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plantas medicinais

Resgate e Valorização das Plantas Medicinais e do Conhecimento Tradicional 

Que a região do Peruaçu (MG) é rica em atrativos naturais e culturais é um consenso. Agora, você sabia que por lá são encontradas inúmeras folhas, cascas, resinas e raízes com valores medicinais? Com o intuito de conservar e resgatar essa cultura tradicional ao lado dos povos originários e população local da região, profissionais do Instituto Ekos Brasil decidiram utilizar plantas medicinais para recuperar áreas degradadas do Peruaçu.

Murilo Mendes e Antônio Carlos Ribeiro são da equipe do Instituto Ekos Brasil e ficam no escritório do Instituto na comunidade Fabião II, em Itacarambi (MG).

“O conhecimento das plantas medicinais está se perdendo. Às vezes, temos que ir para a farmácia e encontrar um remédio que está no nosso jardim”, comenta Murilo sobre o impacto que o projeto pode trazer na região. 

Primeiros passos

O primeiro passo de articulação para a definição do futuro projeto foi a ida à campo para conhecer, principalmente, plantas medicinais originárias da região, algumas raras de ser encontradas e ameaçadas pelo desmatamento e degradação ambiental. Para isso, contaram com o apoio da mestrando do ESCAS, IPÊ,  Lara Zamparo Franco, e do Seu Norinho, como é carinhosamente conhecido, que mora há mais de 30 anos na área, antes mesmo de se tornar o PNCP.

“Há cavernas do parque que só ele conhece”, relata o também viveirista do Ekos Antônio. 

Por sua expertise, Seu Norinho hoje reside no Centro de Pesquisas e convive costumeiramente com pesquisadores e pesquisadoras que escolhem o Peruaçu como ponto de estudo. Além de Norinho, o Pajé Vicente de uma das aldeias, abriu as portas da aldeia para compartilhar seus conhecimentos sobre a vegetação nativa e se colocou à disposição para coletar sementes que servirão para recuperar as áreas degradadas do Parque. 

“Seu Norinho não conhecia o Pajé Vicente e os dois tinham os mesmos conhecimentos. Isso é mais um impulso para preservarmos essa expertise que pertence aos povos originários”, contam.

Uma das atividades realizadas para valorização e disseminação desse conhecimento sobre plantas medicinais envolveu  os alunos e as alunas da Escola Estadual Saturnino Ângelo Da Silva. As turmas participaram de um oficina no Ekos sobre plantas medicinais e preparam mudas para serem futuramente plantas  nas dependências do Escritório do Instituto Ekos Brasil e na escola, para que os grupos visitantes possam conhecer mais uma riqueza do Peruaçu. 

Impacto de recuperar plantas medicinais

Identificar, coletar e produzir as mudas requer dedicação e empenho de toda uma comunidade, isso porque o encontro de três  biomas no  Parque e na APA (Cerrado, Caatinga e Mata Atlântica) faz com que num raio de 50Km sejam encontradas impressionante diversidade de plantas medicinais. Um exemplo é o Pacari, uma planta com propriedades benéficas para o estômago que é encontrada em abundância apenas nos arredores da aldeia de Pajé Vicente.

“É de grande importância trazer a recuperação não somente das plantas, mas deste conhecimento, para que a comunidade valorize cada dia mais o que lhe pertence”, acredita Antônio. 

A dupla narra que na região ainda encontram-se famílias com a cultura de desmatar a terra para o gado e que esse fogo corre o risco de atingir locais onde os povos indígenas coletam suas plantas medicinais. “Se eles perderem essa terra, eles perdem sua farmácia natural.”

Até o mês de novembro, Murilo e Antonio coletaram nove amostras de plantas com propriedades diferentes que melhoram desde dor de dente até a recuperação de gripe. Ao mesmo tempo forma coletadas sementes e forma produzida mudas para serem plantadas onde é necessária a recuperação da vegetação da Terra Indígena e da APA.

Tanto Murilo como Antônio não sabem até onde este trabalho pode chegar, mas ambos carregam a certeza de que se conseguirem recolher os conhecimentos existentes na região do Peruaçu e mostrar para os alunos e para a comunidade sua relevância, já sentirão enorme satisfação de saber que este rico conhecimento não será perdido: será replantado.

Acompanhe os desdobramentos dessa ideia conosco.

observatório de parcerias

Experiências Práticas de Parcerias Público Privadas em Unidades de Conservação

Instituto Ekos Brasil foi convidado para participar do seminário interno do Observatório de Parcerias em Áreas Protegidas.

O Instituto Ekos Brasil foi convidado para participar do seminário interno do Observatório de Parcerias em Áreas Protegidas – OPAP, em encontro virtual que ocorreu dia 07 de outubro. O OPAP é um núcleo de pesquisa e de difusão de informação e práticas, que reúne professores e pesquisadores de diferentes instituições públicas de ensino superior brasileiras com o objetivo de promover o conhecimento sobre o tema das parcerias em áreas protegidas, a partir da contribuição da pesquisa, ensino e extensão.

Neste encontro, pudemos apresentar o Termo de Parceria estabelecido com o Instituto Estadual de Florestas (IEF), órgão gestor das Unidades de Conservação do Estado de Minas Gerais, em que atuamos para a Consolidação do Parque Estadual do Rio Doce. Além disso, apresentamos a experiência do Instituto Ekos no Acordo de Cooperação com o ICMBio no Parque Nacional Cavernas do Peruaçu e os aprendizados construídos ao longo de cinco anos.

