Crianças e natureza: um vínculo indispensável para o nosso futuro
“Sem vínculo das crianças com a natureza não há conexão, portanto as Unidades de Conservação devem ser ambientes que forneçam experiências agradáveis para as famílias”
Gestora de projetos em Áreas Protegidas, bióloga, mãe de dois filhos e há mais de 20 anos no setor ambiental, Erika Guimarães é entusiasta da relação criança e natureza, e aceitou o convite para conversar com o Instituto Ekos Brasil a respeito da temática. Apesar da vasta experiência, foi na maternidade que Erika se viu envolvida pela importância das Unidades de Conservação para o crescimento cognitivo, físico e emocional das crianças. Com a curiosidade aguçada, começou a estudar e compreender de que forma a natureza é capaz de transformar a vida dos pequenos.
A falta de vivência do ambiente natural é um dos maiores desafios atuais da sociedade, afirma a bióloga. De acordo com a UNICEF, 55% das crianças do mundo estão separadas da natureza e experimentam a falta de contato com a flora e a fauna no dia a dia, já que a maioria das crianças vive em áreas urbanizadas, dentro de apartamentos, convivem nas escolas com grama sintética e passam a maior parte do tempo em frente às telas. “O fato de ter contato com a natureza nos dá o vínculo com ela e sem vínculo você não tem conexão.”
Mas, por onde começar?
Se a falta de vivência impede a conexão da criançada, ela também pode reduzir de forma significativa a compreensão de pertencimento ao meio ambiente. Para aperfeiçoar essa relação, enquanto mãe, Erika percebeu ao longo dos anos que o importante é começar este contato por onde é possível.
“Caso tenha uma pracinha perto da sua casa, leve a criança para colocar o pé na areia, se sujar e brincar com a terra. Depois amadureça essa relação levando-a em um parque da cidade quando for possível e logo, quem sabe durante as férias escolares que se aproximam, uma Unidade de Conservação seja um espaço excelente para ela descobrir a grandeza da natureza e criar memórias que levará para sempre.”
Ela retrata que neste período de pandemia, uma das conclusões que podemos tirar é que estamos mais seguros em ambientes abertos do que dentro de uma sala fechada. Então, uma boa maneira de incentivar as crianças que tenham dificuldades em se aventurar nos ambientes naturais é fazer piqueniques ou festas de aniversários em parques.
“A lembrança que ela terá naquele espaço será guardada para sempre. Por exemplo, recentemente levei meu filho, hoje com 12 anos, para o parque onde celebramos seu aniversário de seis anos. Quando chegamos lá, ele me olhou e disse ‘como as pedras e o rio diminuíram!’. Cada vez que ele visitar aquele espaço terá uma nova experiência, mas aquele momento, quando pequeno, ele não irá esquecer. Então, coloque sua máscara, chame os amigos e leve os pequenos para uma nova aventura.”
Qual o papel das Unidades de Conservação?
Por fim, durante nossa conversa, Erika comenta que muitas famílias urbanas têm medo da natureza e que, portanto, é preciso que as Unidades de Conservação, as maiores áreas naturais protegidas, sejam ambientes acolhedores para as famílias e onde as pessoas possam viver uma experiência agradável.
Para isso, ela formula três orientações importantes para gestoras e gestores dessas áreas:
Ter uma recepção acolhedora:
“Costumo dizer que nossa sociedade não é muito tolerante com as crianças, porque criança fala alto, mexe nas coisas, então a primeira coisa é lembrar que você já foi criança, que há um potencial muito grande em ser criança.
Promover atividades direcionadas às famílias:
“Não precisa ser muita coisa, mas por exemplo ter um espaço de piquenique no parque, onde as pessoas possam esticar sua toalha e fazer um lanchinho ou uma festa de aniversário. Muitas vezes a pessoa chega até o parque por aquele convite de festas de aniversário e começa a conhecer a área e quer retornar!”
Entre em contato com as escolas:
“Direcionar projetos para, por exemplo, um dia da semana a escola abrir mão da sala de aula e se lançar no espaço aberto, como um laboratório, um espaço de aprendizagem ativa na natureza. Então fazer essas parcerias e mostrar para os outros que os parques estão abertos para todos os públicos, não só aqueles montanhistas, os aventureiros, mas também para os idosos, para as crianças e suas famílias.”
Recordar da potência de ser criança e como a natureza acompanha as transformações da nossa vida podem ser os primeiros passos para conscientizar as pessoas sobre a importância de preservar o meio ambiente e criar espaços acolhedores todos, em especial para o nosso futuro: as crianças.