#Conteúdo
Conteúdo conscientiza, educa, facilita, gera diálogo e estreita relações. Confira nossos artigos, notícias, publicações autorais e compartilhe com a sua rede.
O Parque Estadual do Rio Doce (PERD) convidou a equipe do Projeto Árvores do Rio Doce para participar do V Seminário de Pesquisa do PERD, realizado entre os dias 21 e 23 de outubro de 2025.
O evento foi um importante espaço de encontro entre pesquisadores, gestores e instituições parceiras, voltado à discussão dos estudos científicos que vêm sendo desenvolvidos na unidade de conservação.
O projeto Árvores do Rio Doce: estudos ecológicos para conhecer e conservar espécies ameaçadas de extinção na Bacia do Rio Doce estuda espécies florísticas ameaçadas da Bacia do Rio Doce, e tem como objetivo principal gerar informações científicas que subsidiem ações de conservação, manejo e restauração florestal na bacia, o que torna os resultados extremamente relevantes para a conservação da biodiversidade local e regional e para o PERD.
Durante o seminário, foram apresentados resultados relativos às respostas das espécies ameaçadas de extinção ao enriquecimento atmosférico de CO2, aumento de temperatura e restrição hídrica considerando cenários atuais e futuros de mudanças climáticas.
As projeções revelam um panorama preocupante: 19 das 26 espécies avaliadas devem perder mais de 75% de suas áreas atualmente adequadas até 2050, sob pelo menos um dos cenários de aquecimento avaliados. Algumas das espécies-alvo apresentaram risco de extinção local, com áreas projetadas próximas a zero até meados do século. Por outro lado, algumas espécies mostraram maior resiliência, indicando manutenção ou expansão de suas áreas adequadas, possivelmente em função de maior plasticidade ecológica ou caráter pioneiro.

Além da modelagem espacial, o projeto também apresentou resultados experimentais sobre o crescimento e a fisiologia de plantas de sete espécies arbóreas nativas ameaçadas, sob condições simuladas de elevação da concentração atmosférica de CO₂, aumento de temperatura e restrição hídrica. Esses experimentos permitem compreender como tais espécies respondem a mudanças ambientais em termos de crescimento, metabolismo, anatomia e funcionamento fisiológico, demonstrando que as mudanças climáticas não afetam significativamente a germinação das sementes, mas provocam impactos expressivos nas fases juvenis, quando alterações na temperatura e na disponibilidade de água podem comprometer o desenvolvimento e a sobrevivência das plantas.
O Projeto Árvores do Rio Doce – Estudos Ecológicos para Conhecer e Conservar Espécies Ameaçadas de Extinção na Bacia do Rio Doce é gerido pelo Fundo Brasileiro para a Biodiversidade – FUNBIO, com financiamento advindo do Projeto Biodiversidade do Rio Doce, e parceria com os pesquisadores da Universidade Federal de Viçosa, Instituto Inhotim e Universidade de Salamanca (Espanha).

A participação no seminário representou uma oportunidade valiosa para compartilhar avanços científicos, fortalecer parcerias institucionais e discutir estratégias para a conservação da flora da região, reafirmando o papel essencial da pesquisa como base para a gestão e o planejamento ambiental.
O Instituto Ekos Brasil participou da mesa “Monitoramento de parcerias: estratégias e desafios no olhar dos parceiros”, durante o IV Seminário Parcerias em Áreas Protegidas, promovido pelo Observatório de Parcerias em Áreas Protegidas (OPAP)
Representados pela Jéssica Fernandes, coordenadora do Programa Peruaçu, apresentamos a experiência de atuação na APA e no Parque Nacional Cavernas do Peruaçu, destacando como a parceria com o Instituto Chico Mendes de Conservacao da Biodiversidade (ICMBio) contribui para o fortalecimento do uso público, a conservação e o desenvolvimento territorial.
Levar o Peruaçu e o Cerrado ao centro das discussões sobre sobre áreas protegidas reforça nosso compromisso com a conservação da biodiversidade e a valorização dos territórios.

No dia 27 de setembro, celebramos o Dia Mundial do Turismo, e neste ano, temos motivos especiais para festejar: além dos 26 anos do Parque, o Cânion do Peruaçu, localizado no interior do PARNA Cavernas do Peruaçu, foi oficialmente reconhecido como Patrimônio Mundial Natural pela UNESCO em 13 de julho de 2025!



