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Cama de Ozônio: Já salvamos o planeta uma vez. Vamos fazer de novo?

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Camada de Ozônio: já salvamos o planeta uma vez. Vamos fazer de novo?

Camila Dinat 18 set 2023

Por Camila Dinat

Se você tem mais de trinta anos provavelmente se lembra de um episódio alarmante que assolou a humanidade no final dos anos 80 e 90, o buraco na Camada de Ozônio.

Este capítulo da nossa história merece ser rememorado, pois os fatos que se sucederam podem nos inspirar e trazer muitos ensinamentos para a atualidade!

Neste artigo, vamos tentar relembrar como atitudes individuais de cada cidadão, em consonância com uma série de políticas apropriadas, serviu para revertermos um grave problema ambiental.

Para isso, vamos começar do começo.

Afinal, o que é a camada de ozônio?

Créditos Canva.

A camada de ozônio é uma parte essencial da atmosfera terrestre, localizada entre 20 e 30 quilômetros de altitude e com cerca de 10 km de espessura. Essa camada desempenha um papel crucial na proteção da vida na Terra, bloqueando a maior parte da radiação ultravioleta (UV) emitida pelo Sol possibilitando, assim, o desenvolvimento da vida na Terra da maneira como conhecemos.

Até aí tudo bem, mas você deve se lembrar que o buraco na camada de ozônio tinha uma certa relação com as geladeiras, ar-condicionado e desodorantes. Como assim?

Para gelar uma cerveja, ou refrescar o ambiente, os aparelhos de ar-condicionado, freezers e geladeiras têm um processo de refrigeração por gases que, simplificando, funcionam assim: quando um fluido se expande para um gás, ele absorve calor e baixa a temperatura do ambiente ao redor. Esse gás é comprimido novamente usando o motor elétrico para que ele retorne ao estado líquido, depois gás outra vez, e esse é o ciclo.

Durante muito tempo ninguém foi capaz de achar um gás que tivesse essa propriedade de refrigerante e que ao mesmo tempo fosse seguro. No início do século XIX esses refrigeradores eram considerados perigosos, com vários casos de contaminação e acidentes provocados pelo uso desses aparelhos.

Até que com o avanço da industrialização na década de 30 os clorofluorcarbonos (CFCs) ficaram conhecidos por sua versatilidade e propriedades únicas, como serem não inflamáveis, não tóxicos e estáveis sob condições normais de temperatura e pressão, e começaram a ser amplamente utilizados na indústria.

Créditos Canva.

No entanto, vazamentos e descartes inadequados desses aparelhos refrigeradores, bem como o simples uso dos aerossóis quando estes eram pulverizados (como sprays de cabelo, desodorantes e produtos de limpeza) promoveram a liberação de concentrações crescentes de CFCs na atmosfera.

Parcela dessa concentração de CFC alcançava a estratosfera, onde eram decompostos pela radiação ultravioleta (UV). Essa decomposição liberava os átomos de cloro, que por sua vez, reagiam com as moléculas de ozônio (O3). Este processo era altamente destrutivo para a camada de ozônio. Uma única molécula de CFC pode destruir muitas moléculas de ozônio antes de serem removidas da atmosfera.

Aqui cabe um parêntese muito importante: o papel da ciência na descoberta e solução do problema.

A descoberta do buraco na camada de ozônio foi um marco na ciência e ocorreu de forma gradual, com contribuições significativas de diferentes pesquisadores ao longo do tempo.

Nos primeiros estudos, em 1930, o cientista britânico Sydney Chapman propôs a teoria de que o ozônio na estratosfera desempenha um papel importante na absorção da radiação ultravioleta (UV) do Sol. Ele também foi o primeiro a prever que a liberação de substâncias químicas, como clorofluorocarbonos (CFCs), poderia levar à destruição da camada de ozônio.

Posteriormente, nas décadas de 1950 e 1960, cientistas começaram a realizar medições da concentração de ozônio na estratosfera usando balões-sonda e satélites. Essas medições confirmaram a existência da camada de ozônio e sua variação sazonal.

Em 1985, cientistas do British Antarctic Survey, liderados por Joe Farman, Brian Gardiner e Jonathan Shanklin, fizeram uma descoberta surpreendente. Eles notaram uma diminuição dramática nos níveis de ozônio sobre a Antártica durante a primavera austral (setembro a novembro). Essa diminuição era muito maior do que as variações sazonais normais, indicando a presença de um “buraco” na camada de ozônio.