Além do time Ekos, estiveram presentes professores/as e pesquisadores/as da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul (IFRS), Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte (IFRN), Universidade de São Paulo (USP), Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM).

Após a exposição tivemos um momento rico de diálogo, com pontos relevantes da experiência do Instituto Ekos em parcerias em áreas protegidas, considerando os aprendizados e desafios desde o ponto de uma OSCIP, além da apresentação de possíveis questões de pesquisa nessa temática.

44ª reunião do Conselho do Mosaico Sertão Veredas

1ª reunião presencial pós-pandemia do Conselho do Mosaico Sertão Veredas Peruaçu acontece em Itacarambi (MG)

No dia 5 de outubro, o escritório do Instituto Ekos Brasil na comunidade Fabião II, em Itacarambi/MG, sediou a 44º reunião do Conselho do Mosaico Sertão Veredas Peruaçu, a primeira presencial após os anos de distanciamento social exigidos para conter o avanço da COVID-19.

Participaram 54 representantes de organizações comunitárias, de órgãos públicos e de ONGs, dos quais 35 estiveram presencialmente e 19 virtualmente, a primeira experiência de reunião com participação híbrida, com o objetivo de ampliar as presenças. Foram diálogos bem-sucedidos que proporcionaram um reencontro de conselheiros profissionais que há mais de 2 (dois) anos não se viam. 

O destaque da reunião foi o estudo realizado que identificou que as águas consumidas pelas comunidades rurais se encontram contaminadas por agrotóxicos. Caberá ao Conselho encaminhar aos órgãos competentes a solicitação de ações diante dos riscos à saúde da população e da fauna, que vivem dessa água.  

Idem, foram abordadas experiências de Produção de Natureza e Bosque Modelo – como oportunidades para fortalecimento da governança do mosaico-, maior conservação do ecossistema e a promoção de oportunidade de negócios sustentáveis. 

Para encerrar, foi apresentado o projeto Peruaçu – uma trilha para a sustentabilidade e solicitado o engajamento geral para a compra do Casarão onde funcionam o Centro de Artesanato e Ponto de Cultura. 

Esperamos a próxima reunião com a expectativa de revermos todos de forma presencial!

Turismo sustentável no Parque Cavernas do Peruaçu.

Turismo sustentável para conservar o meio ambiente e as comunidades tradicionais do Cerrado. Conheça esse exemplo!  

Há mais de 5 anos acompanhamos de perto o desenvolvimento e a gestão do Parque Nacional Cavernas do Peruaçu, localizado no norte de Minas Gerais, e que tem boa parte de sua extensão no bioma Cerrado e parte na Caatinga e Mata Seca. O Vale do Peruaçu é berço de povos tradicionais e cultura local. 

Nesse período de estreita relação com o parque constatamos algo muito verdadeiro, mas que pouca gente reconhece: a conservação de um Parque Nacional não é importante apenas para o Meio Ambiente ou para a mitigação das mudanças climáticas. Uma área como a do Parna Cavernas do Peruaçu é imprescindível para a manutenção de tradições locais, para a geração de renda para as comunidades do entorno e, consequentemente, para a defesa do bioma no qual se encontra. 

Presenciamos nesses últimos anos como o incentivo ao turismo sustentável transformou a vida de famílias inteiras – pouco a pouco se recuperando da pandemia – trabalham como condutores, com produção de artesanato, ou abriram receptivos e pousadas. Esse impacto positivo aproximou a comunidade do parque, que por sua vez, ganhou um “batalhão” de gente empenhada na conservação do Cerrado. 

Um exemplo muito significativo para nós são as Oleiras do Candeal, um grupo tradicional da região que produz potes, pratos, vasos de planta, moringas, jogos de bule e outras peças com cerâmica. Ao todo, 11 mulheres participam do projeto que se perpetua com o trabalho da terceira geração de oleiras. A proximidade com o Parna Peruaçu permite que os condutores de turismo levem os visitantes até o espaço.

“Para nós é muito importante essa conexão com o Peruaçu. Isso abriu  muitas portas para comercializar e divulgar nossos produtos por meio dos visitantes. Os turistas vêm conhecer  e acabam valorizando e divulgando nosso trabalho”, destacou Dona Nilda, participante do projeto. 

Conheça o Cerrado, pratique o turismo sustentável visitando nossos Parques Nacionais e incentive os projetos das nossas comunidades tradicionais. 

Uma trilha para a acessibilidade: feito inédito no Parque Nacional Cavernas do Peruaçu para as Pessoas com Deficiência”

Um dia para ficar na história do Parque Nacional Cavernas do Peruaçu. Em 23 de agosto deste ano, pessoas com deficiência auditiva, visual, física, intelectual e múltipla (PCDs) estrearam a trilha que agora permite aos PCDs uma interação direta com o parque. 

O projeto é uma parceria entre o ICMBio, a APAE de Januária, o Instituto Ekos Brasil, o Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência e o Instituto Sertão Vereda com o objetivo de propiciar acessibilidade ao turismo de natureza. 