Este reconhecimento de prestígio vai muito além de reconhecer a beleza cênica, a geologia e a importância cultural do nosso cânion. Ele é também um motor de turismo sustentável, mostrando que biodiversidade e áreas verdes geram renda quando valorizadas e visitadas de forma ordenada.

Com o reconhecimento da UNESCO, o PARNA Cavernas do Peruaçu ganha visibilidade global e poderá atrair visitantes do mundo todo, fortalecendo o turismo local e criando oportunidades para as comunidades locais e reginais.
A exemplo disso, em 2024, 3 dos 10 parques nacionais mais visitados do Brasil já possuíam este selo, prova do seu poder de atração:
• 2º Parque Nacional do Iguaçu
• 5º Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha
• 6º Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses
O turismo em áreas protegidas é conservação que gera desenvolvimento!

Criado em 1999, o PARNA Cavernas do Peruaçu abriu suas portas para visitação oficialmente em 2017, mas desde 2014 já recebia pesquisadores nacionais e internacionais e estudantes das escolas locais. De acordo com gráfico abaixo, é possível observar que o número de visitantes vem aumentando ano a ano (com exceção de 2020 com a pandemia) o que demonstra o potencial turístico da unidade de conservação. Além disso, o aumento de visitantes tem fomentado a economia local, seja na geração de renda dos condutores, comércios locais e serviços hoteleiros. Até o mês de agosto deste ano, o Parque já recebeu mais visitantes que do ano de 2024.

Você sabia que o PNCP não cobra taxa de entrada? As visitações são guiadas por condutores locais credenciados pelo ICMBio. Essa iniciativa não só garante a segurança e a conservação do ambiente, mas também fortalece e fomenta a geração de renda para a comunidade local, promovendo um turismo sustentável e inclusivo.
O parque conta com diversos atrativos turísticos e trilhas com diferentes graus de dificuldade. Além das trilhas você ainda encontra a Exposição Permanente que conta a história do parque e a trilha infantil para os pequeninos. Em breve teremos novos atrativos de aventura!

Além das trilhas você ainda encontra a Exposição Permanente que conta a história do parque e a trilha infantil para os pequeninos. Em breve teremos novos atrativos de aventura!
O Parque pode ser visitado de terça a domingo, das 8h às 18h, com entrada nos atrativos permitida até as 14h (exceto no Arco do André, até as 12h).
Para agendamentos e mais informações, você pode entrar em contato pelo e-mail cavernas.peruacu@icmbio.gov.br ou acessar as informações de visitação e dos condutores credenciados no site do ICMBio.
E você, já visitou o Peruaçu? Conte-nos sua experiência e o que mais te encantou!
De 17 a 19 de setembro, o Instituto Ekos Brasil marcou presença no evento internacional I Jornadas Internacionales de Biodiversidad y Servicios Ecosistémicos (1ª Conferência Internacional sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos, em tradução livre), realizado na Universidade de Salamanca, na Espanha. A participação aconteceu em conjunto com uma equipe de sete pesquisadores e pesquisadoras da Universidade Federal de Viçosa (UFV), parceira do Instituto em projetos estratégicos na Bacia do Rio Doce.
Estiveram presentes a Ma. Fabiana Bonani, Coordenadora de Projetos de Conservação da Biodiversidade do Instituto Ekos Brasil, e a equipe de pesquisa composta por Profa. Dra. Andreza Viana Neri, Dr. Carlos Mário Galván-Cisneros, Prof. Dr. João Augusto Alves Meira Neto, Prof. Dr. Juraci Alves Oliveira, Dra. Lhoraynne Pereira Gomes e Dr. Rodrigo Gomes Gorsani.



