Mariana e Brumadinho: especialista em fauna destaca importância do Monitoramento da Biodiversidade para recuperação ambiental
Na última década o Brasil sofreu dois dos maiores desastres ambientais de sua história envolvendo atividades de mineração: o rompimento da barragem de Fundão (em Mariana) da Samarco, na bacia do rio Doce, em novembro de 2015; e o rompimento da barragem do córrego do Feijão (em Brumadinho) da Vale, na bacia do rio Paraopeba, em janeiro de 2019.
Ambos causaram uma série de impactos socioambientais inestimáveis e sua recuperação envolve desafios, desde o levantamento e conhecimento dos impactos gerados, que eventualmente irão persistir nos próximos anos, até as próprias ações de reparação junto à sociedade e ao ambiente, que são urgentes e ao mesmo tempo demandam longo processo para medir os resultados.
Uma importante ferramenta nesse contexto é o Monitoramento da Biodiversidade, que permite conhecer e fiscalizar os impactos no ambiente e acompanhar a recuperação ambiental. Tal monitoramento faz uso da ciência e de métodos científicos para construir perguntas plausíveis, elaborar hipóteses e trabalhar com condições testáveis.
À frente desses estudos de monitoramento de Mariana e Brumadinho está Adriano Paglia, especialista em fauna, professor da UFMG e parceiro do Instituto Ekos Brasil.
Paglia compartilha as principais lições aprendidas com esses desastres. “Sempre existe um trauma inicial que afeta todos. E logo depois desse grande trauma, do ponto de vista ambiental, surgem demandas às vezes conflitantes de estudos, análises e coletas de dados que, se feitas de maneira equivocada, podem não ser capazes de dar resposta alguma, como eventualmente produzir respostas que sejam contraditórias entre si e que não contribuem para a compreensão do impacto e para a eventual reparação do dano que foi feito”.
Para o especialista, um bom aprendizado, inicialmente, é “respirar” um pouco, olhar todo o cenário. “Mas a partir disso, usando a ferramenta científica, construir programas que sejam capazes de efetivamente responder às questões. Porque, caso contrário, será um grande desperdício de tempo e recurso”, completa.
Envolvido com tais tipos de estudos antes mesmo dos desastres de Mariana e Brumadinho, Paglia também tem um trabalho consistente ao longo de anos que avalia a qualidade e a consistência técnica de monitoramentos de biodiversidade em áreas atingidas.
De acordo com o especialista, “devemos ser capazes de usar da boa ciência, usar do método científico para construir perguntas plausíveis das quais seja possível extrair hipóteses sólidas que gerem predições testáveis”. De maneira que o monitoramento da biodiversidade em situações como essas deve ter como objetivo a “compreensão das consequências não apenas do rompimento em si, mas da restauração que está sendo realizada” e como a biodiversidade responde a essas consequências.
“Quais seriam esses impactos que ainda persistem na bacia do rio Doce em função do rompimento, quais seriam bons indicadores biológicos para monitorar esses impactos e o que se esperaria que fosse o resultado desse impacto ao longo do tempo”
No caso dos estudos de monitoramento da biodiversidade na Bacia do Rio Doce, Paglia destaca que as análises têm gerado uma grande quantidade de informação biológica. “E alguns resultados são muito interessantes”, diz.
“A quantidade de informação biológica que tem sido gerada sobre a biodiversidade na bacia (do rio Doce) é muito grande. Os resultados são muito interessantes, especificamente os relacionados à biota aquática, mas também alguns estudos sobre padrões de ocorrência da fauna e da flora na bacia.”
Há um aumento do conhecimento sobre a biodiversidade da bacia do rio Doce “e isso precisa estar acessível, disponível, em formato que seja de fácil compreensão”
Por isso, Paglia ressalta que, assim como tem sido feito na Bacia do Rio Doce, “É preciso confrontar sempre com dados, informações, estudos bem qualificados. É preciso investimento na ciência”, finaliza.
O Instituto Ekos Brasil agradece a colaboração de Adriano Paglia.
Entre em contato caso tenha interesse em um estudo de monitoramento da Biodiversidade de qualidade e consistência científica.