O grupo percorreu a Trilha da Gruta do Janelão, cartão postal do parque, e chegou à Perna da Bailarina, a maior estalactite do mundo! A experiência contou com o auxílio da Macadeira, uma inovação desenvolvida pelo Ekos Brasil sob supervisão da APAE e do ICMBio para permitir que pessoas com deficiência motora também participassem do passeio. 

Grupo percorrendo a trilha acessível no Peruaçu

“A presença de uma pessoa com deficiência na Gruta do Janelão representa a validação do direito à igualdade em oportunidades. Estar presente nessa ação é um grande aprendizado e me mostra que é preciso mobilizar todo o território do Peruaçu para torná-lo um destino acessível. Integrar uma área protegida e oportunizar sua visibilidade, faz parte do processo de desenvolvimento sustentável, pois todo mundo já sabe:'”é preciso conhecer para preservar”, comentou Isabela Martins, do Instituto Sertão Vereda

Durante o percurso, o grupo ficou admirado com as belezas do parque e também foram evidenciando outras melhorias para que a experiência seja ainda mais completa e inclusiva. 

Para Roberto Palmieri, do Ekos Brasil, o projeto deve inspirar outros parques a fazer o mesmo. “Assim, mais pessoas exercerão o direito constitucional de ter acesso às áreas públicas protegidas e podem se juntar a nós no trabalho de conservação desses espaços fundamentais ao bem-estar de todos”. 

Além da inclusão, o projeto também impulsiona a criação de novos negócios para atingir esse público que nos últimos anos não vem sendo considerado no turismo de natureza. 

Helder Viana completando a trilha acessível no Peruaçu

“Eu estou muito feliz. Somos mais um ser humano, mas temos valor e condições de descobrir muita coisa. Ter a oportunidade de explorar toda essa natureza, essas experiências fantásticas foi muito gratificante. Estamos só no começo e é um espelho pro mundo”, disse Helder Viana, da Apae Januária. 

O Instituto Ekos Brasil reafirma seu compromisso em continuar a apoiar projetos como esse, que aproximem as pessoas com deficiência à natureza, e parabeniza o grupo que estreou a trilha!  

Ekos Brasil acompanha comitiva suíça em visita ao Parque Nacional Cavernas do Peruaçu

Schweizer Reisegruppe in der Höhle Janelao, Nationalpark Peruacú, Minas Gerais, Brasilien – stehend v.l.: Cristina Sancini (EKOS Brasil), Aparecido Souza (Fahrer der Botschaft), Pietro Lazzeri (CH Botschafter), Ruth und Rolph Gloor, Joe Caverna (Guide), Roberto Palmieri (EKOS Brasil), Amiliano Lazzeri (Sohn des Botschafters), Jean-Pierre Villard (schweizer Diplomat), Ana Moeri (EKOS Brasil). Kniehend: Muriolo MEndes Melo (Guide) und Antônio Carlos Rodrigues (Guide)

Na primeira semana de agosto, parte do time do Ekos Brasil embarcou em São Paulo com destino a Minas Gerais para uma missão especial: levar um grupo de suíços para conhecer o Parque Nacional Cavernas do Peruaçu.

Dentre os convidados estavam o embaixador da Suíça no Brasil, Pietro Lazzeri, o ex-embaixador suíço Jean Pierre Villard, o casal Ruth e Rolf Gloor da empresa Bachema AG – doadores do Fundo Peruaçu -, além de um jornalista e um fotógrafo, também suíços.

O grupo teve a oportunidade de conhecer cenários deslumbrantes do parque como a gruta do Janelão e o Sítio Caboclo com suas pinturas rupestres de cerca de 12 mil anos. Alguns deles também se aventuraram pela Trilha do Arco do André, passando pelo mirante do Mundo Inteiro com sua vista de tirar o fôlego.

“Além disso, visitamos com eles os projetos desenvolvidos no entorno do parque e que estão sendo diretamente impactados pelo crescimento do turismo sustentável. Eles ficaram bastante impressionados com o empreendedorismo feminino na região, como as Oleiras do Candeal que confeccionam cerâmicas a partir de tradições centenárias”, disse Ana Moeri, presidente do Ekos Brasil que acompanhou a visita.

A imersão ambiental e cultural continuou com um passeio pelo Rio São Francisco que mostrou aos suíços a importância do velho Chico para o desenvolvimento da região e para a conservação da biodiversidade.  

Schweizer Reisegruppe auf der Wanderung durch de Nationalpark Peruacú, Minas Gerais, Brasilien – v.l.: Ruedi Leuthold, Ruth Gloor, Rolph Gloor, Ana Moeri

Por que a Suíça?

Lazzeri, o embaixador suíço, é um entusiasta em temáticas relacionadas à sustentabilidade e representa um país que se destaca pela inovação, tecnologia verde e turismo. “Para nós é muito importante estreitar esse relacionamento e pensarmos juntos em parcerias que beneficiem não só a conservação de uma área como a do Peruaçu, mas em iniciativas que promovam a cooperação entre as nações pelo desenvolvimento sustentável”, completou Moeri.

Além disso, o Ekos Brasil nutre uma relação especial com o país já que Ernesto Moeri, seu fundador, era natural da Suíça – e brasileiro de coração.

