos); irrigação com água de reuso (assim como a natureza reutiliza a água); restauração de planícies inundadas, dentre outros.
A aposta nas NbS não é à toa. Tais práticas são inovadoras na medida em que garantem serviços de infraestrutura eficientes a um custo muito menor de implementação e manutenção do que outros tipos de engenharia e serviços, sem mencionar o fato de que muitas dessas soluções se tornam autossustentáveis ao longo do tempo.
O conceito de Soluções baseadas na Natureza é uma forma de aumentar a percepção das pessoas sobre os serviços que a natureza presta. Ademais, ajudam a atingir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).
Além disso, ao mesmo tempo em que entregam infraestrutura, as NbS também edificam maior resiliência climática ao sequestrar carbono, gerar habitat para a biodiversidade, promover o crescimento verde, a eficiência energética, a melhoria da qualidade do ar, dentre outros, e ainda gerar cobenefícios sociais para como recreação e inclusão para as comunidades envolvidas.
Nesta segunda-feira (16), teve início o evento econômico mais aguardado pela comunidade internacional, o Fórum Econômico Mundial 2023, que acontece em Davos, na Suíça. Com o tema “Cooperação em um Mundo Fragmentado”, o evento se estenderá até o dia 20 e reúne lideranças comprometidas com os rumos da economia nos próximos anos em meio aos avanços tecnológicos, adaptações à COVID-19, mudança do clima e necessidade de uma existência mais saudável para bilhões de pessoas.
Com mais de 50 anos de história, o Fórum Econômico Mundial de Davos começou como um simpósio focado apenas no mercado europeu e evoluiu para um evento mundial anual, de grande proporção internacional. Em 2023, são aguardados cerca de 2.700 participantes, incluindo centenas de chefes de estado e ministros de vários países.
Temas com foco ambiental como a mudança do clima, poluição por resíduos plásticos, energias limpas, economia circular, uso da terra, áreas costeiras e carbono azul, recursos hídricos e carbono zero em cadeias de suprimentos são alguns dos assuntos previstos a serem debatidos nos painéis do evento.
Do Brasil estão a ministra Marina Silva (Meio Ambiente) e o ministro Fernando Haddad (Fazenda), que foram a Davos com uma mensagem de retomada econômica e protagonismo ambiental. A expectativa é que os ministros reforcem a conexão fundamental entre a economia e o meio ambiente e estimulem o alinhamento de medidas práticas para o avanço das pastas em conjunto.
No primeiro dia, a ministra do Meio Ambiente participou do painel “Em Harmonia com a Natureza” no qual reforçou a importância do compromisso ético de lideranças com a sustentabilidade, não apenas com foco em meio ambiente e economia, mas também com o viés social, visando o combate às desigualdades. A ministra também participará do painel “A Amazônia em uma Encruzilhada” nesta quinta-feira.
“Sustentabilidade não será uma política setorial, mas transversal, passando pelas políticas de energia, indústria, mobilidade, por todos os setores”, ressaltou Marina Silva.
A Diretora de Relações Institucionais do Instituto Ekos Brasil, Ciça Wey de Brito, participou no último dia 4 da posse da ministra Marina SIlva e destacou que, em suas falas, Marina se comprometeu a trabalhar para que a política ambiental volte a ter o mais alto nível de prioridade no atual governo.
“A Ministra Marina reforçou a necessidade de o governo ter a agenda ambiental tratada de forma articulada por todos os setores do governo, para que os acordos assumidos pelo país no âmbito internacional possam ser cumpridos em sua totalidade”, complementa Ciça.
Para o Ekos Brasil, é esperado que ao longo do Fórum a sustentabilidade seja tratada como uma aliada para o crescimento econômico internacional. “Ações de combate ao desmatamento na Amazônia, por exemplo, são fundamentais para a prosperidade econômica e social de todo o globo. É importante que os ministros levem essa realidade para Davos e alertem as lideranças sobre os impactos do desequilíbrio ecossistêmico na economia mundial”, ressalta Ciça Wey.