A descoberta do buraco na camada de ozônio sobre a Antártica atraiu a atenção da comunidade científica global. Pesquisadores em todo o mundo realizaram estudos adicionais para entender as causas e os mecanismos por trás desse fenômeno. Rapidamente ficou claro que os clorofluorocarbonos (CFCs) e outras substâncias químicas liberadas pelo homem estavam contribuindo para a destruição da camada de ozônio.

Não somente o conhecimento em torno do buraco em si, mas também os impactos começaram ser amplamente estudados e notados ao longo do planeta.

Podemos apontar que os raios UV-B adicionais que alcançavam a superfície terrestre causaram: i) aumento de casos de câncer de pele em todo o mundo, devido à exposição prolongada à radiação UV-B; ii) aumento nas cataratas e outros problemas oculares devido à exposição excessiva à radiação UV-B; iii) prejuízos à vida marinha, como fitoplâncton e larvas de peixes, que foram os primeiros a serem afetados negativamente, impactando toda a cadeia alimentar marinha; iv) Impacto nas plantas, devido à radiação UV-B excessiva, causando danos a agricultura e os ecossistemas terrestres.

O tema saiu do meio acadêmico e começou a ganhar eco na sociedade. Não à toa o caso ganhou comoção mundial. As pessoas começaram a pensar no impacto disso em suas vidas. O buraco na camada de ozônio atraiu considerável atenção da mídia, então relatórios e documentários explicando os impactos do buraco na camada de ozônio e suas causas foram transmitidos na televisão e publicados em jornais, ampliando o alcance da informação. Isso resultou em campanhas públicas, petições e ações de sensibilização para pressionar os governos e a indústria a tomar medidas mais enérgicas.

As pessoas se sensibilizaram para a interligação de todos os aspectos da natureza e a importância de proteger o planeta.

E como o problema foi superado? 

O caso do buraco na camada de ozônio chama muita atenção. A conscientização global sobre os perigos do buraco na camada de ozônio levou à adoção de medidas significativas e urgentes para combatê-lo.

Uma das ações mais notáveis foi o Protocolo de Montreal, que consistiu em um tratado internacional assinado em 1987 que proibia a produção e o uso de CFCs e outras substâncias destruidoras da camada de ozônio. Este acordo foi ratificado por quase todos os países do mundo. Este tratado é amplamente considerado um dos acordos ambientais mais bem-sucedidos da história.

A indústria foi obrigada a se posicionar e a se adequar, e desenvolveu alternativas seguras aos CFCs, como os hidroclorofluorocarbonos (HCFCs) e os hidrofluorocarbonos (HFCs), que são menos prejudiciais à camada de ozônio.

A ameaça do buraco na camada de ozônio também foi incorporada à educação ambiental em escolas e universidades, aumentando a conscientização das gerações mais jovens sobre os desafios ambientais globais.

Redes globais de monitoramento foram estabelecidas para acompanhar a recuperação da camada de ozônio, estas permanecem até hoje.

Graças a esses esforços, houve evidências de recuperação da camada de ozônio sobre a Antártica e em outras regiões do mundo.

O buraco na camada de ozônio foi uma grande ameaça, e com este episódio pudemos aprendemos a perceber como o modo de vida humano sustentado na lógica industrial, de consumo e acumulação, pode impactar significativamente o planeta Terra. Outra importante lição é como a ação global rápida e eficaz, demonstrou que podemos enfrentar desafios ambientais quando a comunidade internacional trabalha em conjunto.

Esse fenômeno também ilustra como a ciência ambiental pode moldar a consciência pública e levar a mudanças significativas em escala global.

Não dá para lembrar dessa história e não fazer o paralelo com nosso desafio mais atual: a mudança climática. 

O que falta para que os tomadores de decisões, na política e na economia ouçam a ciência? Como devemos agir para pressionar mudanças de comportamento na sociedade? O que é necessário para que os acordos internacionais ambientais da atualidade tenham maior eficácia? Podemos considerar que a população em geral está consciente dos riscos e dos efeitos da mudança do clima?

São muitas questões. 

Será que vamos conseguir salvar o planeta de nós mesmos mais uma vez?

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