A visita do grupo ao Peruaçu também se desdobrará em uma reportagem a ser publicada em uma revista semanal suíça de grande circulação.

Schweizer Reisegruppe in der Höhle Janelao, Nationalpark Peruacú, Minas Gerais, Brasilien – Namen siehe Gruppenfoto BR001

Tudo o que você precisa saber sobre cavernas no Brasil

Tudo o que você precisa saber sobre cavernas no Brasil 

O Instituto Ekos Brasil tem uma relação afetiva e responsável com as cavernas brasileiras por sua proximidade com a gestão do Parque Nacional Cavernas do Peruaçu, com o qual cooperamos há mais de uma década e onde estão algumas das cavernas mais emblemáticas do Brasil.

Não há quem não se encante pela Gruta do Janelão, pela Lapa do Rezar, Arco do André, dentre tantas outras, que sempre nos deixam com aquele sentimento de pequenez e gratidão diante de tamanha beleza da natureza.

No intuito de conhecer um pouco mais sobre as cavernas, convidamos para um bate-papo Clayton Lino, sumidade no assunto, diretor de Cooperação da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica, ex-presidente por duas vezes da Sociedade Brasileira de Espeleologia e membro da Comissão Mundial de Reservas da Biosfera da Unesco. A seguir destacamos, em uma linguagem simplificada,  alguns dos temas apresentados por nosso entrevistado. 

Nosso bate-papo “começou pelo começo”. “Caverna é uma cavidade natural subterrânea penetrável pelo ser humano, como define a Constituição de 1988. Aqui no Brasil adotamos também a nomenclatura de grutas para cavernas predominantemente horizontais e abismos, para aquelas predominantemente verticais”, explica Lino. 

Nosso país abriga a maior caverna do hemisfério Sul, a Toca da Boa Vista, com cerca de 115km de galerias, localizada na Bahia. E não é preciso estranhar o nome “toca”. Em se tratando de Brasil, regionalismos são bastante comuns e não escapam às cavernas. Lapa, fossa, toca ou buraco também são denominações dadas às cavernas de norte à sul do país.

Moradores das cavernas

Em relação à fauna subterrânea há basicamente três tipos de “moradores” das cavernas. Os Trogloxenos, aqueles que necessitam das cavernas para abrigo, reprodução e/ou alimentação, mas que também saem delas para desenvolver outras atividades do seu dia a dia. Exemplo destes seres são os morcegos e alguns roedores. 

Já os Troglófilos são seres adaptados às cavernas, mas que não necessitam delas para sobreviver. Exemplos são algumas espécies de aranhas e insetos que são encontradas tanto dentro quanto fora dessas cavidades.

Por fim, os Troglóbios também chamados dos verdadeiros cavernícolas, são especializados na vida dentro das cavernas. Há Troglóbios albinos(despigmentados), cegos, mas que desenvolvem outros sentidos e órgãos que os adaptam a sobreviverem na escuridão total das cavernas. Exemplos destes seres são alguns peixes, insetos e crustáceos. 

Cavernas e seus tipos

As cavernas podem surgir  em muitos tipos de rochas, mas em 90% das vezes são formadas em rochas carbonáticas, esclarece Lino, além de aparecerem também em gesso, sal, bauxita, gnaisse, granito, minério de ferro, dentre outras litologias (tipos de rochas).

Ao contrário da crença popular, as cavernas, em sua maioria, não são formadas pela erosão dos rios. “A maior parte é formada por dissolução, quando a rocha é atacada quimicamente”, principalmente pela água, define. De acordo com o especialista, os movimentos tectônicos criam fraturas nas rochas. Por esses pontos frágeis a água, acrescida de gás carbônico advindo das precipitações e outros ácidos presentes no solo, ao entrar nessas fissuras, ataca quimicamente a rocha, ampliando espaços já formados anteriormente pelo mesmo tipo de processo, o que acaba puxando cada vez mais água da superfície, aumentando o tamanho das cavidades. Várias cavernas são formadas inicialmente no nível do lençol freático e só posteriormente passam a ter uma abertura para a superfície devido a desmoronamento dos tetos. Outros tipos de formação de cavernas acontecem nas zonas costeiras, por abrasão marinha, ou no meio de blocos de granito com o carreamento do solo entre eles.

Algumas características de cavernas

Uma das curiosidades mais fascinantes quando falamos de características das cavernas, na opinião de Lino, é que são um dos raros ambientes do planeta com ausência de luz. “É uma oportunidade para descobrir o que é a treva. Nosso cérebro começa, inclusive, a fabricar imagens pois não consegue acostumar a vista já que não existe nenhum feixe de luz”.

Cavernas também podem ser silenciosas ou não, labirínticas ou não, ventiladas ou não, ter flora ou não (dependendo da presença de luz), mas são consideradas ambientes estáveis, onde mudanças acontecem de forma extremamente lenta. E esta é uma das razões para serem verdadeiros “baús de recordação” da história geológica, climática e da evolução da vida na Terra, inclusive como locais privilegiados para conservação de fósseis da megafauna extinta, e também da maioria dos achados arqueológicos de nossos ancestrais humanos. 