O grupo esteve presente nas pautas que tratam da importância da ecologia das espécies para a conservação da biodiversidade e restauração dos ecossistemas, especialmente para a Bacia do Rio Doce. Nesta oportunidade Fabiana destacou o protagonismo do Instituto em iniciativas na Bacia, que unem ciência, saúde humana e ambiental, conservação, políticas públicas e parcerias público-privadas.
Durante o evento, foram apresentados resultados dos projetos “Árvores do Rio Doce” e “Campestres do Rio Doce”, que investigam espécies arbóreas e campestres raras, endêmicas e ameaçadas de extinção na Bacia. Os projetos estão sendo desenvolvidos pelo Instituto Ekos Brasil em parceria com a Universidade Federal de Viçosa, o Instituto Inhotim de Minas Gerais e a Universidade de Salamanca da Espanha, sendo gerido pelo Funbio como parte do Projeto Biodiversidade Rio Doce. Como produtos destes estudos serão feitas propostas de conservação destas espécies, guias de restauração e a publicação de diversos artigos científicos.
A participação do Instituto Ekos Brasil no encontro internacional reforça o compromisso da organização com a produção e disseminação de conhecimento científico, articulando esforços locais e globais para garantir a regeneração de ecossistemas ameaçados.

Neste mês de setembro, a equipe do Instituto Ekos Brasil esteve presente em dois encontros de grande relevância em Brasília: o Encontro dos Projetos Apoiados pelo CEPF (Fundo de Parceria para Ecossistemas Críticos) e o XI Encontro e Feira dos Povos do Cerrado.
Representaram o Instituto a Jéssica Fernandes (Coordenadora de Projetos de Impacto e Gestão Climática), Camila Dinat (Gerente Técnica e Novos Negócios) e Murilo Mendes (Agente Ambiental e Administrativo no Parque Nacional Cavernas do Peruaçu).



Nos dias 8 e 9, a equipe participou do encontro do CEPF, ao lado de outras 35 organizações que atuam no bioma, com iniciativas que colaborem com o trabalho de conservação promovido por mulheres. O Instituto apresentou o projeto Florescer no Cerrado, que acontece na Área de Proteção Ambiental Cavernas do Peruaçu e promove a capacitação de negócios sustentáveis liderados por mulheres.
“Foi um encontro muito produtivo, onde pudemos refletir com outras organizações sobre os desafios, soluções e conquistas dos projetos desenvolvidos no bioma, além de destacar que sem mulher não tem cerrado em pé”, compartilha Murilo Mendes.


Já de 10 a 14 de setembro, foi a vez do Encontro dos Povos do Cerrado, espaço de integração de comunidades, organizações, culturas e povos que habitam o bioma. “São esses povos que fazem a conservação do bioma, que garantem o Cerrado de pé”, destacou Camila Dinat.
Ali foram discutidas formas de desenvolvimento dos setores, como manter as populações em seus territórios, as ameaças que sofrem e também as ferramentas que têm para se manterem íntegras e donas de seu território. O evento contou com feiras de produtos locais, atividades culturais e debates sobre o papel das comunidades na conservação do bioma.



“Outro ponto importante foi que todo o evento foi alimentado com produtos da agricultura familiar livre de agrotóxicos, fornecidos pela organização Cerrado de Pé, que viabilizou a compra e preparo dos alimentos”, reforça Dinat.

Para o trio, a participação nos dois encontros reforçou o compromisso do Instituto Ekos Brasil de atuar de forma integrada com as comunidades, valorizando a liderança feminina e a diversidade de saberes como caminhos fundamentais para a regeneração e proteção do Cerrado.
Desde 2017, o Instituto Ekos Brasil atua, em cooperação com o ICMBio, para transformar a APA e o Parque Nacional Cavernas do Peruaçu, com grande porção do seu território no bioma Cerrado, em um caso de sucesso de conservação da biodiversidade em colaboração com as comunidades locais e tradicionais.
Por isso, nesse Dia do Cerrado, percorremos uma breve linha do tempo para relembrar alguns destaques da nossa história de parceria com o Vale do Peruaçu.
A partir do Acordo de Cooperação e da criação do Programa Peruaçu, em 2017, o Instituto passou a captar e converter recursos, sem repasse financeiro direto entre as organizações, para apoio a gestão do parque e da apa, investimentos em infraestrutura de visitação, recuperação de nascentes, apoio a pesquisa e desenvolvimento de projetos socioambientais.

Um dos marcos desse primeiro período, ainda em 2017, foi a implementação da Trilha do Arco do André, um percurso de oito quilômetros que permite aos visitantes explorar um cenário de muita beleza, contato com o Rio Peruaçu, com o carste e matas primárias com baixa intervenção humana. Em 2018, avançamos algumas etapas para a sustentabilidade financeira dos nossos projetos no Peruaçu, com a inclusão do parque na Incubadora para a Conservação da Natureza, da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) e com o lançamento do edital Pequenos Projetos, que apoiou duas iniciativas locais. Com o intuito de dar mais visibilidade ao Parque e às ações de conservação, neste ano também organizamos uma press trip com jornalistas brasileiros e estrangeiros que rendeu reportagens importantes na mídia.

