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[Especial Dia Mundial da Agricultura] Johanna Döbereiner: a mulher que transformou a agricultura brasileira. 

Cibele Lana 19 mar 2021

Especial Dia Mundial da Agricultura Johanna Döbereiner: a mulher que transformou a agricultura brasileira. 

A paixão pela ciência era tamanha que mesmo em seus últimos anos de vida, já acometida pelo Alzheimer, pedia à família que a levasse até o laboratório, onde se sentava à mesa, conversava e olhava para o céu. Johanna Döbereiner viveu 75 anos e podemos dizer que se dedicou à pesquisa em todos eles.

Indicada ao prêmio Nobel de Química em 1997, um feito para poucos, Johanna é reconhecida nacional e internacionalmente por suas descobertas que revolucionaram a agricultura.

Ao escolher a direção contrária na qual caminhava a pesquisa nos Estados Unidos, a cientista tcheco-brasileira estudou o uso de microorganismos na fixação de nitrogênio em culturas tropicais como a soja, técnica que ficou conhecida como Fixação Biológica de Nitrogênio.

“Tudo começou quando ela percebeu que havia gramas mais verdes que outras. Foi analisar e descobriu que essas mais verdes tinham bactérias fixadoras de nitrogênio vivendo em simbiose em suas raízes. Basicamente, ela descobriu que essas bactérias fixam nitrogênio e isso elimina o uso do adubo químico, aquele que vem do petróleo e que na época era importado do exterior”, conta Christian Döbereiner, filho de Johanna e  Conselheiro do Ekos Brasil, em entrevista exclusiva para o nosso site.

A descoberta alavancou a produtividade brasileira na agricultura e permitiu que o país eliminasse o uso de adubos químicos, levando à uma economia anual de mais de US$ 2 bilhões e à uma técnica que não gera passivos ambientais. Até hoje a soja e outras culturas são plantadas com essa bactéria e dispensa o uso de adubos químicos.

Resistente e persistente

O sucesso de Johanna, na visão de seu filho, foi fruto de muito trabalho e muita persistência.

Nascida em Aussig, na antiga Tchecoslováquia, sua família foi perseguida durante a Segunda Guerra Mundial, tendo que deixar o país com a roupa do corpo. Sua mãe, Margarethe Kubelka, morreu em um campo de concentração, o pai e o irmão saíram do país e Johanna viveu com os avós por alguns anos na Alemanha. Foi lá que trabalhou como operária rural, em contato direto com a terra e com a vida no campo.

Em 1950, já casada com Jürgen Döbereiner e formada em Agronomia, decidiu migrar para o Brasil, onde o pai já se encontrava. “O pai dela, que era químico e estava no Brasil, disse que a pior coisa que poderia acontecer com ela no Brasil era um coco cair na sua cabeça”, lembra Christian, bem humorado.

A cientista amou esse país, escolheu se naturalizar brasileira e foi aqui que desenvolveu toda a sua carreira, negando muitos convites para exercer sua profissão no exterior.

Começou a trabalhar no Laboratório de Microbiologia de Solos do Ministério da Agricultura, à época, depois foi pesquisadora assistente do CNPq e pesquisadora conferencista. Foi ainda vice-presidente da Academia Brasileira de Ciências e liderou a pesquisa da Embrapa Agrobiologia. Johanna foi autora de mais de 500 papers e recebeu dezenas de premiações, incluindo a já mencionada nomeação ao Prêmio Nobel de Química.

[su_quote]“O que a ajudou a vencer foi a persistência. Esses experimentos duravam 24h. Trabalhou demais. Além disso, não se preocupava consigo mesma. Tinha preocupação com a pesquisa e em desenvolver pessoas”, contou Christian.[/su_quote]

Além da persistência, a história de Johanna demonstra que ela foi também muito resistente. Após fugir da guerra em um continente devastado, foi cientista, mãe e mulher em uma época pouco favorável ao seu gênero. Precisou lutar por seu espaço, correr atrás de recursos para suas pesquisas, mostrar que era competente. “Minha mãe foi um ícone no tempo dela. Inspirou a família, os colegas, inspirou também a gente (os filhos). Ela e meu pai nos ensinaram a fazer o que gostamos, a fazer a coisa certa”, completou Christian.

Johanna viveu boa parte da sua vida em Seropédica, no interior do Rio de Janeiro. Não obstante sua importância nas ciências, permaneceu com uma vida simples, sempre ligada ao campo e ao lado do marido, dos filhos e netos. Faleceu aos 75 anos, em outubro de 2000.

O Instituto Ekos Brasil reconhece e homenageia essa grande mulher.

Leia também: “A ciência é sim uma atividade para as mulheres”

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