Cavernas no Brasil   

Não é à toa que somos “gigantes pela própria natureza”. O Brasil, de fato, tem cerca de 20.500 cavernas cadastradas, mas de acordo com Lino, a expectativa é que tenhamos mais de 300 mil. “Todo ano descobrimos centenas de cavernas no Brasil”, destaca. “Já fui o primeiro ser humano a pisar em um monte de lugares em certas cavernas. Essa percepção não tem preço”.

Apesar de tamanha riqueza, as cavernas se juntam a outros componentes da natureza como os biomas, ecossistemas, espécies que sofrem ameaças constantes à sua existência e proteção. No caso das cavernas a pressão da mineração, das represas e das rodovias é a mais frequente.

“Quando falamos de caverna não estamos falando de um buraco, mas de um ambiente, de um ecossistema muito particular”. Por isso, proteger uma caverna significa proteger a rocha, seu conteúdo hidrológico, biológico, arqueológico, cultural etc.”, alerta Lino. E completa: “Há um choque no Brasil entre o cronograma de empreendimentos, o cronograma político e o cronograma do conhecimento e estudos sobre uma caverna”. O cronograma dos empreendimentos, e o político não consideram nem aguardam os anos necessários para que se entenda sequer o que pode acontecer com a extinção daquele ecossistema, quando estes tipos de empreendimentos estiverem consumados com a destruição de cavernas importantes.

Clayton teve uma participação histórica na formulação do capítulo da Constituição Federal que definiu as cavernas como bens da União e as manteve protegidas por muitos anos. Um decreto no final dos anos 2000 já havia flexibilizado a proteção destes ambientes com a classificação das cavernas em categorias de relevância, para fins de sua exploração econômica. 

Agora, Lino presencia a aprovação do Decreto Federal no 10.935/22, recém-publicado, que ameaça inclusive as cavernas tidas como grau de relevância máximo. O Decreto fere a Constituição, sobretudo em seu artigo 225, porque desrespeita princípios do direito ambiental, como o Princípio do Desenvolvimento Sustentável, da Prevenção e da Precaução, e foi elaborado sem a participação de instituições científicas, das ONGs, da comunidade espeleológica e ignorou o parecer do órgão técnico especializado em cavernas, o CECAV-ICMBio (Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Cavernas), instituição do governo federal.

O Decreto falha também na promoção de políticas públicas que protejam o meio ambiente e o desenvolvimento sustentável, a sobrevivência e o bem-estar das gerações futuras, e desconsidera os importantes serviços ecossistêmicos prestados pelas áreas cársticas e suas cavernas, como por exemplo a manutenção da integridade dos sistemas hídricos, o controle de pragas agrícolas, a dispersão de sementes e a polinização de diversas espécies de plantas executadas por morcegos que habitam estes ambientes. 

O Instituto Ekos Brasil reforça a importância da proteção e conservação das cavernas brasileiras e entende que não há incompatibilidade entre a preservação das cavernas e o desenvolvimento econômico.

E agradece a participação de Clayton Ferreira Lino para a elaboração deste conteúdo.

 

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Mosaico Sertão Veredas-Peruaçu: protagonista do desenvolvimento sustentável 

Mosaico Sertão Veredas-Peruaçu: protagonista do desenvolvimento sustentável 

Mosaico Sertão Veredas Peruaçu

Mosaico no “dicionário ambiental” significa uma área composta por diferentes unidades de conservação próximas, justapostas ou sobrepostas, além de outras áreas protegidas, sejam elas públicas ou privadas.   

A história do Instituto Ekos Brasil se cruza com um dos 17 mosaicos de áreas protegidas reconhecidos pelo governo federal existentes no Brasil. Como parceiros e apoiadores do ICMBio na administração, logística e gestão socioambiental do Parque Nacional Cavernas do Peruaçu, em Minas Gerais, temos também uma estreita ligação com o Mosaico Sertão Veredas-Peruaçu (MSVP). 

O MSVP é composto por 38 áreas protegidas: onze delas constam na portaria do Ministério do Meio Ambiente que reconheceu o Mosaico em 2009; outras 17 foram incorporadas por meio de proposições aprovadas no Conselho do Mosaico; e ainda 2 terras indígenas e 8 RPPNs – Reserva Particular do Patrimônio Natural. 

Localizado no norte e noroeste de Minas Gerais, sudoeste da Bahia e sudeste de Goiás, o Mosaico Sertão Veredas-Peruaçu está na transição entre dois biomas, o Cerrado e a Caatinga, guardando também manchas de floresta estacional ou Mata Seca. Por isso, é detentor de uma riqueza natural inigualável. Além disso, o território do Mosaico Veredas-Peruaçu faz parte da região dos Gerais, retratada de forma ímpar por Guimarães Rosa, que descreveu a riqueza cultural dos povos e comunidades tradicionais da região e seu cotidiano associado ao rico ambiente natural. 

Como conservar uma região tão vasta e tão importante para a sociobiodiversidade?

O documento que busca  a gestão integrada dessas Unidades de Conservação e elaborado pelo ecossistema de organizações que atuam no território é  o Plano Territorial de Base Conservacionista, elaborado em 2010 e atualizado em 2019, com coordenação da Funatura e financiado pelo CEPEF. De acordo com esse plano, a gestão do território deve levar em consideração 6 eixos de atuação com o objetivo de promover o desenvolvimento da região em bases sustentáveis e integrado ao manejo das unidades de conservação e demais áreas protegidas.

