Entenda como a Suécia chegou ao ponto de importar lixo para gerar energia limpa
É fato que para o brasileiro e para o nosso poder público como um todo o lixo urbano é um problema, uma barreira, para o desenvolvimento de nossas cidades.
Aqui, cerca de 40% dos resíduos que produzimos vão para lixões, contaminando o subsolo e propiciando o alastramento de doenças. Isso quando boa parte não vai parar na ruas, córregos, rios, entupindo bueiros e provocando enchentes.
Até a década de 70, o lixo também era um problema na Suécia. Mas a boa vontade política e a iniciativa de transformar o problema em uma oportunidade deu certo. É o que mostra o artigo de Marco Tsuyama, que “destrinchamos”aqui.
Na Suécia, menos de 1% dos resíduos é aterrado. O lixo se tornou útil como combustível para a geração de aquecimento e eletricidade e para a reciclagem.
Com o frio intenso, o país precisa de muito aquecimento. E é justamente o lixo urbano o combustível das usinas térmicas. Em temperaturas mais amenas, as usinas chegam a ser abastecidas apenas com os resíduos. Quando a temperatura cai muito, os renováveis ajudam na geração de energia e só em último caso, os não renováveis.
A Suécia chegou ao ponto de aproveitar resíduos de outros países. Quem não tem como tratar o lixo, manda para os suécos e eles transformam em combustível. Um processo na prática de importação, mas que acaba retornando financeiramente como exportação.
Mas se você pensa que foi sempre assim, está enganado. Confira abaixo a linha do tempo de evolução no tratamento e utilização dos resíduos urbanos.
Meados de 1950
Para substituir as lareiras e pequenas caldeiras particulares, surgiram os sistemas de aquecimento centralizado, a fim de diminuir a poluição. Mas o combustível que alimentava esses sistemas era basicamente o petróleo. E isso persistiu até 1970.
1973 a 1979
Com a crise do petróleo, o país começou a buscar novos combustíveis como carvão e biomassa.
A Suécia cria suas primeiras leis e marcos regulatórios para a questão do lixo, que aumentava consideravelmente nas cidades.
1980 a 1985
Houve um boom de plantas waste-to-energy (plantas de geração teermica com incineração dos resíduos).
1991
O país aproveitou uma reforma tributária e criou o imposto sobre as emissões de carbono.
2000
A Suécia criou novos impostos sobre o aterramento de resíduos, mas a partir de 2002 foi proibido o aterramento de resíduos combustíveis, obrigando que o seu valor calorífico fosse energeticamente aproveitado para a geração de energia.
2005
Foi proibido o aterramento de resíduos orgânicos, dando mais força para a indústria do biogás e biometano. Na Suécia, a energia dessas indústrias alimenta ônibus, caminhões e parte da frota particular.
Próximas metas
Até 2018, a Suécia pretende conseguir separar metade dos resíduos alimentares e por meio dos biodigestores, gerar biometano.
Um plano nada impossível para quem, de 1991 a 2015, teve um aumento de 69% no PIB, enquanto reduziu 25% das emissões de GEEs.