Nossa parceria seguiu em 2019 com a consolidação da estratégia de captação. Neste ano, destacamos a aprovação no programa Clear into the Future, da Dupont, onde houve a criação da Casa de Vegetação, um viveiro de espécies nativas que alimenta ações de restauração em nascentes e áreas degradadas. O objetivo é simples e ambicioso: contribuir para manter água correndo e floresta em pé, pilares da resiliência do Cerrado.
Contratamos também um estudo para analisar e propor novos modelos de negócios e de parcerias público-privadas para aproveitar as potencialidades econômicas da Unidade de Conservação. Hoje, o Peruaçu é um case de sucesso neste tipo de modelo de parceria.
Certamente, o marco do ano de 2020 foi a consolidação da nossa parceria pelo ecoturismo. O projeto “Acelerando o Turismo Sustentável no Vale do Peruaçu” ajudou a desenvolver, fortalecer e acelerar o turismo sustentável na região. Mais de 60 pessoas e 48 iniciativas locais receberam capacitação e orientações para gerar mais renda e assim impulsionar a cultura e a conservação da biodiversidade.
Com a chegada da Pandemia, as ações do Ekos Brasil foram canalizadas para a ajuda humanitária. Por meio de parcerias com o Instituto Rosa e Sertão foi possível comprar insumos nas cooperativas de produtores locais e distribuir 233 cestas básicas. Foram beneficiadas 932 pessoas das comunidades de Quilombo Cabanos, Aparecidinha, Candeal, Água Doce e São Domingos. Este também foi um ano em que apoiamos a compra de equipamentos de comunicação e segurança.
Em 2021, um dos marcos foi o projeto “Conectando Histórias no Peruaçu” que usou crowdfunding com match do BNDES para formar jovens em audiovisual e ciências da natureza, multiplicando vozes locais na promoção do parque e fortalecendo o sentimento de pertencimento, peça-chave para conservar. No ano seguinte, tivemos a finalização do 1º acordo de cooperação, que abriu as portas para um novo acordo firmado em 2023, desta vez, abrangendo o território do Parque e da APA Cavernas do Peruaçu. Ainda neste ano, lançamos o projeto “Uma trilha para a sustentabilidade”, com a finalidade de fortalecer e resgatar o conhecimento tradicional indígena Xakriabá sobre plantas medicinais e a importância de viver pela conservação das florestas.

Em 2024, celebramos a inauguração da parte de penumbra da trilha da Gruta do Janelão e a realização do III Seminário Científico do Vale do Peruaçu, organizado pelo ICMBio e Instituto Ekos Brasil, e palco de pesquisas científicas realizadas no território, que destacam os impactos das mudanças climáticas no carste do Vale do Peruaçu, mostram o papel deste território para o conhecimento da história humana e que põem em relevo toda riqueza biodiversa existente no Peruaçu.


