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Reserva Pinho Bravo: um exemplo a ser comemorado de conservação da Mata Atlântica

Ekos Instituto 27 maio 2025

Recentemente, a ONG SOS Mata Atlântica divulgou seus dados anuais sobre o desmatamento do bioma. Chamou a atenção uma redução de 27% no desmatamento em comparação com os dados do ano anterior. Uma ótima notícia para quem procura conservar o bioma mais desmatado do país, do qual restam apenas 24% da cobertura original.

Taxa de desmatamento e tendência para a série histórica de mapeamento – Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica Período 2022-2023, Fundação SOS Mata Atlântica e Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE)

É estimado que existam mais de 1.300 fragmentos de Mata Atlântica com mais de 1.000 hectares e que a maioria dos remanescentes tenha menos de 50 hectares. Essa enorme fragmentação é um problema para a manutenção saudável da floresta. Sem conectividade adequada entre os fragmentos, muitos processos ecológicos são perdidos e a manutenção de espécies é significativamente prejudicada.

Como imaginar uma onça-pintada por exemplo vivendo em uma região com pequenos fragmentos de floresta cercado de pastos, ou canaviais ou casas de veraneio?

Da parte da iniciativa pública, a criação das várias Unidades de Conservação (UCs) para proteção de extensões maiores de vegetação nativa é muito importante.  No caso da Mata Atlântica, alguns proprietários conservam a vegetação em suas propriedades e vários vêm constituindo Reservas Particulares do Patrimônio Natural ou outros tipos de Reservas que não fazem parte do Sistema Nacional de Unidades de Conservação.

Dos 24% remanescentes do bioma Mata Atlântica, estima-se que 80% estejam em propriedades privadas. Vemos aí a importância de iniciativas de conservação por entes privados para a conservação desse patrimônio nacional.

Um exemplo a ser comemorado é o da Reserva Pinho Bravo, uma área linda e de grande extensão na Serra da Mantiqueira, situada entre os municípios de Campos do Jordão e São Bento do Sapucaí, em São Paulo. No interior dessa reserva particular existem vários tipos de paisagens — como florestas, campos de altitude, matas de araucárias, entre outros. A Reserva ajuda a conservar a vegetação nativa e a manter a conexão entre áreas protegidas próximas, como o Monumento Estadual da Pedra do Baú e o Parque Estadual Campos do Jordão. Na Reserva Pinho Bravo também estão sendo realizadas diversas pesquisas científicas e atividades de turismo sustentável, que ajudam a movimentar a economia local de forma responsável.

Um estudo ainda em andamento pelo Instituto Ekos Brasil em parceria com a Geonoma Consultoria Ambiental observou que quase dois terços da Reserva são cobertos por matas nativas em diferentes estágios de regeneração e que 80% da área é ocupada por formações nativas, ou seja, florestas (70%) e campos (10%). Muitas das espécies de plantas identificadas podem existir apenas nessa Reserva, pois ainda não foram registradas nas Unidades de Conservação ao redor. Isso indica que a flora dessas áreas ainda não foi completamente estudada — ou que a Reserva Pinho Bravo realmente protege espécies que desapareceram dessas áreas. Inclusive, há potencial para encontrar espécies raras, exclusivas da região, ou até mesmo novas para a ciência, principalmente nos chamados Campos de Altitude, que ficam em altitudes elevadas e têm vegetação bem característica, com alto grau de exclusividade e que estão protegidas na Reserva.

Leia também: Ekos e IEF adotam protocolo de monitoramento da biodiversidade no PERD aos moldes do Programa Monitora do ICMBio

Por estar localizada em uma área muito específica da Mata Atlântica, em uma das partes mais altas da região, pode-se dizer que a Reserva Pinho Bravo tem um papel muito importante dentro da rede de áreas protegidas da Serra da Mantiqueira, contribuindo para manter a variedade de ecossistemas e aumentando a capacidade da natureza de se adaptar a mudanças, inclusive  mudanças climáticas.

Enquanto celebramos a iniciativa da criação da Reserva Pinho Bravo que se mostra aderente à realidade e olha responsavelmente para as crises climáticas e de perda da biodiversidade, fazendo parte da solução dos dois maiores desafios de nossos tempos, o Senado aprovou o PL 364/2019 que flexibiliza a legislação ambiental. O PL enfraquece especialmente a conservação dos ambientes não florestados, como os Campos de Altitude que fazem parte da Mata Atlântica, patrimônio nacional. Esses campos são ecossistemas raros, muito especializados e sensíveis, então precisam de proteção urgente.

O Instituto Ekos almeja que, no futuro, possamos falar de mais exemplos como o da Reserva Pinho Bravo, que merecerão um lugar muito mais valorizado em nossa história.  

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