Turismo sustentável, extrativismo vegetal racional, agroecologia, agropecuária sustentável, conservação dos recursos hídricos e gestão integrada são os grandes eixos temáticos tratados no plano.  

Podemos dizer que, em termos de Brasil, o Mosaico Sertão Veredas-Peruaçu é protagonista, dentre os outros mosaicos, de iniciativas sustentáveis já bem estruturadas.

No que diz respeito ao Parque Nacional Cavernas do Peruaçu, já presenciamos um amplo envolvimento da comunidade com o parque, que agora, além das atividades agropecuárias tradicionais na região, enxerga na conservação da natureza uma importante fonte de geração de renda a partir do turismo sustentável. Este ano, inclusive, a região ganhou um novo projeto nesse sentido, o “Acelerando o turismo sustentável no vale do Peruaçu”, uma parceria do Instituto Ekos Brasil com o Fundo de Parceria para Ecossistemas Críticos (CEPF, na sigla em inglês).

Além do incentivo ao turismo sustentável de forma estrutural, o Parque Nacional Cavernas do Peruaçu também se destaca por ser uma das poucas Unidades de Conservação brasileiras detentoras de um Plano de Manejo, desenvolvido pelo Instituto Ekos Brasil, e que orienta o desenvolvimento sustentável na área do parque. 

Por fim, citamos também o acordo de Cooperação entre o Instituto Ekos Brasil e o ICMBio que proporcionou ao Parque um acompanhamento profissional e orientado da construção da sua infraestrutura, como o centro de visitantes e trilhas. 

[su_box title=”Veja o significado de Mosaico” box_color=”#6094a1″ title_color=”#ffffff”]

De acordo com lei do Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC), é reconhecido um mosaico “quando existir um conjunto de unidades de conservação de categorias diferentes ou não, próximas, justapostas ou sobrepostas, e outras áreas protegidas públicas ou privadas, constituindo um mosaico, a gestão do conjunto deverá ser feita de forma integrada e participativa, considerando-se os seus distintos objetivos de conservação, de forma a compatibilizar a presença da biodiversidade, a valorização da sociodiversidade e o desenvolvimento sustentável no contexto regional”.

O Ministério do Meio Ambiente (MMA) é responsável por reconhecer mosaicos, a pedido dos órgãos gestores das UC, conforme as diretrizes da  Portaria nº 482 de 14 de dezembro de 2010.

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Saiba mais sobre o Peruaçu. 

Acesse: fundoperuacu.ekosbrasil.org

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“Peruaçu ainda mantém populações numerosas de espécies (de aves) raras e ameaçadas de extinção”.

“Peruaçu ainda mantém populações numerosas de espécies (de aves) raras e ameaçadas de extinção”.

Entrevistamos o ornitólogo Wagner Nogueira para conhecer a profissão, seus desafios e sua experiência no estudo das aves do Parque Nacional Cavernas do Peruaçu. Confira na íntegra.

 

EKOS: Conte para nós como surgiu sua paixão pelas aves e como você se tornou ornitólogo.

Wagner. Acho que nasci biólogo. Desde que me entendo por gente era fascinado por qualquer tipo de bicho e por natureza em geral. Gostava mais de documentários da BBC do que qualquer desenho. O interesse pelas aves especificamente começou de forma não muito saudável, com as espécies criadas em cativeiro. A motivação era tê-las por perto, entende-las, mas isso me levou a cria-las em cativeiro durante boa parte da infância.  Mas foi só no fim da graduação que eu entendi que dava pra usar as aves para entender e mudar o mundo ao meu redor. Isso aconteceu quando, por influência de um amigo, comecei a estagiar no laboratório de Ornitologia do Museu de Ciências Naturais da PUC Minas. Nosso projeto consistia no monitoramento da avifauna do Instituto Inhotim. Em paralelo me envolvi com um grupo de observadores de aves em Belo Horizonte e participei da fundação da ONG ECOAVIS.

EKOS: Poderia nos dizer a importância do trabalho do ornitólogo?

Wagner. As áreas de atuação do ornitólogo são quase tão variadas quanto as áreas de conhecimento da biologia. Num gradiente que vai desde inventários e monitoramentos de aves até neurociência e cognição, passando por fisiologia, anatomia e uma infinidade de outros temas. Isso porque ser ornitólogo, por definição, é ter aves como objeto de estudo. Mais comumente o termo é utilizado para se referir aos ornitólogos de campo, que vão estudar as aves na natureza e acabam se especializando em sua identificação, distribuição, ecologia e história natural. Mesmo considerando essa definição mais restrita e frequente de ornitólogo, o trabalho desses profissionais tem implicações que vão muito além da ornitologia. Nos ajudam a entender os padrões de distribuição da biodiversidade e os processos por trás disso. Revelam como as alterações que provocamos nos ambientes naturais afetam a biodiversidade que habita nesses locais e podem nos ajudar a tomar decisões mais acertadas para a conservação da biodiversidade como um todo.

EKOS: Quais pesquisas você está realizando no momento?

Wagner. No momento a maior parte do meu tempo é dedicada ao meu projeto de mestrado, que é a revisão taxonômica de uma espécie de ave que vive em quase todo o leste da América do Sul, o arapaçu-grande (Dendrocolaptes platyrostris). Isso quer dizer que estou investigando se o que tratamos hoje como uma única espécie é mesmo só uma espécie ou se existem populações que merecem ser separadas em espécies à parte.