E neste ano de 2025, vivemos a emoção de apoiar a campanha do Peruaçu como Patrimônio Mundial Natural pela Unesco e celebrar o recebimento desse título tão esperado. O ano continua, mas até o momento já inauguramos outros 3 importantes projetos: Projeto Florescer no Cerrado, que oferece formação empreendedora para mulheres do Peruaçu; o Floresta Viva Peruaçu, uma iniciativa voltada à restauração ecológica de biomas brasileiros, que tem como objetivo restaurar 200 hectares do bioma Cerrado no Vale do Peruaçu; e o Conhecer e Prevenir, com objetivo de estruturação e implementar ações para um manejo integrado do fogo mais efetivo.
A história do Peruaçu continua e temos o privilégio de fazer parte de cada novo passo desta região biodiversa e fundamental para o equilíbrio natural do nosso país. Mas, sozinhos não fazemos nada: a participação dos parceiros e da comunidade é essencial para o trabalho da nossa equipe. Seguimos juntos e juntas pela preservação e conservação do Cerrado. Viva o Cerrado e viva o Peruaçu!
Por Elizabeth Oliveira, publicado originalmente em ((o))eco, em 16 de julho de 2025.
Em mais de duas décadas, a implementação dessa legislação ambiental passa por desafios, mas seu legado de proteção da natureza e dos modos de vida tradicionais é inegável
“Mais do que nunca há motivo para comemorar sim”, afirma a engenheira agrônoma Maria Cecília Wey de Brito, diretora de Relações Institucionais do Instituto Ekos Brasil, em entrevista ao ((o))eco. Como ambientalista e especialista de longa trajetória, ela participou ativamente da construção da Lei 9.985 que instituiu o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC), em 18 de julho de 2000, e, nesta quarta-feira (16), integrou as atividades oficiais de celebração, promovidas pelo Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA). Em conversa com a reportagem, na véspera do evento, destacou que esse arcabouço legal de importância central para a proteção da biodiversidade e modos de vida tradicionais do país levou mais de dez anos em debates que agregaram uma diversidade de vozes e visões. Defendeu, ainda, que apesar de todas as limitações que têm impactado o seu processo de implementação, a força do legado do SNUC é inegável.
Maria Cecília Wey de Brito. Vale a pena comemorar muito esse marco. Apesar das inúmeras dificuldades enfrentadas para a sua implementação e das críticas sofridas devido a essas e outras questões, a lei se manteve intacta durante todo esse tempo.
Para além da importância da proteção da biodiversidade, com avanços alcançados em termos de ampliação de ambientes legalmente protegidos, o SNUC conseguiu fortalecer a participação social no processo de instituição e gestão de unidades de conservação. Essa conquista tem garantido uma diversidade de vozes que vai de técnicos e ambientalistas às populações tradicionais e outros segmentos. Embora os territórios tradicionais sejam espaços de resistência historicamente, se não fosse pelas garantias asseguradas por essa lei, em função de inúmeras pressões, certamente, muitas populações que hoje habitam as UCs no país já teriam sido empurradas para as periferias das cidades.
Participando de várias reuniões e debates na época de construção dessa lei, eu me lembro que existia sim essa divisão de percepções. Era forte ainda o olhar mais direcionado à proteção das paisagens, da vegetação e de outros elementos naturais. No entanto, muitos avanços foram alcançados em termos de conciliação devido às batalhas que foram travadas por Chico Mendes e outras lideranças. Essas personalidades do movimento socioambientalista, incluindo a atual ministra Marina Silva, perceberam a importância de assegurar a presença das populações tradicionais em territórios protegidos legalmente, onde suas culturas pudessem se manter. Houve muita luta política para defender a ideia de que essas populações protegem a natureza com seus modos de vida. Dessa forma, os deputados federais Fabio Feldman e Fernando Gabeira, que foram relatores do SNUC, conseguiram acomodar debates internos e depois externos, ao incluir como categorias inovadoras as Reservas Extrativistas (Resex) e as Reservas de Desenvolvimento Sustentável (RDS) na proposta de lei do SNUC.
Os embates devem continuar existindo para o afrouxamento da legislação ambiental, considerando o Congresso como está hoje e o que devemos ter após as próximas eleições. Além disso, temos visto muita resistência dos governos estaduais em relação às Unidades de Conservação. Mas precisamos refletir que o SNUC é uma lei que regulamenta diretrizes da Constituição que obrigam todos os entes [federais, estaduais e municipais] a criarem áreas protegidas. Não se pode parar processos quando os governos não querem. Independentemente de posição política, é preciso desconstruir essa ideia de muitos que seguem contrários à proteção da natureza e dos modos de vida de populações tradicionais.
Sim, eu me sinto otimista. Principalmente, por ter observado e participado de grandes transformações no país ao longo desse tempo. Melhorou muito a capacidade de atuação da sociedade civil brasileira em defesa das lutas coletivas, incluindo as agendas socioambientais. Temos muita construção e um legado enorme. Temos condições de fazer cada vez melhores escolhas diante de disputas que continuarão existindo. Recursos financeiros nunca tivemos o suficiente, mas se houver, certamente daremos um salto, considerando tudo o que já fizemos até aqui, mesmo diante de tantas limitações.
Eu considero que o governo pode e deve trabalhar mais em parceria com a sociedade, valorizando essa alternativa como solução possível. No Instituto Ekos temos exemplos de parcerias muito bem-sucedidas. Uma delas é um Acordo de Cooperação com o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) para apoio à gestão do Parque Nacional Cavernas do Peruaçu (MG) e da APA de mesmo nome, com área sobreposta a essa UC. O Parque abriga o Cânion do Peruaçu, recentemente reconhecido como Patrimônio Natural da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). Com essa unidade de conservação, desenvolvemos um trabalho com excelentes resultados há mais de 20 anos, quase o mesmo tempo de existência do SNUC. Também temos um Termo de Parceria estabelecido com o Instituto Estadual de Florestas de Minas Gerais para fortalecimento da gestão do Parque Estadual do Rio Doce [UC afetada pelo desastre ambiental provocado, em 2015, pelo rompimento da barragem do Fundão, em Mariana (MG), empreendimento operado pela Samarco].
Pouco depois do reconhecimento oficial do Cânion do Peruaçu, localizado no Parque Nacional Cavernas do Peruaçu como Patrimônio Mundial Natural pela Unesco, o time do Instituto Ekos Brasil ainda está cheio de emoção e quase sem acreditar na grandeza desse acontecimento!
É que para nós essa conquista tem um gostinho para lá de especial e não à toa teve gente da equipe que pulou e gritou em frente à tv na hora do anúncio como se fosse final de Copa do Mundo.
Afinal, desde 2017 apoiamos o Parna Peruaçu em um modelo pioneiro de parceria público-privada. Junto ao ICMBio, gestor da Unidade, assinamos em 2017 um Acordo de Cooperação para apoiar e desenvolver atividades de gestão, conservação e uso público do parque, ampliamos o escopo em 2022 e, em 2023, assinamos um novo Acordo de Cooperação, abrangendo também o território da APA Cavernas do Peruaçu
Apesar do nosso 1º acordo com o ICMBio ter sido firmado em 2017, atuamos no Parque desde 2003, quando fizemos os estudos de elaboração do plano de manejo e, na sequência, o acompanhamento técnico da implementação de infraestrutura e uso público do parque. Essa relação de mais de 20 anos nos fez celebrar (e muito) a conquista do reconhecimento pela Unesco. Isso porque, mais do que ninguém, sabemos que para além de toda a riqueza de sua biodiversidade, de suas paisagens, cavernas e arqueologia, sabemos o quanto a comunidade que vive com e pelo Peruaçu merece essa conquista.

