E a Terra respirou…
Por Ciça Wey de Brito
Posso falar por mim, e acredito que todos os seres viventes no Planeta podem comprovar, que este será o primeiro dia da Terra, de todos os que já comemoramos, que este ente único do universo parece estar mais sossegado.
Após 31 anos, o Himalaia tornou a ficar visível na Índia com a redução da poluição
Tudo porque um microscópico vírus teve a proeza de fazer a humanidade se fechar em casa, consumir menos e dar espaço para seus co-habitantes do planeta saracotearem mais à vontade. O ar está mais limpo, sem a poluição dos automóveis, aviões, indústrias; as praias, baias, rios e lagos tem recebido menos efluentes, poluentes e esgoto, por que as pessoas têm saído menos, viajado menos; animais que são extraídos da natureza como os peixes e outros podem viver sua vida sem serem capturados por redes e armadilhas; o silêncio está mais presente, tornando possível que até os sons das profundezas do nosso planeta possam se fazer ouvir.
Para a sociedade ocidental contemporânea, o ato de chamar a atenção para a Terra é registrado como tendo sido ideia de um senador americano chamado Gaylord Nelson, depois que ele presenciou a destruição causada por um grande vazamento de óleo na Califórnia em 1969. Naquele ano, no dia 22 de abril, milhões de pessoas nos Estados Unidos saíram às ruas para manifestar em favor de um planeta mais saudável e sustentável. O resultado prático nos EUA foi a criação da Agência de Proteção Ambiental e atos como do Ar Limpo, Água Limpa e das Espécies Ameaçadas.
Mas, pelo jeito, já não se fazem mais senadores como esse… Apesar de termos registro de vários fatos que mostram como estamos maltratando a Terra, nosso meio de vida continua insustentável por causa do nosso consumo irresponsável.
Desde os anos 1970, a organização Global Footprint Network faz o cálculo da pegada ecológica e mostra o ponto máximo de uso de recursos naturais que poderiam ser renovados sem ônus ao meio ambiente. Este dia é chamado de dia da sobrecarga do Planeta. Em 2019 este dia foi 29 de Julho, três dias antes que em 2018 – e mais cedo do que em toda a série histórica. Ou seja, para mantermos o mesmo padrão de consumo atual, seria necessário 1,75 planeta Terra.
Em 2009 a Organização das Nações Unidas (ONU) reforçou a celebração do Dia da Terra chamando a atenção sobre nossa responsabilidade coletiva de promover a harmonia com a natureza e a Terra e alcançar um balanço entre economia, sociedade e ambiente. Disse na ocasião, o então Secretário Geral da ONU, Ban Ki-moon: “Quando nós ameaçamos nosso planeta, minamos nossa própria casa – e nossa sobrevivência no futuro”.
Outros sinais do nosso exagero consumista vêm sendo mostrados por grupos de cientistas como os refletidos pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) sobre a crise climática, pela Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES) sobre a deterioração dos serviços prestados pela natureza para o bem-estar humano como alimentos, água doce, regulação do clima, polinização, entre outros. O Planeta tem limites e estes devem ser respeitados. Crescimento e consumo infinitos são uma falácia, um suicídio coletivo.
Neste ano de 2020, com a pandemia do Covid-19 vivemos uma lição importantíssima, que mostra, dentre outras coisas, a nossa fragilidade como espécie.
Que possamos aproveitar esse dia da Terra para refletir e lutar por novas formas de produzir, de consumir, de conviver e de compartilhar. É a nossa chance de continuarmos como espécie neste planeta por muitos mais anos.