Mulheres protagonizam projetos sociais e ambientais no bioma da Caatinga
Por Jéssica Fernandes e Cibele Lana
A Caatinga, em tupi guarani “mata branca” (por sua coloração em épocas de seca) comemora hoje, dia 28 de abril, o seu dia!
Exclusivamente brasileiro e característico da região Nordeste, esse bioma ocupa 11% do território nacional (844.453 km²) e apresenta uma grande biodiversidade, com destaque para fauna e flora com alta capacidade de adaptação durante os longos períodos de seca. São mais de 900 espécies vegetais, quase 600 espécies de aves e outras 178 de mamíferos e répteis.
A Caatinga abriga cerca de 27 milhões de pessoas que dependem de seus recursos naturais para sobrevivência. Com 80% do seu ecossistema original alterado pelo desmatamento e pelas queimadas, esse bioma precisa urgentemente de alternativas sustentáveis que busquem a boa convivência com o semiárido e que combatam a desertificação, um dos maiores problemas que acometem esta região.
Duas dessas alternativas são conduzidas pela Associação Rede de Mulheres Produtoras do Pajeú e apoiadas pelo Programa Ecomudança. Assim como outros, o Ecomudança é um programa que busca promover e implementar tecnologias sociais pelo Brasil a fim de melhorar a qualidade de vida das pessoas. No caso da caatinga, um grande contributo à diminuição do êxodo rural.
Com o foco em mulheres agricultoras, das zonas rurais e periféricas do Sertão do Pajeú, no interior de Pernambuco, a Associação Rede de Mulheres Produtoras do Pajeú trabalha em diversas frentes para aumentar a produção de alimento, gerar renda às famílias das agricultoras e proteger o meio ambiente por meio de formações e projetos que envolvem tecnologias sociais.
[su_quote]“Nossa atuação se dá em 11 municípios da região em um contexto marcado pela invisibilidade do trabalho das mulheres. Todas as agricultoras fazem o trabalho doméstico e nossa atuação não é reconhecida ou valorizada. Por isso, queremos empoderar as mulheres”, contou Ana Cristina Nobre dos Santos, uma das coordenadoras.[/su_quote]
Menos cinza e mais verde
Se tem uma questão que toca a todos na caatinga, e de forma especial às mulheres que zelam pela sobrevivência de suas famílias, é a água. Por isso, a Rede priorizou um projeto de tratamento e reutilização da água cinza, aquela que vai embora pelas pias e ralos e que, na região, pela falta de encanamento e saneamento, é desperdiçada e empoça nos próprios quintais das famílias, causando mau cheiro.
O projeto implementou biofiltros e agora a água cinza é reutilizada na rega de plantas frutíferas e nativas, aumentando a produção de alimento para as famílias de cerca de 22 mulheres agricultoras, sem contar os benefícios ao meio ambiente.
Elizabete Ferreira Nobre, também coordenadora da Rede não esconde o orgulho de desenvolver projetos com as mulheres da caatinga. [su_quote]“Escolher trabalhar com um público que foi excluído ao longo da história e poder fazer alguma coisa junto com elas é muito bom. E ainda poder cuidar do meio ambiente. Fico muito feliz de ter seguido esse caminho de trabalhar com as mulheres”. [/su_quote]
Água fonte de vida
O segundo projeto desenvolvido pela Rede de Mulheres Produtoras do Pajeú, com o apoio do Ecomudança, atende a um desejo antigo das mulheres da comunidade da região: a proteção das nascentes que abastecem o Rio Pajeú.
As nascentes estavam sofrendo com a ação de pessoas que vinham de todos os lugares buscar água e acabavam poluindo e entupindo a fonte. Sem cercamento, os animais também destruíam a mata ao entorno, prejudicando as nascentes.
Com o projeto, as nascentes foram cercadas e a mata ao redor, reflorestada.
[su_quote]“Hoje, as mulheres recebem visitas para conhecer as nascentes e destacam a questão ambiental na região. Com elas, já estamos vendo uma política pública junto à Câmara Municipal para proteção dessas áreas”, comemora Ana Cristina.[/su_quote]
O projeto tinha como foco principal cerca de 22 mulheres, mas o envolvimento foi tão grande que a formação social e ambiental chegou a quase 40 delas.
[su_quote]“Nesses últimos anos (ao trabalhar nesses projetos), tive a oportunidade de refletir sobre várias questões junto com as mulheres como reflorestamento e soberania alimentar, além de trocar muitas experiências cotidianas e do campo pessoal. Pude realmente conhecer a realidade de cada uma”, destaca Ana Cristina.[/su_quote]
E então, a ligação que proporcionava a nossa entrevista caiu. Logo depois, chegou a explicação. Um vídeo enviado por elas mostrava uma chuva torrencial que encharcava o solo da caatinga. Um presente especial para comemorar esse dia!
“A caatinga é uma bela adormecida.
Na seca dorme profundamente.
No inverno acorda para revelar toda sua beleza cênica.”
Rosangela Silva
Fonte dos dados sobre a Caatinga: https://www.mma.gov.br/biomas/caatinga/item/191.html