“Em todos esses anos, o que encontramos foi um povo do bem, cheio de gente acolhedora, batalhadora, que faz a gente se sentir em casa. Um povo que exalta a cultura sertaneja, o saber popular e o conhecimento tradicional. Tenho realmente muito orgulho do time que juntamos para apoiar o ICMBio na gestão e manutenção do Peruaçu”, destacou Jéssica Fernandes, coordenadora do Programa Peruaçu.
Com o reconhecimento da Unesco, o Instituto Ekos Brasil espera que as comunidades que apoiam a perpetuação das áreas protegidas do Peruaçu sejam ainda mais beneficiadas pelo desenvolvimento do turismo comunitário sustentável e, claro, pela manutenção dos serviços ecossistêmicos que a natureza generosamente oferece a todas as pessoas.
A parceria entre Ekos Brasil e ICMBio no Parna e APA Peruaçu vem sendo considerada um modelo de sucesso internacional de conservação da biodiversidade. Ao lado de profissionais competentes e apaixonados pela sua região e de toda a comunidade, atuamos em seis frentes de ação: apoio à gestão do parque e da APA, iniciativas de apoio à ciência, promoção de negócios socioambientais, ações de educação ambiental e valorização da natureza e história da região, e o fortalecimento da governança.
Para fazer isso tudo acontecer, criamos o Programa Peruaçu, que arrecada contribuições financeiras de empresas, organizações governamentais e não governamentais nacionais e internacionais e de pessoas físicas e as direciona aos projetos e atividades demandadas pelo Plano de Trabalho.
Toda verba arrecadada pelo Programa Peruaçu é destinada a apoiar atividades das quais a gestão do parque não tem recursos ou obrigação em investir, mas que são importantes para a continuidade .
O Programa Peruaçu não substitui os recursos advindos do governo federal, e tem como principal objetivo apoiar ou acelerar a execução de atividades consideradas prioritárias.
Todos os recursos captados pelo Instituto Ekos são integralmente repassados ao ICMBio na forma de produtos, materiais e projetos, portanto, não há repasse de dinheiro entre as instituições.
Em decisão unânime durante a 47ª sessão do Comitê do Patrimônio Mundial, em Paris, os Cânions do Parque Nacional Cavernas do Peruaçu foi reconhecido como Patrimônio Mundial Natural.
Em entrevista exclusiva ao Ekos Brasil, Bernardo Issa, coordenador-geral de Gestão do Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, explicou que todo patrimônio que se candidata à lista da UNESCO precisa comprovar seu Valor Excepcional Universal. Isso significa que deve ter um significado cultural e/ou natural que transcenda as fronteiras nacionais e tenha relevância para as gerações presentes e futuras da humanidade.
Issa detalhou que o Parque Nacional Cavernas do Peruaçu foi inscrito em dois dos quatro critérios exigidos pela UNESCO para Patrimônios Naturais: o critério VII e o VIII.
A beleza do Peruaçu dispensa comentários. A caverna do Janelão possui largura e altura superiores a 100 metros, o que permite a entrada de luz solar e o desenvolvimento de vegetação em suas vastas câmaras. Na dolina dos Macacos, encontra-se a maior estalactite do mundo, a “Perna da Bailarina”, com cerca de 28 metros de comprimento. Além disso, são quase 500 cavidades catalogadas e mais de 114 sítios arqueológicos que registram ocupações humanas datadas de mais de 12.000 anos A.P., muitos com arte rupestre em excelente estado de preservação. Tudo isso em uma zona de transição ecológica entre os biomas do Cerrado e da Caatinga, com bolsões de Mata Atlântica.
Parabéns, Parna Peruaçu! Temos muito orgulho de compartilhar essa conquista com o seu povo!
A mais recente edição do Relatório Anual do Fogo (RAF) aponta que 45% do Cerrado foi queimado pelo menos uma vez em 40 anos, sendo 43% da área queimada nacional. O bioma ainda tem a maior média nacional de área queimada – 9,6 Mha queimados todos os anos, com extensas áreas atingidas inclusive dentro de Unidades de Conservação.
De acordo com Vera Arruda, coordenadora técnica do MapBiomas Fogo em entrevista ao site do próprio MapBiomas, o que os pesquisadores têm observado é que a incidência de incêndios têm sido maior no período da seca, em razão, principalmente, de atividades humanas e agravada pelas mudanças climáticas.
“Um dado especialmente preocupante é o avanço do fogo sobre as formações florestais no Cerrado, que em 2024 atingiram a maior extensão queimada dos últimos sete anos — uma mudança na dinâmica do fogo que ameaça de forma crescente a biodiversidade e a resiliência desse bioma” , comentou Arruda.
É dentro deste contexto preocupante que o Instituto Ekos Brasil inicia um projeto com diversas ações de prevenção ao fogo na região do Mosaico Sertão Veredas – Peruaçu, no Cerrado mineiro.
Intitulado Conhecer e Prevenir: estruturação para um Manejo Integrado do fogo mais efetivo, a iniciativa terá atuação em duas novas Unidades de Conservação: O Parque Estadual Veredas do Peruaçu de Proteção Integral e a Reserva Estadual de Desenvolvimento Sustentável Veredas do Acari, além da atuação no Parque Nacional Cavernas do Peruaçu e a Área de Proteção Ambiental Cavernas do Peruaçu.
Durante 18 meses, o Ekos Brasil irá implementar ações de prevenção ao fogo nas comunidades pertencentes aos territórios, em conjunto com as equipes gestoras das UCs seguindo as diretrizes da Política Nacional de Manejo Integrado do Fogo (LEI Nº 14.944, DE 31 DE JULHO DE 2024).
“Olhando para estes dados e compreendendo o impacto do fogo em áreas de vegetação nativa iniciamos este projeto ainda mais comprometidos em seguir fortalecendo o território, a biodiversidade e a comunidade. Um novo desafio frente à uma antiga ameaça.”
ressaltou Francieli Kaiser, coordenadora de projetos de conservação da biodiversidade do Instituto Ekos Brasil.
A iniciativa acontece em parceria com o Programa Copaíbas do Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio).
Fonte: Projeto MapBiomas – Mapeamento das áreas queimadas no Brasil entre 1985 – 2024 – Coleção 4, acessado em 1º de julho de 2025 através do link: https://brasil.mapbiomas.org/wp-content/uploads/sites/4/2025/06/RAF2024_24.06.2025_v2.pdf
Recentemente, a ONG SOS Mata Atlântica divulgou seus dados anuais sobre o desmatamento do bioma. Chamou a atenção uma redução de 27% no desmatamento em comparação com os dados do ano anterior. Uma ótima notícia para quem procura conservar o bioma mais desmatado do país, do qual restam apenas 24% da cobertura original.