Além dos ministros, o Brasil também estará representado pelos governadores Tarcísio de Freitas (SP), Eduardo Leite (RS) e Helder Barbalho (PA).
É possível acompanhar a programação, acessar os convidados e assistir às transmissões abertas no site oficial do evento (em inglês).
Com o objetivo de endereçar os desafios globais dos efeitos das mudanças climáticas, teve início neste domingo (06) a semana a 27a Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas pela Mudança do Clima (COP 27), este ano sediada pela República Árabe do Egito.
O evento internacional acontece de 6 a 18 de novembro e reforça, mais uma vez, a mensagem de que é preciso a implementação de ações imediatas e de esforços globais, além da participação de todos os atores da sociedade, para frear as ameaças sociais, ambientais e econômicas já em curso em consequência do atual modelo econômico vigente.
Durante as duas próximas semanas, a expectativa é de que os tomadores de decisão de diversas partes do globo apresentem novas ações mais robustas de combate às mudanças climáticas e prestem conta das iniciativas desenvolvidas até o momento.
A Conferência é um marco anual que orienta o rumo de políticas públicas e, inclusive, o planejamento estratégico de empresas comprometidas com a transição para uma economia de baixo carbono. No Egito não será diferente. A COP 27 tem a intenção de contribuir para acelerar as reduções das emissões globais, escalar exponencialmente ações de adaptação climática e ampliar os fluxos de financiamento para projetos de impacto socioambiental.
Além da sessão principal, acontecem outras quatro sessões concomitantes à COP. Saiba mais sobre cada uma delas.
É o encontro dos observadores, ou seja, partes que não compõem o Acordo de Paris, logo não tem papel em tomadas de decisão. No entanto, realizam um papel importante de supervisão sobre a tomada de decisão das partes para promover sua implementação de forma efetiva.
A COP27 servirá de base para o encontro das partes do Protocolo de Kyoto, que tratará da implementação efetiva deste acordo que é um tratado importante para redução de emissão de gases de efeito estufa. A primeira reunião do Protocolo de Kyoto aconteceu em Montreal, no Canadá, em 2005.
Subsidiary Body for Scientific and Technological Advice apoia permanentemente a COP com a provisão de informações cientificas e tecnológicas. As principais áreas de ação do SBSTA incluem impactos, vulnerabilidade e adaptação à mudança climática; promoção e transferência de tecnologia para desenvolvimento ambiental; e condução técnica no preparo e aprimoramento dos guias dos inventários de emissões de gases de efeito estufa. Por isso, essa sessão atua como uma parte relevante junto ao IPCC.
Além da reunião dos representantes na COP, também realizam outras duas oficiais ao longo do ano para deliberações científicas: em Bonn, na Alemanha, para trabalhar os assuntos de suas áreas de expertise, como vulnerabilidade e medidas de resposta aos impactos da crise climática nos países em desenvolvimento, mecanismos tecnológicos, comitê de adaptação etc; e o Mecanismo Internacional de Varsóvia sobre Perdas e Danos associados aos Impactos da Mudança Climática
É responsável por colocar em prática o Protocolo de Kyoto e o Acordo de Paris. É por meio do SBI que se constroem instrumentos para implementação de transparência, mitigação, adaptação, finanças verdes e capacidade tecnológica que visam atingir a ambição das partes. Desde 2014, o SBI busca avançar em MRV (measurament, reporting and verification) – na medição, reporte e verificação -, critérios transparentes para prover dados técnicos relacionados à emissão dos gases de efeito estufa.
Visite o site oficial da COP 27 para saber mais: https://www.cop27.eg/#/
O Instituto Ekos Brasil seguirá acompanhando as notícias e as decisões da COP 27. Fique de olho em nossas redes sociais.
E se você representa uma empresa interessada em compensar suas emissões de Gases de Efeito Estufa, o Compromisso Com o Clima conecta grandes empresas e projetos dedicados a gerar benefícios sociais e ambientais. Saiba mais clicando aqui.