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Bioeconomia e REDD+ para manter a Amazônia em pé

Cibele Lana 02 set 2022

Em recente viagem à campo, nossa colaboradora Danielly Mello Freire teve a oportunidade de retornar à região amazônica, na divisa do Pará com o Amapá, e ver de perto como os benefícios sociais e ambientais de um projeto de créditos de carbono de REDD+ transformam a vida de uma comunidade local.

Para celebrar a Amazônia e boas iniciativas que a mantém em pé, entrevistamos a Dany, que mora em São Paulo, e gentilmente nos contou suas percepções sobre a viagem, o projeto e o bioma.

Confira!

Dany, o que te levou à Amazônia?

Fui representando o Instituto Ekos Brasil em uma visita técnica ao Projeto REDD+ Jari, organizada pela desenvolvedora de projetos, parceira do Compromisso com o Clima, Biofílica Ambipar Environment e pela também proponente do projeto, Fundação Jari. Nosso objetivo era ver de perto os benefícios do projeto e poder apresentar aos nossos clientes seus indicadores socioambientais, para além do carbono.

A visita foi conduzida pelos colaboradores da Fundação Jari. E aqui cabe destacar o trabalho incrível dessa fundação que, além de outras tantas iniciativas, mantém o Museu Jari com uma das maiores xilotecas do mundo – um vasto catálogo de espécimes dessa região amazônica.

E o que mais você viu por lá?

Particularmente foi muito especial ver uma parte de uma área gigantesca, de mais de 1.200.000 hectares de floresta, gerida basicamente com bioeconomia. De fato, dentro do Projeto REDD+ Jari existem outros pequenos projetos, como uma fábrica de farinha para a fabricação de tucupi, goma de tapioca, etc. Essa fábrica contou com uma parceria da Embrapa que realiza testes para selecionar as melhores espécies de mandioca e aumentar a produtividade. Muitos comunitários locais conseguiram implementar um Sistema Agroflorestal, sendo uma possibilidade o cultivo da mandioca em fileiras entre o eucalipto.

Unidade Comunitária de Produção de Farinha

Com SAF houve aumento de nutrientes no solo, com possibilidade de plantio de múltiplas variedades alimentícias proporcionadas pela floresta e isso diminuiu, inclusive, a queima da vegetação para recuperação do solo, como prática anterior ao SAF realizada pelos comunitários. Esse fomento e disseminação de conhecimentos técnicos, alinhado ao conhecimento tradicional dessas famílias, fomentado pela Fundação Jari, aumenta a disponibilidade de bio produtos para comercialização.

Apenas para citar mais uma história, essa comovente, falo da Dona Sandra que antes dos incentivos do projeto não tinha produção de alimentos nem mesmo para subsistência de sua família e nem fonte de renda para se manter. Vivia com dívidas e dependente do apoio de vizinhos comunitários. O projeto trouxe ferramentas e conhecimento para que ela pudesse transformar sua residência em um espaço com produção por SAF, hortaliças, criação de aves, porcos e peixes. Hoje eles vivem bem do que conseguem extrair da terra e tem barraca em feiras locais para venda de seus produtos. 

REDD+ Amazônia
Dona Sandra em sua propriedade.

Ainda assim, dentro da área do projeto, ela sofre pressão por madeireiros ilegais no entorno de sua propriedade. Por isso, a Dona Sandra, entre tantos outros comunitários, são agentes de vigilância da floresta, pois ela denuncia essas invasões que acontecem ao redor de sua propriedade à Fundação Jari.

Você conheceu uma madeireira legal na região, não é mesmo? Como foi essa experiência?

Sim. Pessoalmente, não é fácil ver aquele clarão no meio da floresta com um monte de tora de madeira. Mas a madeireira que visitei era certificada, com manejo florestal. Mostraram, por exemplo, que há funcionários responsáveis apenas por traçar a rota pela qual a árvore deve cair para que derrube o menos possível ao redor e abra espaço, inclusive para que as árvores mais jovens cresçam com essa incidência de sol.

Uma das causas de perda de rastreabilidade de madeiras ilegais é que as madeireiras ilegais vendem direto para os moveleiros, por exemplo. Por isso, é importante que essas empresas certificadas cheguem antes para oferecer seus produtos. Não temos como ficar sem madeira, portanto temos que fazer com que a madeira chegue até nós, consumidores, de maneira manejada e certificada.

Ali perto, conheci também um artesão que trabalha apenas com madeira essa certificada do projeto Agregue, também parte da Fundação Jari, e que me contou como isso aumenta o valor agregado da sua arte.

Dany, você já tinha estado na Amazônia outras vezes. O que viu de diferente nessa região?

Quando cheguei no Acre pela primeira vez, pude conhecer a Amazônia através da lente da vivência de povos originários, em uma terra indígena protegida, um lugar mágico. A sensação foi de conhecer um pedaço de terra totalmente aquém das problemáticas atuais. 

O Acre tem uma questão importante, que por mais que tenha muitas áreas protegidas, ainda sim há desequilíbrio na biodiversidade, pois essas terras são cercadas por muitas grandes fazendas agropecuaristas. As áreas conservadas não se conectam mais, ou seja, são pequenas APs espalhadas pelo estado. Um retrato muito prático sobre esse desequilíbrio ambiental é a quantidade de picadas que se leva, diferente do que aconteceu visitando essa área do Jari Pará-Amapá com pouquíssimas picadas.

A emoção de estar na floresta amazônica, independente do estado, é a mesma. Se perde a noção de tempo e é possível ver a vida com outros modos de se viver. Isso acontece toda vez que eu vou para o norte ou me conecto a algum povo tradicional.

Dany visitando a região amazônica – Pará-Amapá

Dessa vez, por mais que eu já soubesse do projeto e da imensidão da área conservada, eu ainda assim me senti muito pequena e fazendo muito pouco do que é necessário para manter a floresta em pé. É preciso muito mais, mais esforço, mais investimento, mobilização. Afinal, estamos em uma contagem regressiva para reverter a crise climática na qual nós mesmos nos colocamos.

Existem políticas que devem ser adotadas, mas precisamos cada vez mais de mais satélites e mais tecnologia olhando para esse território. E precisamos fomentar políticas públicas de proteção aos povos que vivem na floresta, como ribeirinhos, indígenas, quilombolas. pois são essas pessoas que mantêm a floresta em pé e conservada.

Compromisso com o Clima é onde projetos socioambientais e empresas conscientes de seu papel social se encontram com o propósito de realizar planos de longo prazo para o planeta.

Com o apoio de grandes parceiros, o programa Compromisso Com o Clima vem expandindo seu alcance e segue com o propósito de engajar o setor privado em ações de responsabilidade climática.

Fazemos isso porque acreditamos que, agindo de forma colaborativa, nossas ações têm maior impacto e apontam para um futuro cada vez mais sustentável.

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