É estimado que existam mais de 1.300 fragmentos de Mata Atlântica com mais de 1.000 hectares e que a maioria dos remanescentes tenha menos de 50 hectares. Essa enorme fragmentação é um problema para a manutenção saudável da floresta. Sem conectividade adequada entre os fragmentos, muitos processos ecológicos são perdidos e a manutenção de espécies é significativamente prejudicada.
Como imaginar uma onça-pintada por exemplo vivendo em uma região com pequenos fragmentos de floresta cercado de pastos, ou canaviais ou casas de veraneio?
Da parte da iniciativa pública, a criação das várias Unidades de Conservação (UCs) para proteção de extensões maiores de vegetação nativa é muito importante. No caso da Mata Atlântica, alguns proprietários conservam a vegetação em suas propriedades e vários vêm constituindo Reservas Particulares do Patrimônio Natural ou outros tipos de Reservas que não fazem parte do Sistema Nacional de Unidades de Conservação.
Dos 24% remanescentes do bioma Mata Atlântica, estima-se que 80% estejam em propriedades privadas. Vemos aí a importância de iniciativas de conservação por entes privados para a conservação desse patrimônio nacional.
Um exemplo a ser comemorado é o da Reserva Pinho Bravo, uma área linda e de grande extensão na Serra da Mantiqueira, situada entre os municípios de Campos do Jordão e São Bento do Sapucaí, em São Paulo. No interior dessa reserva particular existem vários tipos de paisagens — como florestas, campos de altitude, matas de araucárias, entre outros. A Reserva ajuda a conservar a vegetação nativa e a manter a conexão entre áreas protegidas próximas, como o Monumento Estadual da Pedra do Baú e o Parque Estadual Campos do Jordão. Na Reserva Pinho Bravo também estão sendo realizadas diversas pesquisas científicas e atividades de turismo sustentável, que ajudam a movimentar a economia local de forma responsável.