Em paralelo também participo de um projeto que pretende aprofundar mais nosso conhecimento sobre a avifauna das Florestas Deciduais da bacia do rio São Francisco, as chamadas “Matas Secas”. São florestas que perdem todas as folhas durante a estação seca e que tem uma fauna e uma flora muito peculiares e adaptadas a este ambiente de extremos.  As Matas Secas têm uma identidade controversa, sendo consideradas por alguns como uma fitofisionomia da Mata Atlântica, por outros como sendo parte do Cerrado ou ainda como um componente da Caatinga.

Cara Dourada | Foto: Wagner Nogueira

EKOS: Como você avalia a situação das aves em relação às queimadas atuais na Amazônia, no cerrado e no pantanal?

Wagner. Acho que a gente precisa começar falando que o fogo não é um elemento natural nas florestas tropicais. Ao contrário do que acontece no Cerrado, onde a fauna e a flora apresentam adaptações para lidar com ele, a biodiversidade da Amazônia, da Mata Atlântica e outras formações florestais, sofre perdas irreversíveis com a passagem do fogo. E mesmo no Cerrado, a época de ocorrência, periodicidade e extensão das áreas afetadas é muito diferente do que se observaria com o regime de queimadas de origem natural.

É um problema afeta não somente as aves, mas a biodiversidade como um todo e inclusive tem reflexos direto na vida das pessoas, pois a perda de cobertura florestal nessas regiões tem impactos diretos no clima e no regime de chuvas.

Além disso, o fogo nas florestas geralmente é precedido pelo corte seletivo da madeira de alto valor comercial e na sequência vem a supressão vegetal completa para abrir lugar para monoculturas e pastagens. Dessa forma, o fogo não pode ser encarado como um elemento isolado, ele é parte de um processo de descaracterização completa dos ambientes.

EKOS: Que ações poderíamos adotar para proteger e melhorar as condições de conservação das aves no Brasil? Você acredita na prática de birdwatching como uma atividade aliada à conservação das espécies?

Wagner. Acho que um ponto crucial seria frear a supressão dos ambientes naturais. Praticamente todas as espécies de aves brasileiras que se encontram extintas ou ameaçadas de extinção estão nessa situação por conta da perda de seus habitats. Fragmentos muito pequenos, descaracterizados e muito isolados podem até conseguir manter espécies sensíveis por algum tempo, mas nos médio e longo prazos elas acabam por se extinguir regionalmente. Se o panorama se repete ao longo de toda sua distribuição, o resultado pode ser a extinção completa.

A observação de aves pode ser uma ferramenta importante nesse processo, pois atua tanto fornecendo uma alternativa de geração de renda com a floresta de pé, quanto sensibilizando as pessoas para uma riqueza biológica que muitas vezes é desconhecida até mesmo pela população local.

Maria Preta do Nordeste | Foto: Fernanda Fernandes

EKOS: Nos conte um pouco sobre birdwatching no Peruaçu, quais espécies podem ser observadas por lá e suas especificidades, curiosidades.

Wagner. O Peruaçu ainda mantém populações numerosas de espécies raras e ameaçadas de extinção, especialmente as que são associadas às Matas Secas do rio São Francisco, como o arapaçu-do-nordeste, o arapaçu-wagler, o cara-dourada, o piolhinho-do-grotão e a maria-preta-do-nordeste. Além disso a região é o melhor local na atualidade para se observar o bacurau-do-são-francisco, uma espécie noturna que só existe na bacia do rio São Francisco. Lá também é possível encontrar espécies exclusivas da Caatinga, como o bico-virado-da-caatinga, o joão-chique-chique e o torom-do-nordeste.

E não dá pra deixar de citar os atrativos espeleológicos e arqueológicos do Peruaçu, que valeriam a viagem por si sós!

  1. Que mensagem você daria aos jovens estudantes de biologia ou áreas afins que pretendem seguir carreira no estudo de aves?

Wagner. Usem a tecnologia a seu favor. Atualmente, dá pra aprender muito na internet sobre basicamente tudo. Portais como o WikiAves, xeno-canto e Ebird proporcionam acesso a milhões de mídias que podem auxiliar no aprendizado sobre identificação, distribuição, ecologia e história natural das espécies. Artigos técnicos sobre os mais variados temos também podem ser acessados virtualmente e fornecer uma bagagem teórica a qualquer pessoa. Além disso, os pesquisadores brasileiros que trabalham com aves são, em geral, muito acessíveis e podem ser contatados até mesmo por suas redes sociais.

Para aqueles que tiverem oportunidade, visitar coleções e laboratórios de pesquisa também pode ser uma ótima oportunidade de conhecer sobre o que eles se desenvolvem e talvez se inserir em projetos de pesquisa e trabalhos de campo.

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Sustentabilidade financeira em Unidades de Conservação: o caso do Parque Nacional Cavernas do Peruaçu

Sustentabilidade financeira das Unidades de Conservação: o caso do Parque Nacional Cavernas do Peruaçu e o Instituto Ekos Brasil

 

Por:

Maria Cecilia Wey de Brito (Relações Institucionais),

Iago Paniza Rangel (Gestor Ambiental)

Ana Cristina Moeri (Diretora Presidente) –

Instituto Ekos Brasil

 

Em 2017, após desenvolver por 15 anos várias atividades no Parque Nacional Cavernas do Peruaçu (PNCP), criado em 1999, o Instituto Ekos Brasil participou de uma chamada pública e assinou um acordo de cooperação com o ICMBio, com duração de 5 anos. A partir de então, atuamos no parque com ações administrativas e logísticas executando o Programa de Uso Público da UC, previsto em seu Plano de Manejo, e também apoiamos  atividades de gestão socioambiental, de acordo com um Plano de Trabalho definido Ekos Brasil e ICMBio.

A boa notícia é que em apenas 3 anos, o número de visitantes ao Parque mais que dobrou. Se em 2016 foram 3.996 visitantes/ano, em 2019 chegamos em 9.337 visitantes/ano. Uma vitória, certamente.

Porém, mesmo com esse crescimento, o modelo de concessão ainda não é viável economicamente. Uma realidade comum a maioria dos parques que não atingem um número considerável de visitantes.

Por isso, fomos em busca de novas oportunidades específicas para o futuro da sustentabilidade financeira do Parque Nacional Cavernas do Peruaçu.

O estudo

Com apoio da UICN (União Internacional para a Conservação da Natureza), o Instituto Ekos Brasil desenvolveu, no final de 2018, a “Análise de oportunidades e proposta de modelos de negócios e parcerias para a sustentabilidade financeira do Parque Nacional Cavernas do Peruaçu/MG”. O estudo embasou arranjos legais para o aproveitamento sustentável das potencialidades econômicas do Parque, com melhoria das atividades de uso público e da conservação da biodiversidade, gerando benefícios sociais e econômicos para o entorno e considerando também o período pós acordo de cooperação.

Junto a possíveis parceiros, desenhamos modelos de geração de receita para o Parque como serviços ao visitante, arrecadação/captura de valor por serviços, patrocínio e projetos de impacto. Houve estimativa dos aportes necessários e seu tempo de retorno, em razão dos cenários de crescimento da visitação pública, e os custos de manutenção do negócio proposto. Apesar dos volumes de investimentos serem relativamente baixos se comparados ao potencial de geração de receitas, sua somatória num único exercício fiscal (se todos os modelos começarem no mesmo momento) poderia inviabilizar a capitalização plena dos projetos.

Para que esses modelos funcionem, portanto, a manutenção e o crescimento do número de visitantes no Parque são essenciais. Isso não nos deixa dúvidas de que o fortalecimento e estruturação da cadeia do turismo local e regional são questões centrais no debate de modelos de negócios para Unidades de Conservação. E consolidar atrativos naturais e culturais em roteiros, transformando-os em produtos turísticos são pontos-chave nesse desenvolvimento.

O Projeto 

Nesta lógica, o o Instituto Ekos Brasil, em parceria com o Fundo de Parceria para Ecossistemas Críticos (CEPF, na sigla em inglês), está desenvolvendo o projeto “Acelerando o Turismo Sustentável no Vale do Peruaçu”.

Com ele, buscamos desenvolver e fortalecer o turismo sustentável na região do vale do Peruaçu (APA e PARNA Cavernas do Peruaçu), por meio da qualificação das capacidades técnicas e de gestão de organizações da comunidade local, como forma de promover emprego, renda, valorização dos atributos ambientais e conservação da biodiversidade. O projeto ainda está em andamento (com previsão de encerramneto para abril de 2021), mas ao final a comunidade local (representada pelos 50 participantes) terá executado cinco protótipos, visando beneficiar de forma transversal o maior número de atividades ligadas ao turismo local. Tais protótipos serão desenvolvidos a partir de um processo de inovação coletiva, isto é, pensado, estruturado e executado pelos atores locais, o que é essencial para sua continuidade.

Embora importantes, destacamos que iniciativas como esta, isoladamente, não solucionarão todos os gargalos de estruturação da cadeia de turismo da região. Por isso, no intuito de colaborar na construção de uma agenda regional de desenvolvimento, o CEPF também apoiou a elaboração do Plano de Desenvolvimento Territorial de Base Conservacionista (DTBC) do Mosaico Sertão Veredas – Peruaçu, coordenado pela Funatura, do qual o PNCP faz parte. O plano objetiva promover o desenvolvimento regional integrado ao manejo das UC, abordando temas como extrativismo vegetal e turismo ecocultural.

 

Saiba mais sobre o CEPF

O CEPF é um programa conjunto da Agência Francesa para o Desenvolvimento, Conservação Internacional, União Europeia, Fundo para o Meio Ambiente Global (GEF, sigla em inglês), Governo do Japão e Banco Mundial, que financia projetos para proteção de ecossistemas únicos e ameaçados – conhecidos também como hotspots de biodiversidade. Em 2013, o Conselho de Doadores do CEPF selecionou o bioma Cerrado como um dos hotspots prioritários, e 8 milhões de dólares foram alocados para investimentos em projetos de conservação no período de 2016 a 2021.

O projeto “ACELERANDO O TURISMO SUSTENTÁVEL NO VALE DO PERUAÇU” é uma das diversas iniciativas do fundo na região.

Saiba mais sobre o projeto e entenda como contribuir.