Um estudo ainda em andamento pelo Instituto Ekos Brasil em parceria com a Geonoma Consultoria Ambiental observou que quase dois terços da Reserva são cobertos por matas nativas em diferentes estágios de regeneração e que 80% da área é ocupada por formações nativas, ou seja, florestas (70%) e campos (10%). Muitas das espécies de plantas identificadas podem existir apenas nessa Reserva, pois ainda não foram registradas nas Unidades de Conservação ao redor. Isso indica que a flora dessas áreas ainda não foi completamente estudada — ou que a Reserva Pinho Bravo realmente protege espécies que desapareceram dessas áreas. Inclusive, há potencial para encontrar espécies raras, exclusivas da região, ou até mesmo novas para a ciência, principalmente nos chamados Campos de Altitude, que ficam em altitudes elevadas e têm vegetação bem característica, com alto grau de exclusividade e que estão protegidas na Reserva.
Por estar localizada em uma área muito específica da Mata Atlântica, em uma das partes mais altas da região, pode-se dizer que a Reserva Pinho Bravo tem um papel muito importante dentro da rede de áreas protegidas da Serra da Mantiqueira, contribuindo para manter a variedade de ecossistemas e aumentando a capacidade da natureza de se adaptar a mudanças, inclusive mudanças climáticas.


Enquanto celebramos a iniciativa da criação da Reserva Pinho Bravo que se mostra aderente à realidade e olha responsavelmente para as crises climáticas e de perda da biodiversidade, fazendo parte da solução dos dois maiores desafios de nossos tempos, o Senado aprovou o PL 364/2019 que flexibiliza a legislação ambiental. O PL enfraquece especialmente a conservação dos ambientes não florestados, como os Campos de Altitude que fazem parte da Mata Atlântica, patrimônio nacional. Esses campos são ecossistemas raros, muito especializados e sensíveis, então precisam de proteção urgente.
O Instituto Ekos almeja que, no futuro, possamos falar de mais exemplos como o da Reserva Pinho Bravo, que merecerão um lugar muito mais valorizado em nossa história.